Reféns da falta de opção

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por

Nuno Figueiredo

30 de jul de 2019

· 6 min de leitura

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Há pessoas desonestas em todas as profissões. Quando generalizamos já começamos errado. Isto posto, lamento que minha experiência com empresas que vendem e instalam pneus sempre foi péssima. A coisa, pelo menos comigo, opera sempre no limiar do que seria ético.

Não afirmo que todo o mercado seja assim. Já me desculpo de antemão com quem possa se ofender por não se enquadrar neste caso, mas ou eu sou muito, muito azarado, ou há algo de podre no reino da Dinamarca quando precisamos desse tipo de serviço.

O primeiro carro que eu comprei foi um Voyage usado num leilão do Banco Francês e Brasileiro, onde eu iniciei a minha carreira. Eu achava o carro muito duro. Qualquer buraco que eu passava parecia que eu tinha perdido a roda pela pancada.

Comentei isso com meu pai e ele me aconselhou a ir ali perto de casa numa dessas redes especializadas em pneus. Eles fizeram um diagnóstico grátis e eu troquei molas, amortecedores, entre outros itens apontados. Gastei muito, mas era para deixar o carro em ordem. Não resolveu nada. A sensação era a mesma.

Reclamei com o meu consultor paterno. Ele disse que ia resolver isso pessoalmente. Pegou a nota fiscal dos serviços e levou o carro no mesmo lugar. Eles ofereceram o mesmo diagnóstico grátis e sugeriram a troca das mesmas peças. O meu pai mandou fazer. No final quando eles foram cobrar ele chamou o gerente, mostrou a nota fiscal e falou um monte. Era quase um caso de polícia. No final me resignei que o carro era assim mesmo.

De lá para cá, já se passaram mais de vinte anos. Não troco pneu todo dia, mas já o fiz pelo menos umas três vezes ao longo desse período. A última por sinal foi hoje, o que motivou a escrita deste post, feito em 18 de julho de 2019.

Eu pesquisei os preços para trocar os pneus do Honda Civic da Signa. Encontrei o melhor preço numa promoção e comprei junto um combo de serviços: alinhamento, balanceamento, os bicos de segurança, enfim, o necessário e comum de ser feito quando se trocam os pneus.

Confesso que o meu espírito já estava armado. Fui lá deixar o carro de manhã cedo, já preparado para negar outros serviços ‘necessários’ que seriam diagnosticados. Numa troca anterior me sugeriram a necessidade de trocar as pastilhas e os discos do freio que eu tinha trocado há pouco tempo e tinha menos de 5 mil Km rodados desde então.

Para minha surpresa, confirmaram o orçamento e não foi proposto nenhum diagnóstico. A sorte não durou muito. Incluíram um item que não estava no orçamento: o alinhamento traseiro. O consultor me explica que carros mais básicos só possuem alinhamento na frente, mas o Civic precisa também do alinhamento traseiro e isso inseriu mais R$ 110,00 no preço. Eu até comentei que tinha mencionado que os pneus eram para o Civic e isso deveria ter sido contemplado, mas até aí ok, não aumentou muito o custo. Relevei e deixei o carro para pegar no fim da tarde.

Eis que me ligam no meio da tarde. Fizeram a maravilha não requisitada do diagnóstico completo. O consultor começou me dizendo que precisava trocar as pastilhas e os discos de freio e antes que ele fosse para o próximo item da lista eu o interrompi. Falei a ele que esse carro tem todas as revisões em concessionária. A última feita há seis mil quilômetros atrás.

O consultor ainda ia argumentar, mas eu já estou escaldado. Pedi a ele que se atenha ao que já foi contratado, qualquer outro serviço necessário pedi que ele faça a gentileza de anotar que eu passarei na concessionária para reclamar da última revisão feita, que não poderia ter omitido esses itens. Ainda mais um freio! Tem coisa mais sensível para a segurança de um carro que o freio?

Já falamos aqui sobre esperar o melhor e o pior das pessoas no post “Nem sempre o picareta tem cara de mau”. Eu não tenho como afirmar que o sujeito está sendo desonesto, mas a coisa toda sempre me parece, no mínimo, esquisita.

Eu tenho essa experiência ruim com alguns serviços. Novamente peço desculpas com quem trabalha direito e de forma ética nesse mercado, mas esse é o meu histórico. Esse também é o histórico da grande maioria das pessoas com as quais eu me relaciono, quando comento a respeito deste tema.

Isso ocorria também com táxi, para dar outro exemplo. Tive várias experiências ruins em diferentes cidades, com algum taxista que resolveu virar “guia turístico” e dar uma volta maior. Sendo justo no caso dos táxis não é tão generalizado quanto no dos pneus, mas ocorria com um percentual significativo. Você tinha que ficar esperto.

Uso isso no passado em relação ao Táxi porque desde que inventaram o Uber eu só uso esse serviço. A experiência é sempre melhor. Não tenho um único caso de motorista tentando me enrolar. Com o táxi tenho pelo menos uma dúzia de exemplos em diferentes cidades onde precisei.

Antes quando você pegava um táxi, e se o motorista não sabia o caminho, você ficava preocupado. Agora é o oposto. Dá medo de quem sabe o caminho, ou mais precisamente de quem não usa o Waze.

Claro que existem as empresas e os profissionais decentes nestes mercados, mas tenho o ‘achismo’ que a prática disseminada gera a má fama.

A forma de contratação as vezes é que estimula ou inibe a prática. Por exemplo, no aeroporto você pode contratar o táxi já com o valor pré-definido e pré-pago. Nunca tive nenhum problema nesta modalidade porque não há incentivo para prolongar a viagem. Talvez o Uber seja menos sujeito a essas práticas pela forma como o serviço é contratado.

No caso do pneu coisa continua por pura falta de opção. Quando surgir um serviço mais confiável não tenho dúvidas que vai nadar de braçadas.

 

 

Nuno Figueiredo

Engenheiro Eletrônico formado pela Mauá, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, é um dos fundadores da Signa, onde atua desde 95. Entre outros defeitos, jogou rúgbi na faculdade, pratica boxe e torce pelo Palmeiras.

 

Foto: Freepik

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Ultimos comentários

Daniel Oliveira

Nuno, 200% de acordo com seu ponto de vista! Empurrar outros serviços (normalmente não necessários) não gera novos clientes, somente faturamento pontual.

Guilherme Nascimento

Meu amigo, infelizmente essas redes de pneus grandes treinam suas equipes para "empurrar" serviços ao cliente. Dito por um ex gerente de uma dessas empresas, bem conhecida. Compre os pneus pela internet, é bem mais barato e instale na Two Brothers, na Lapa, ou na Pneus Paulista no posto Shell ao lado da Fundação Carlos Chagas. Posso te passar os contatos nas duas.