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Diz o ditado que o diabo está nos detalhes. Adaptando o ditado para o transporte de Carga Fracionada, eu diria que o diabo está na quantidade de volumes.
Existem duas dimensões difíceis de lidar quando falamos de carga fracionada: o controle do custo e como lidar de forma eficiente com um alto volume de cargas.
Ao contrário da carga completa, na operação fracionada não temos a certeza de que usaremos bem os veículos alocados. Numa operação tradicional esta operação é decomposta em três pernas: a coleta, a transferência e a entrega. É possível terceirizar uma parte ou até todo o transporte, ainda assim quem pegar o bastão vai chegar nas inevitáveis três pernas do transporte.
Isso é o mínimo, mas pode haver mais. Não raro uma carga pode passar por mais de um processo de transferência ou de entrega.
Há um controle direto sobre o quanto se cobra, mas há muita incerteza a respeito dos custos envolvidos nas várias pernas, sejam estas feitas com veículos próprios ou com veículos subcontratados. Não é possível prever qual será o índice de ocupação dos veículos envolvidos. O mais prático é trabalhar com a dimensão R$/kg no preço e no custo, ainda assim, não é simples medir a eficiência e a lucratividade de uma operação fracionada.
Uma forma simplificada de obter o custo é precificar cada deslocamento do veículo de forma a ratear o seu custo pelos documentos envolvidos. Um único documento de receita (CTE) passa a ter até três componentes de custo direto: Coleta + Transferência + Entrega, mesmo que cada um destes componentes possa ter mais de uma ocorrência, como no caso de 2 transferências para a mesma carga.
Não tenho a intenção de descer no nível matemático da coisa, meu ponto é tornar clara a complexidade. Os principais pontos a serem considerados:
Se você ainda usar Frota Própria ainda entra no tema de como usar de forma eficiente esses ativos. Escrevemos a respeito desse tema no Post Dicas para chegar aos resultados para quem tem frota própria.
A gestão eficiente de custos é fundamental em qualquer negócio. Na carga fracionada é comum os centavos fazerem a diferença, porque o volume é considerável, logo qualquer item impacta o resultado final de forma mais contundente.
Outra questão muito relevante é o volume de cargas. O processo de documentação se torna mais moroso. Não é só a emissão do CTE, a impressão do DACTE, a impressão das etiquetas (uma para cada volume), manifestar as cargas, mas o tempo que cada processo demanda.
Falamos a respeito de como o volume pode trazer o caos para processos que não contemplem esta preocupação no Post Tempos Velozes III.
O tempo não é critico para um documento, mas quando você precisa emitir dois mil CT-es por dia, por exemplo, os gargalos se tornam evidentes. E olha que eu não estou falando dos maiores players, pois existem empresas que emitem cerca de 200 mil CT-es em um único dia.
Para isso ferramentas como robôs, que permitem o processamento em lote, e de forma assíncrona, deixam de ser uma mão na roda e passam a ser essenciais.
Para citar alguns exemplos, abaixo descrevo alguns processos em lote necessários ao Operacional:
Isso não contempla todos os robôs necessários num TMS que trate a Carga Fracionada. Por exemplo, o robô que permite o faturamento automático de documentos é outro exemplo de uma ferramenta muito importante para a operação.
Finalmente, é comum a terceirização de parte da demanda. Se a operação envolver o modal aéreo há a necessidade de gerir a cia aérea e o agente. Já detalhamos este caso no Post O TMS para o Rodo Aéreo.
No caso do redespacho, principalmente, há muita subcontratação de parceiros que cuidem da entrega em regiões não atendidas pela empresa. Neste momento o transportador se porta como um Embarcador ou um Operador Logístico.
A necessidade de gerenciar e auditar o frete subcontratado por si só já tem os seus vários procedimentos e, novamente, o volume de notas e documentos a serem auditados torna a necessidade de ferramentas que automatizem o processo algo imprescindível.
Os gargalos que advém do crescimento de uma operação de carga fracionada nem sempre são visíveis. Às vezes, os resultados começam a piorar conforme o volume aumenta. Parece que, quanto melhor o desempenho do comercial, mais carga entra para ser transportada, porém, o lucro começa a ir na direção contrária. A velocidade e dinâmica da operação geram muitos ruídos operacionais e, no meio desse barulho, é difícil parar e diagnosticar onde há o desarranjo, e quais são os gargalos.
Você tem a bússola do resultado indicando que há um desvio de rota e nessa hora você passa a concordar que o diabo está mesmo nos detalhes. E um alto volume não é um mero detalhe.
Nuno Figueiredo
Engenheiro Eletrônico formado pela Mauá, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, é um dos fundadores da Signa, onde atua desde 95. Entre outros defeitos, jogou rúgbi na faculdade, pratica boxe e torce pelo Palmeiras.
Foto: Freepik
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Ultimos comentários
Bem isso mesmo! Nem sempre crescer, quer dizer lucro.
Trabalhei muitos anos em transportadora, de carga completa e fracionada, tenho amplo conhecimento daquela época, hoje muitos nomes mudaram, evolução, os equipamentos, tudo evoluiu...