0
A nova tabela de preço mínimo para o frete acertou em algo que não mirou. A conversa toda era para resolver o problema dos autônomos. Até aqui ela não entregou este resultado, mas gerou outros efeitos interessantes.
Algumas empresas de transporte estavam operando preços abaixo desses patamares mínimos. É óbvio que se você vende abaixo do mínimo não consegue contratar nenhum autônomo por esse preço.
Outra constatação é que, mesmo cobrando abaixo do frete mínimo, ainda subcontratavam os autônomos, e estes na ponta final da cadeia não tinham uma receita, e sim o essencial para sobreviver. O mercado tem essas máximas: “É melhor voltar recebendo algo que pague o diesel, do que voltar batendo lata”.
Na véspera do início de um novo governo, e com a tabela de preço mínimo sub judice no STF, há muita incerteza rondando este tema, mas a maioria das pessoas do setor com quem eu conversei a respeito dão a fixação do preço mínimo como algo que veio para ficar.
Legalmente a ANTT foi prudente ao estabelecer a tabela não como um tabelamento que fixa um preço para o mercado, mas somente regulando estes patamares como o mínimo que deva ser praticado. Isso tira a questão de obrigar um preço. A negociação continua livre, tem apenas um patamar mínimo a ser respeitado. Algo que o salário mínimo e os pisos sindicais já obrigam a ser seguido a muito tempo, usando uma comparação equivalente.
Um empresário de transportes me confidenciou que trabalhava em várias rotas abaixo do piso sugerido pela ANTT. Ele chamou todos os clientes para renegociar pela tabela ANTT. E demitiu os clientes que não concordaram em seguir o piso mínimo. Obviamente ele vai tocar a operação com frota própria. Algo que já apontamos como tendência no post “Quem ganha e quem perde com a tabela de frete” está ocorrendo: embarcadores estão abrindo transportadoras e comprando caminhão e os transportadores estão privilegiando o uso de frota própria.
Parece, até o momento, que o menos beneficiado é o autônomo. Além de ver a demanda despencar, ele ainda não tem a garantia de receber o frete mínimo. Todo dia há várias notícias frisando que o mercado ainda não respeita a tabela.
Por conta dos fretes baixos recebidos pelos autônomos, ainda vemos notícias tristes como a que comenta a gambiarra feita no freio para que o motorista continue trabalhando e pondo a sua vida e a de outros em risco. Você pode ler a respeito neste link.
Já vemos o início de alguns protestos e o retorno da ameaça de greve, por exemplo, a notícia deste protesto na última semana.
Será uma briga de gente grande. De um lado os embarcadores gigantes, como os do agronegócio, diretamente afetados pelo frete mínimo versus os transportadores e autônomos que defenderão a continuidade do tabelamento mínimo. Ainda que o autônomo, como já expus, não seja o maior beneficiado, ele é a cara do movimento que empresta simpatia popular à causa e isso conta muito para qualquer governo, à esquerda ou à direita.
Para não ficar em cima do muro, acho que a tabela vai permanecer. Quem viver verá.
Nuno Figueiredo
Engenheiro Eletrônico formado pela Mauá, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, é um dos fundadores da Signa, onde atua desde 95. Entre outros defeitos, jogou rúgbi na faculdade, pratica boxe e torce pelo Palmeiras.
Foto: Pixabay
0
Ultimos comentários
Nuno, a discussäo é bem interessante, se por um lado nos preocupamos com a remuneraçáo dos autonomos, por outro lado temos o custo do frete que hoje, sem nenhum ajuste pesa muito na cesta básica e consequentemente na inflacao. Acompanhei de perto a experiência de uma tabela de fretes na Colombia, onde trabalhei por muito tempo, e os resultados não foram bons, já que por uma ou outra maneira o mercado acaba se auto regulando. Enfim, vamos esperar pelo melhor !!! Feliz natal para todos !!!