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Tem uma piada velha do capataz da fazenda que liga para o dono e conta:
- Seu Zé, pegou fogo no galpão e morreram dois cavalos!
O seu Zé dá uma bronca e ensina o capataz que ele não deve sair dando notícia ruim sem preparar o espírito antes. Como o capataz não entende, ele exemplifica:
- Primeiro você diz que o gato subiu no telhado, depois você conta que está complicado de tirar ele de lá, e finalmente você conta que o gato morreu.
Entendido o recado, numa próxima ligação o capataz relata:
- Seu Zé, sua mãe subiu no telhado.
Eu lembrei dessa piada no momento em que planejamos 2021. O que esperar desse ano?
Havia toda uma expectativa de já termos passado pelo pior da pandemia a esta altura. O aumento do número de casos indica que estamos indo para uma segunda onda.
Será que 2021 subiu no telhado?
Um ponto que me chama a atenção é que os casos estão mais próximos do meu círculo de relacionamentos. Na primeira fase da pandemia era mais raro conhecer alguém que tinha pego Covid. Agora isso se tornou diário.
É um cliente que me conta que pegou da dentista. Meus filhos que relatam sobre amigos que pegaram COVID. A onda ainda não está do tamanho da primeira, mas a sua velocidade e, principalmente a sua proximidade, acendem todos os sinais de alerta.
A coisa só não virou ainda numa restrição mais séria porque o interesse eleitoral está, infelizmente, se sobrepondo ao interesse da saúde. Escrevo isto com a tranquilidade de só postar isto pós segundo turno, portanto, sem nenhum viés político.
O ponto que me interessa aqui é como isso vai impactar a economia e os negócios, e quais os possíveis reflexos para o ano que se avizinha.
Temos notícias muito promissoras de várias vacinas. Tudo indica que esta batalha será vencida pela ciência, mas até as vacinas estarem disponíveis no tempo e na quantidade necessária, parece muito provável que pelo menos o primeiro trimestre de 2021 seja ainda fortemente impactado.
Difícil planejar algo com essa incerteza não?
A única certeza é que manteremos os escritórios fechados até que melhores notícias estejam disponíveis e seja possível um retorno seguro.
Como comentamos no post “A Volta dos que não foram”, nós adotamos o modelo do CoWorking, com os recursos trabalhando em Home Office e indo ao escritório sob demanda, ou quando quiserem sair de casa. Ainda não usamos este novo modelo, a pandemia continua nos impondo o HO.
Sem dúvida 2020 será um ano perdido em muitos aspectos, principalmente na educação básica, e em indústrias como a de turismo e aviação.
No post “A Teoria da Cenoura” eu comentei sobre as teorias X e Y, do Douglas McGregor e como a cenoura era a prática mais comum para quem pratica a X e como o Home Office seria um indicador pela preferência da teoria Y, que opera mais com a confiança nos colaboradores.
Vi recentemente a oferta de várias soluções para melhor adaptar a empresa aos tempos de HO, lamentavelmente alguns operam na base da Teoria da Cenoura, operando sob a premissa da desconfiança e da necessidade de controle.
São soluções que gerenciam, por exemplo, se o recurso está conectado, a quanto tempo, e se está fazendo algo, ou simplesmente largou o micro conectado. É muita micro gestão para o meu gosto. Melhor não ter um funcionário que precise desse tipo de ação para produzir.
O Fábio Alves me fez uma pergunta por conta do post da Cenoura:
E qual teoria vocês aplicam na sua empresa?
Acho que estamos mais voltados para a Teoria Y. E acho que o HO potencializou isso de forma drástica. Simplesmente não dá mais para saber se alguém está ou não trabalhando. Não há mais o olho do dono, e aparentemente, ele não está fazendo falta.
Acredito que o ano que vem será um período para consolidar o que foi acelerado a fórceps pelo vírus. O HO e modelos híbridos serão melhor testados em condições normais de trabalho.
Nas demais ações para o ano que vem, ainda está tudo muito nebuloso. Como sou assumidamente otimista, acho que será um ano de recuperação, ainda que o gato pareça ter ido para o telhado.
Nuno Figueiredo
Engenheiro Eletrônico formado pela Mauá, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, é um dos fundadores da Signa, onde atua desde 95. Entre outros defeitos, jogou rúgbi na faculdade, pratica boxe e torce pelo Palmeiras.
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Ultimos comentários
Sim, para os que sobreviverem!
Excelente artigo!! É lamentável mesmo que o foco estava nas eleições do que na saúde.
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