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Já que os ovos estão quebrados, vamos fazer uma omelete. Esta expressão nos convida a tirar algo positivo de algo ruim. Não é fácil tocar a vida nessa crise, mas inevitavelmente lições devem ser aprendidas. Muitos hábitos vão mudar.
De alguma forma não voltaremos ao patamar anterior, para o bem e para o mal. Surgirá o novo ‘normal’ e nos caberá, quando possível, tirar proveito.
Muito se falou em Transformação Digital, mesmo as consultorias especializadas no tema foram pegas de calças curtas nesta crise. Saíram correndo atrás de locar notebooks ou instalar programas que permitissem o pleno trabalho em Home Office.
Poucos passaram ilesos. Aqui na Signa até que nos saímos bem neste quesito, ainda assim verificamos a necessidade de melhorar em alguns pontos. Há mais de 15 anos que só compramos notebooks, este ponto não pegou.
A pergunta que nos preocupou é “Se o prédio da matriz ficar inacessível, porque foi fechado ou porque decretaram Lockdown na cidade, teremos problemas?”. A resposta: é pouco provável, desde que o equipamento que suporta a VPN não dê problema. Ele raramente dá, logo, o risco é muito baixo. Mas ele existe.
Parece a lei de Murphy, mas no dia seguinte, uma árvore caiu e derrubou a luz no prédio. O nobreak resistiu bravamente até que desligou e voilá! Ficamos sem VPN por cerca de 3 horas. Numa situação limite poderia ser dias. Não vale a pena correr certos riscos. Estamos terminando a lição de casa de ter tudo 100% na nuvem.
Não vou chover no molhado, todo mundo já sabe a esta altura as dores e alegrias do HO.
Acho que todos devem atentar para a dica do Prof. Marcelo Peruzzo.
Vale também a dica do dia, do Victor Lopes.
O que ainda está por vir é qual será o grau de mudança no comportamento que este período universal de HO irá produzir? Obviamente, só está trabalhando em HO quem pode, e é para estes que este impacto ainda está por ser avaliado.
Será que passada a crise vamos todos voltar ao trabalho presencial? Justifica a empresa ter um custo alto e perene para manter grandes áreas de trabalho para um monte de gente compartilhar o mesmo ambiente físico?
Não acho que vai acabar o escritório, mas ele certamente não será o mesmo. No nosso caso estamos já repensando este assunto. Qual a área física que de fato precisamos ter e por que.
Um efeito colateral importante é zero tempo de deslocamento. Isso não é pouco em termos de tempo e qualidade de vida. Eu acho que esse mercado de imóveis para fins comerciais não tende a ter boas notícias num futuro próximo. E acho que no mínimo a coisa vai ficar mais híbrida.
Outro resultado do trabalho remoto forçado, é que aprenderemos e consolidaremos a gestão disso. Haverá um refinamento em como contratar, treinar e acompanhar recursos remotos. O olho do dono já não garante mais a engorda do porco. Tem que ter métricas para avaliar se os colaboradores, seja lá onde estiverem, estão sendo produtivos.
Isto permitirá ter um time que opera em qualquer lugar. Assim que começou a nossa quarentena, um de nossos analistas, que mora em SP, foi para Assis. Tem trabalhado de lá desde então, e eu só soube que ele estava em outra cidade uma semana depois.
Essa curva de aprendizado nos libertará de contratar somente no local onde está nossa sede física. Qualquer recurso conectado é um potencial candidato a trabalhar. Claro que ainda existirão barreiras culturais e de língua, mas pensando unicamente em Brasil, abre-se uma fronteira enorme.
Isto não é novo. Temos um parceiro cuja mão de obra é composta por gente oriunda de vários estados do Brasil. O escritório fica em Campinas, e nele ficam somente o dono e mais uns dois gatos pingados. O novo aqui é que essa ficha vai cair para mais gente, e isto tende a se tornar comum.
Me chama a atenção várias providências de diferentes órgãos estatais para tirar barreiras, remover obstáculos, e simplificar a vida das empresas.
Alguns exemplos no mercado de transportes: a nova resolução da SEFAZ que alteraria regras do MDFe (manifesto eletrônico) foi adiada. A ANTT também adiou a entrada do CIOT obrigatório, prevista para 16 de abril. Ambos por tempo indeterminado.
Já há um projeto de lei para adiar a entrada da LGPD para 18 meses além do prazo inicial, que era em agosto. Também já houve o adiamento da entrega do IR.
Por trás disso um pensamento correto de remover barreiras, entraves e dificuldades para as empresas num momento difícil, para que estas possam se ater ao essencial.
Este poderia virar um novo norte para os entes do governo. Trabalharem com o objetivo de facilitar, diminuir o atrito e os custos para as empresas operarem no Brasil.
Um singelo exemplo: as empresas emitem suas notas, pode caber aos governos calcular e emitir as cobranças de impostos. Ele que monte uma mega estrutura para dar conta disso ao invés de empurrar a batata para as empresas.
Aqui é mais um desejo do que uma opinião. Não acho que isto vá ocorrer, mas que seria bom, não há dúvida.
Impressionante como a crise torna fácil e rápido alguns temas que outrora eram totalmente inflexíveis. O melhor exemplo é a telemedicina. Isso era proibido. Agora foi liberado, porque não há outro jeito. Uma vez praticado deve haver aqui também uma nova realidade.
E vamos combinar, tem um monte de gente que se automedica ou consulta o cara da farmácia para não ter o trabalho, ou o tempo necessário, de ir ao médico. Uma consulta remota resolveria bem as coisas. Simples, não há porque ser diferente.
Soluções de vídeo e teleconferência não são nenhuma novidade. As grandes empresas têm certamente salas de reuniões super equipadas para esta finalidade. O que poucos fizeram é analisar o quanto esse investimento fez sentido, e em quanto ele diminuiu as viagens de negócios.
Já está disponível há muito tempo, para todo tipo de empresas, várias soluções de comunicação remota: Skype, Zoom, Hangout, entre outros. Se as reuniões fossem mais demoradas ou mais importantes, melhor fazer presencial e com pouca, ou nenhuma análise, se isso é, de fato, necessário.
Não só para fins comerciais, mas principalmente para reuniões internas entre matriz e unidades, o deslocamento PJ é parte importante e significativa do mercado aéreo nacional. Está aí a ponte aérea RIO-SP que cobra um dos tickets mais caros do mundo para um deslocamento tão curto.
Com tantas empresas operando remotamente durante esta crise, difícil imaginar que isto não provoque mudanças em alguns hábitos. As cias áreas são as mais afetadas pela crise em vários sentidos. E elas ainda devem sentir que o mercado vai mudar.
Alguém já disse que feita uma previsão, pode ocorrer qualquer coisa, menos o que foi previsto. Eu acredito que o que nós considerávamos normal já mudou. Quando a crise passar, e que isso seja rápido, voltaremos à vida normal, mas não a que tínhamos. Essa não volta mais. Que o novo normal nos seja menos traumático. Faz parte da vida, para coisas que não podemos mudar ou atuar, nos resta aceitar e nos adaptarmos.
Já que nos deram os limões, vamos tentar fazer uma limonada.
Nuno Figueiredo
Engenheiro Eletrônico formado pela Mauá, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, é um dos fundadores da Signa, onde atua desde 95. Entre outros defeitos, jogou rúgbi na faculdade, pratica boxe e torce pelo Palmeiras.
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Ultimos comentários
Lendo esse artigo publicado pelo Nuno, me veio a mente que, uma oportunidade de negócio para essa questão da "equipe anyWere". A criação de uma rede de coworking espalhados pela cidade e pelas cidades, desta forma as empresas poderiam oferecer um posto de trabalho próximo à residência do empregado ou, até quem sabe, a possibilidade dele poder passar por mais de um postos em locais distintos ao longo do dia, assim poderia levar o filho à escola e ficar trabalhando próximo a ela, depois retornaria para casa e continuaria a trabalhar em outro posto próximo a sua casa. O que importa é que essa oferta de infraestrutura seja padronizada em alguns aspectos para que a empresa contratante possa fazer a sua gestão com menor custo (www.oyorooms.com.br). Atualmente existem muitos coworking espalhados pela cidade, mas muitos destes ainda estão em locais nobres e/ou pontos centrais pois buscam visibilidade comercial e portanto longe do verdadeiro mercado que é próximo dos locais de residência de grande parte da população.
Excelente reflexão, entendo que para a mudança ocorrer é necessário termos o desafio, quer seja por obrigação imposta ou pelo anseio do novo.