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O Cortela ensina que não somos um produto para envelhecer: “Eu sou, portanto, a versão mais atualizada de mim mesmo”. Produtos se tornam defasados, obsoletos; pessoas não.
Estamos discutindo qual a idade que alguém deveria se aposentar no Brasil. Com a expectativa de vida mais longeva, é normal que as carreiras que trabalham com o intelecto tenham uma perspectiva maior de continuidade. O problema está em como o mercado encara esse tipo de profissional e ainda em como cada um cuida de se manter atualizado e em dia com as novidades.
Esta reflexão me veio com o título brasileiro de 2018 conquistado pelo Palmeiras, o time estava em viés de baixa, com longos oito pontos distante do líder Flamengo. Veio o técnico Luís Felipe Scolari, que aos 70 anos assumiu o leme.
Foi chamado de velho, ultrapassado, teimoso, limitado, repetitivo, medroso, entre outros adjetivos usados à exaustão para dizer que sua terceira passagem pelo clube seria um fiasco.
E ele não só foi campeão. É o recordista de partidas sem perder no formato atual do campeonato. Melhor defesa, melhor ataque. A SPORTV comentou que se o Felipão fosse um time, considerando somente os jogos em que ele atuou como técnico, estaria na nona posição da tabela.
Nada mal para um profissional de 70 anos. Este caso é ainda mais emblemático, porque há uma tendência de sermos vistos pela nossa mais recente atuação e mesmo com um passado de glórias, o revés no fatídico 7 x 1 virou uma mancha no currículo. Isto faria qualquer um ir para a aposentadoria e para o ostracismo. Ele não só deu a volta por cima, como é uma prova cabal que não há idade para o talento e para a paixão. Isto se chama resiliência!
O ponto é que os anos que acumulamos não são prova nem garantia de conhecimento. O conhecimento está disponível e sabe mais a respeito de um tema quem estuda com mais afinco. Viajar nos vários livros e materiais disponíveis e estudar o assunto te torna uma autoridade. O fato de somente ter vivido muito, não.
Um fato é que nascemos ignorantes e morreremos ignorantes. Nos resta aprender e ir aperfeiçoando para tentarmos ir menos ignorantes do que viemos, já que a ignorância é inevitável. Como diria Sócrates “Só sei que nada sei”.
A soma da vivência e do estudo são sim uma combinação poderosa, mas somente se o tempo foi bem empregado em estudo contínuo que complete a vivência. O estudo abrirá outros horizontes, cuja experiência é impossível numa só vida.
Não fosse assim você não veria funcionários com o cargo de diretor com menos de 30 anos. Todo e qualquer diretor deveria ser alguém sênior. A senioridade do cargo é pelo conhecimento, não pela idade. Há uma expectativa que mais anos implica em mais conhecimento, mas isso não é possível de ser provado. Tem gente que lê um livro por semana, tem os que leem um por ano e infelizmente tem os que nunca leem livro algum.
Algumas empresas associam alguém mais sênior como alguém defasado, que não sabe lidar com o mundo digital e não está em dia com os novos paradigmas. O erro pode ser cometido para os dois lados. Desprezar um histórico e subestimar a capacidade de alguém de se manter atualizado e criativo é um engano tão grande como fazer o contrário.
Você acha que startup é algo para jovens no inicio de carreira? Diga isso para o Raymond Kroc que fez uma lanchonete local virar a maior cadeia de fast food do mundo. A história dele é narrada de forma muito interessante no filme “Fome de Poder”. Kroc era um simples vendedor. Aos 52 anos ele iniciou o que hoje todos conhecem como McDonalds. É dele a genial frase “Cuide do cliente e o negócio cuidará de si mesmo.”.
Temos Barack Obama que terminou sua carreira política aos 55 anos, e em comparação, Donald Trump, que começou a dele aos 70. Donald Trump é a pessoa mais velha a assumir o cargo mais importante do mundo.
Nuno Figueiredo
Engenheiro Eletrônico formado pela Mauá, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, é um dos fundadores da Signa, onde atua desde 95. Entre outros defeitos, jogou rúgbi na faculdade, pratica boxe e torce pelo Palmeiras.
Foto: Pexels
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Ultimos comentários
Tirando a parte do Palmeiras...ops!!! Brincadeira, concordo plenamente com o que foi dito. A experiência é a somatoria de todos os erros e acertos da vida. O sucesso, é o fechamento positivo dessa equação. Levando para a linguagem do futebol, o medo de perder tira a vontade de ganhar, isso define um empreendedor. Políticas públicas precisam ser empreendidas, não para proteger, mas para desregulamentar e relação do trabalho. Hoje, quem tem 34 anos de trabalho registrado, nao pode ser dispensado; Ok! Isso protege o trabalhador. Mas, e aquele que está desempregado, justamente para não aingir essa proteção, será contratado novamente? Não será! Assim, a atualização tecnológica e as experiências não garantem o emprego, por erro dos dois lados com bem retratou o texto. Posso, dessa forma, dividir em extremos a compreensão desse artigo: Primeiro: os foras série, como Felipão, Abílio Diniz,Silvio Santos, Meireles entre outros. Segundo: Os mortais, que vez ou outra, surpreendem com cases de sucesso mas, que na maioria dos casos lutam pela sobrevivência. Comecei uma carreira aos 52 anos como marceneiro, depois de encontar portas fechadas pela idade. Nessa reinvenção, luto todos os dias para provar a tese de que e mais fácil fazer do que falar. Estou a um ponto do sucesso, graças aos atalhos e conhecimentos corporativos que me lançaram ao setor de manutenção de móveis. Ainda chego lá, mas, os espinhos que espetam meus pés, alertam meus sentidos, numa conjunção perfeita no duelo entre a experiência e a juventude.