O TMS para o Rodo Aéreo

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Nuno Figueiredo

28 de mai de 2018

· 7 min de leitura

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O primeiro projeto que que fizemos na Signa para a área de transportes foi para um transportador rodoaéreo. Foi um desafio e tanto. Subestimamos o tamanho do projeto, as dificuldades de rodar uma operação que funciona 24x7, entre outros problemas.

Mais tarde, quando decidimos focar a atuação da Signa no ramo de transportes e logística, estendemos o nosso TMS para tratar outros modais. Tivemos que desistir daquela versão e refazer o sistema. Descobrimos que cada operação tem as suas particularidades e um desenho enviesado não atenderia outras demandas.

O TMS é um sistema para atender qualquer modal. Ainda assim cada modal tem características únicas. Isso gera oportunidades e desafios que também só ocorrem em determinados nichos. É o caso do Rodo aéreo. Vamos abordar aqui alguns dos desafios deste transporte multimodal.

O melhor frete

Trabalhar com carga aérea é a busca incessante do menor preço desde que atenda a um prazo normalmente curto. Na logística, quanto mais rápido for o transporte, mais caro é o preço.

Em um transporte emergencial, onde a mercadoria tem que chegar em algumas horas, não tem normalmente muita opção. Entre estas estão o fretamento de uma aeronave ou helicóptero, e o envio do pacote em mãos de um passageiro comum, modalidade conhecida como colo a colo.

O transporte aéreo emergencial não é a modalidade mais comum no modal aéreo. É normal termos prazos de entrega de 24 horas úteis, que permitem o uso do modal rodoviário como alternativa. Claro que isso depende das distâncias envolvidas, mas mesmo em trechos mais longos, é possível usar este mix contando com o intervalo do fim de semana ou de um feriado.

E há casos mais inusitados, onde um pacote pequeno pode custar menos no modal aéreo do que no rodoviário.

Avaliar de forma competente todas as possibilidades não é uma tarefa simples, nem rápida. O modal aéreo exige normalmente uma rede de agentes de carga nas pontas que retiram a carga no aeroporto destino, desconsolidam a carga e fazem a entrega final.

Não se trata unicamente de comparar o preço do aéreo contra o rodoviário, mas ainda de comparar o preço das diferentes companhias aéreas e também qual a combinação mais econômica, se é melhor contratar para que a companhia aérea entregue direto ou faça somente a perna aérea, contando que a última milha será feita por um agente.

Exemplificando

Vamos fazer um exemplo simples. O envio de um pacote de 1 kg de São Paulo para Caxias do Sul, no RS. Podemos contratar qualquer empresa de carga fracionada que faça a malha sul. Vamos desconsiderar nesse exemplo a coleta, e para simplificar partimos da premissa que a carga será depositada direto no subcontratado, seja este um transportador ou cia área.

Suponha que exista um relacionamento com 3 transportadoras que façam a malha sul. São 3 cálculos de preço e prazo para saber se eles são viáveis em termos de prazo e ainda qual o custo com cada um. Para o caso do aéreo, considerando as 4 companhias aéreas disponíveis, teríamos 8 cálculos envolvidos, sendo 4 no formato companhia aérea entrega direto e outros 4 na composição de uso de companhia aérea mais agente na ponta.

Totalizamos 11 cálculos de preço e 11 cálculos de prazo neste exemplo. A realidade pode ser pior. Não raro há mais de uma tabela possível de ser negociada com a companhia aérea. Depende do peso a ser transportado, há tabela convencional, expressa e, dependendo do prazo, pode haver tabelas diferenciadas como próximo voo.

As onze simulações acima partem da premissa que só há um aeroporto destino a ser usado como hub, mas no caso em questão, há voo direto de São Paulo para Caxias do Sul e o voo até Porto Alegre, e de lá o agente entrega em Caxias do Sul. Isto aumenta o número de opções. Claro que o uso de um ou outro aeroporto vai depender da viabilidade do horário do voo e ainda da oferta de voos disponíveis em cada companhia aérea, mas este é um caso real onde ocorrem embarques para os dois aeroportos já mencionados.

Outras variáveis a serem consideradas são as diversas opções de custo na coleta, se vai ser usada a frota própria ou, como ocorre com os operadores logísticos, se vai haver também a subcontratação do frete na origem.

Além disso, há clientes que não permitem em seu contrato uma troca de modal, isto é, se foi contratado como aéreo não permite que se envie como rodoviário e vice-versa.

Todas estas opções combinadas ainda não esgotam o cenário. Há negociações específicas pelo volume oferecido para um determinado embarcador, o que gera uma tabela que só vale no transporte das mercadorias para aquele cliente.

O uso de aeroportos alternativos é algo que só é viável quando feito de forma automática por um robô, caso contrário se tornaria muito morosa a definição da logística.

Finalmente há trechos onde algumas exigências de qualidade forçam o uso de um determinado prestador naquela rota, ou naquele destinatário ou ainda por alguma restrição operacional. Nestes casos não se pode praticar o melhor frete, é necessário poder engessar determinados trechos obedecendo às restrições comentadas.

Não bastasse essa complexidade toda, é possível que a escolha perfeita não seja possível num determinado momento por falta de veículo, por um cancelamento de voo, por um atraso no processo da coleta, enfim, é necessária a capacidade de na hora do embarque trocar manualmente a escolha ideal por outra mais cara.

Tudo isto pode e é feito de forma manual pela maior parte das empresas que operam o rodo aéreo. Dependendo do volume envolvido é possível, mas como expusemos, mesmo para poucas encomendas o trabalho é pesado e não raro não se testam todas as possibilidades. Isto significa pagar mais pela subcontratação, com impacto direto e imediato na rentabilidade direta.

Consolidação de carga

Note que até o momento estamos falando somente da análise simples do envio de um pacote. A grande oportunidade de economia está na consolidação de carga. Aí temos ainda a engenharia de agrupar a carga em um único lote ou desmembrar em lotes menores usando parte do modal aéreo, parte rodoviário e, ainda dentro destes, desmembrando em prestadores que tenham a melhor relação custo / benefício.

Não é difícil notar que as diversas possibilidades de agrupamento indicam um crescimento exponencial de cálculos de preço e prazo e ainda a análise das restrições já comentadas. Não deve ser complicado você concordar comigo que se isso é feito manualmente algum dinheiro está ficando em cima da mesa. E não estamos falando de algo que não seja significativo.

A maioria dos sistemas que eu conheço não trata ou trata parcialmente as necessidades acima descritas. Não basta, portanto, usar um sistema e sim verificar que oportunidades estão sendo perdidas na falta do uso de ferramentas mais sofisticadas.

E sendo bem sincero, dá mais trabalho usar ferramentas mais sofisticadas. Não só no uso do sistema em si, mas em processos e no trabalho de ter mais opções de parcerias. Quanto mais opções, melhor, os robôs trabalham garimpando as oportunidades e definindo as melhores opções.

Concluindo

A rentabilidade de uma operação rodoaérea muda consideravelmente conforme a companhia aérea escolhida, aeroporto de destino, uso ou não do agente, entre outras variáveis que expusemos acima. Poder selecionar, por exemplo, a companhia aérea mais em conta para um determinado embarque ou ainda testar possibilidade de consolidação de carga, afetam diretamente o resultado das operações.

O valor cobrado depende de uma negociação com o cliente e de condições de mercado, já o custo é algo que pode ser melhor trabalhado.

A gestão disso gera uma série de necessidades que somente um TMS multimodal consegue resolver. Claro que não sabíamos de metade disso na época de nosso primeiro projeto. Quando entendemos melhor a dimensão do problema optamos por reescrever tudo. A lição aprendida é que o prego nasceu para um único propósito, não adianta tentar usar ele como parafuso.

Nuno Figueiredo

Engenheiro Eletrônico formado pela Mauá, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, é um dos fundadores da Signa, onde atua desde 95. Entre outros defeitos, jogou rúgbi na faculdade, pratica boxe e torce pelo Palmeiras.

Foto: Freepik

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