Quando a ansiedade e a paranóia atuam a seu favor

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Nuno Figueiredo

25 de jun de 2019

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Recentemente estive em dois grandes eventos, o primeiro em Campinas e o segundo em São Paulo. Ambos tratavam de temas como marketing digital, transformação digital e inovação. A régua comum que media a maioria das palestras é a mensagem do tipo: Acorda, o mundo mudou, e você está para ficar obsoleto.

E lá vem os exemplos da Kodak, da Blockbuster, e, para ter um case nacional, da Editora Abril. Neste último, um palestrante resumiu de forma simples porque a Abril quebrou: seus líderes tinham cabeça de gráfica, não mudaram o Mindset.

Para te motivar a mudar, eles instigam o pânico, que gera a ansiedade. A ansiedade é o equivalente mental para a dor. Ela te avisa que você está em perigo, como se fosse o alarme de um carro. Alguém precisa de ajuda para ficar mais ansioso?

Ainda ontem um amigo comentou que é surpreendente como pessoas inteligentes negam a realidade. No caso, ele discutia com um designer que, entre outros trabalhos, faz o layout do cheque. Ele comentou que esse era um trabalho com pouco futuro, já que o cheque está caminhando para a extinção. Ao que o outro retruca:

Imagina, sempre haverá o cheque.

Eu não lembro a última vez que usei um cheque. Não carrego um talão há mais de três anos.

No evento de Campinas, assisti a uma mesa redonda com representantes das principais bandeiras de cartão do mercado. O mediador provocou o debate sobre o fim do cartão de plástico. A reação foi parecida com a do cheque. Mesmo eles comentando que na China todo mundo paga lendo um QR code, de forma digital, usando o celular, eles ainda acreditam que isso não vai vingar no Brasil. Vai entender.

Deve ser por isso que tantos gurus montam seu pitch anunciando o fim dos tempos. Corra, pois o apocalipse se avizinha. Entra o próximo palestrante e eu começo a contar os segundos para que a Blockbuster entre novamente em cena.

Na boa intenção de gerar uma mudança de Mindset, eles entregam como efeito colateral um aumento na dose de ansiedade. O alarme do carro dispara mesmo que não tenha ninguém querendo roubar o carro, não hoje, pelo menos.

O problema de ficar disparando o alarme quando não há um perigo iminente a ser evitado, é que isso vira algo tóxico. Como diz o especialista no assunto, o Edward Hallowel:

Normalmente a ansiedade tóxica se baseia em pouca informação ou em informações erradas.

O Edward recomenda como remédio a vitamina C, onde o C é de Contatos, ou seja:

Never Worry Alone (nunca se preocupe sozinho).

Ele comenta que em alguns casos talvez seja necessário um médico. Na maioria dos casos você precisa simplesmente de contato com outros humanos. O problema é real, mas não imediato, e você não está sozinho.

É verdadeiro que a escala das mudanças está tornando empresas e pessoas obsoletas num ritmo cada vez mais frenético. A reportagem abaixo do Valor, de 18 de janeiro de 2019, dá uma pista do tamanho do impacto na carreira de executivos.

Múltis de bens de consumo trocam CEOs

Fonte: Jornal Valor, os destaques em amarelo são extraídos da palestra do Romeo Busarello

Várias multinacionais trocaram os CEOs com a premissa que somente caras novos conseguem entender a realidade da nova economia. Numa realidade onde as pessoas vivem mais, e, portanto, terão carreiras mais longas, o mercado considera obsoleto um profissional que pode estar no auge da sua carreira. Não faltam motivos para estar ansioso.

Uma palestra muito interessante que assisti foi a do prof. Romeo Busarello, que também é diretor de marketing da Tecnisa. Ele chama este fenômeno de Zeitgeist.

A tradução de Zeitgeist: Espírito de determinada época; tudo aquilo que caracteriza um período específico.

Ou seja, alguns executivos, pela idade, não teriam o Zeitgeist dos novos tempos.

O Busarello dá um conselho interessante. Aumente o número de Horas / Bar. Ele comenta que hoje um profissional tem que ser bom de cerveja. Calma, antes que você se anime demais, o sentido não é o de sair para encher o caneco; trata-se de gastar um número de horas significativo indo a eventos, palestras, e manter um contato ativo com outros profissionais, principalmente os que estão engajados na nova economia e lidando com inovação.

O Hora / Bar é um remédio contra a obsolescência e voltando ao Edwards, é vitamina C com o duplo benefício de diminuir a ansiedade e promover a atualização constante do Mindset.

Ou voltando ao Busarello, uma frase dele que eu achei brilhante:

O futuro do trabalho dá trabalho.

Outra imagem que eu peguei emprestada da palestra do professor Busarello, traduz bem a frase acima, caso alguém precise que desenhe.

Aprendizado ao longo da vida. Como sobreviver na era da automação. Crédito: The Economist – palestra do Romeo Busarello.

Legenda: Aprendizado ao longo da vida. Como sobreviver na era da automação. Crédito: The Economist – palestra do Romeo Busarello.

E já que eu abusei nas citações do Busarello, termino com outra frase dele, muito apropriada.

Não há analgésico para a dor da Mudança.

 

Nuno Figueiredo

Engenheiro Eletrônico formado pela Mauá, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, é um dos fundadores da Signa, onde atua desde 95. Entre outros defeitos, jogou rúgbi na faculdade, pratica boxe e torce pelo Palmeiras.

 

Foto: Freepik

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