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Cá para nós: você só estudou na infância porque foi obrigado. Desde cedo ir na escola era algo não negociável. A sua profissão era ser estudante.
Estudar se torna chato para alguns por ser algo imposto, a fórceps. Tem até matérias que você gosta e outras que você detesta, e não há a opção de estudar somente o que desperta mais o interesse.
Porém você não é mais uma criança. Agora você pode estudar aquilo que gosta, então por que não estuda mais?
Um dos posts mais populares no TED é do Ken Robinson, cujo título é uma pergunta: Do Schools kill creativity? (será que as escolas matam a criatividade?, em tradução livre). Fazendo um spoiler a resposta dele é sim, mas o TED é bem divertido, se você não viu acesse este link, com legendas em português. Ele nos dá uma boa pista de porque perdemos a criatividade e com ela muito do interesse em aprender.
O principal desafio de qualquer escola é formar pessoas famintas pelo aprendizado. Por um motivo simples: qualquer conhecimento se torna obsoleto em poucos anos. Sem uma mentalidade (ou Mindset, se você preferir o termo da moda) de aprendizado constante, é uma questão de tempo para perdermos a aderência ao que o mercado procura. Isso também é conhecido como empregabilidade.
O Mário Sérgio Cortella define bem o conceito de empregabilidade:
“A empregabilidade vai muito além de graduação em universidade de ponta e fluência em vários idiomas. Ela é a capacidade do profissional em se manter interessante e desejado para o mercado de trabalho não só pela sua carreira, mas pelo que pode oferecer ao mundo.”
Se o “mercado” tende a considerar que pessoas mais velhas estão menos preparadas para lidar com novas tecnologias, na verdade ele está aplicando um preconceito que diz que as pessoas não mantém o conhecimento atualizado, logo temos que pegar alguém mais novo, que aprendeu o que há de mais recente. Se não fosse assim um sênior seria imbatível ao juntar conhecimento atualizado com experiência. Eu não defendo esse preconceito, apenas reconheço que ele existe.
Bom, você escolheu a sua profissão, logo é provável que você tenha afinidade com o tema e isso esteja dentro da sua área de interesse. Neste caso estudar não deveria ser tão penoso, salvo se você está na profissão errada. Aí vale o bordão daquele comercial da escola Pan-Americana de Artes: “Se você gosta de artes, veja lá o que você vai fazer da sua vida”.
Eu não conheço ninguém que não queira progredir na carreira, ganhar mais, ser mais reconhecido e ser visto pelos colegas como alguém que é muito bom no que faz.
Porém, eu conheço poucos que se preparam de forma contínua para serem melhores. E o jogo não é, acho que nunca foi, ser melhor na atividade x e sim evoluir. O x, seja lá o que for, muda, às vezes se torna obsoleto. Porém creio que deveria ser algo natural para todos procurar ser o melhor no que faz. Não precisa ser o número 1, apenas numa escala de 0 a 10 deveria brigar por estar acima de 7.
Alguém já disse que o pior funcionário que existe é o regular, o mais ou menos, o nota 5 ou 6. A lógica é a seguinte: o ruim você dispensa, o regular não, fica no reme reme para ver se esse barco vai para algum lugar. Você certamente conhece alguém assim.
Estudar, se aperfeiçoar, sem ninguém te obrigar a isso, é a lição de casa a ser feita. Não precisa ser feita todos os dias, mas tem que ser feita de forma perene. E, lamento informar, esses conhecimentos não vêm no horário comercial.
Quem espera a empresa, o chefe ou o colega passar um novo conhecimento não está na linha da frente, e isso tem a ver com a tua visão de mundo e o que você deseja para si mesmo.
Eu vejo isso aqui na Signa. Acho que acontece em todos os lugares. Um programador que têm 6 anos de mercado ensinando e dando direcionamentos a outro programador que atua há mais 30 anos com programação. E, claro, o conteúdo é algo que existe há não mais do que 4 ou 5 anos. Aí você pergunta para o mais novo onde ele ganhou esse conhecimento, e a resposta é simples:
Documentações, artigos, livros, acho que isso, rs.
Ou seja, material disponível on line, 99% de forma gratuita. Há inúmeros fóruns onde programadores estão trocando ideias e conhecimento. Há também a novela das 8. São escolhas.
Adivinhe qual dos dois perfis recebe mais reconhecimento?
No livro “O homem mais rico da Babilônia” há dois ensinamentos que eu gostaria de destacar. Note que este livro é sobre educação financeira, mas os assuntos estão relacionados. O primeiro é a dica de que você, se quer saber algo a respeito de um negócio, pergunte para a pessoa certa.
No livro um fulano resolve entrar no ramo de venda de camelos porque o Oleiro deu a dica que isso era muito rentável. A dica óbvia: se quer saber a respeito de tapetes pergunte para o tapeceiro, o resto é palpiteiro.
A segunda dica é: se você resolveu ser oleiro, cabe a você entender tudo a respeito de objetos de barro ou cerâmica, e as suas aplicações, eventuais contra indicações, quais produtos são substitutos e para onde o seu mercado está indo e o que há de novo que precisa ser aprendido. Cada profissão tem o seu retorno financeiro, mas o que é comum a todas é que os melhores frutos serão colhidos pelos profissionais mais preparados.
É fácil achar quem está mais preparado. É aquele que todos procuram para resolver algo ou para tirar dúvidas. É fácil achar quem não faz a lição de casa. É o que está sempre correndo atrás do primeiro. Quem você é depende de como você toca a própria carreira.
Quem sou eu para dizer o que cada um deve fazer, mas se desejar uma dica, aqui vai: se está ruim, estude mais.
Nuno Figueiredo
Engenheiro Eletrônico formado pela Mauá, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, é um dos fundadores da Signa, onde atua desde 95. Entre outros defeitos, jogou rúgbi na faculdade, pratica boxe e torce pelo Palmeiras.
Foto: Jilbert Ebrahimi
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Ultimos comentários
Perfeito!!!!
Muito Bom!
Muito bom. Obrigado pelo texto.