A logística não pode parar

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Nuno Figueiredo

31 de mar de 2020

· 4 min de leitura

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Nenhuma morte evitável é aceitável. Nunca foi, não é, e nunca será. Isto é tão óbvio que nem precisaria ser dito. Somente um psicopata discordaria.

Como quase todo o assunto, as divergências estão no foco, nos detalhes.

E estamos num momento onde qualquer polarização enviesa e torna o assunto nublado. Deixamos de debater e encontrar soluções. A coisa toda vira uma decisão binária: todo mundo confinado x vamos salvar a economia.

De barato já está claro que a economia é uma vítima imediata deste vírus. Assim como o número de mortes e o crescimento deste fator também deixa claro que esta pandemia não é como as outras. A coisa é séria. Requer, portanto, um debate sério.

A primeira coisa que deve ser deixada de lado é a política. Isto não pode, e não deve virar um plebiscito, ou uma campanha por um novo impeachment, ou ainda, uma nova batalha para evitar a retomada do poder pela esquerda. Não é hora para isso.

Não sou infectologista, médico ou especialista em vírus. Nada tenho a oferecer em relação a este assunto que já não esteja rodando por aí.

Uma coisa eu posso afirmar, em qualquer cenário: a Logística não pode parar.

Não existe confinamento total. Isso seria o equivalente na idade média a manter todo mundo dentro do castelo para se defender do inimigo invasor. Os inimigos inteligentes, como Gengis Khan, aprenderam que tomar um castelo era algo muito penoso. Até vencer as defesas impostas pelas muralhas, um grande número de soldados era perdido, num fator mais pesado para o atacante do que para o defensor.

Ainda que o inimigo pudesse ser muito mais numeroso, a empreitada não valia a pena. Quem já jogou WAR sabe, você precisa ter mais soldados do que o defensor para se dar bem num ataque.

O que o inimigo sábio fazia era sitiar o castelo, e aguardar que a fome resolvesse o problema. Ao acabar a comida, o castelo se rendia.

Só podemos ficar confinados se houver comida no supermercado próximo. Não há como discutir algo tão básico. Mas não para por aqui. Precisamos que o lixo seja coletado. Sem coleta frequente de lixo, outras doenças vão proliferar.

E isso vai se estendendo dentro de uma complexa cadeia de valor. A comida tem que ser produzida, armazenada, embalada, distribuída. O que está sendo chamado de atividade essencial é simplista.

Os médicos não conseguem atender se a Logística parar. Não vai haver medicamentos e insumos básicos para que o trabalho seja feito.

Não haverá aparelhos novos se a indústria para. Uma indústria de qualquer ramo, tem também uma cadeia de abastecimento. A falta de um parafuso pode parar uma máquina que produz algo essencial.

O Home Office é possível para a Signa, que é uma empresa de TI, mas não dá para usar Home Office em toda a cadeia logística, pois alguém tem que fazer os processos operacionais necessários para que a gestão não se torne um caos. O caminhão tem que ser carregado, alguém precisa dirigir e por aí vai.

Os caminhoneiros não poderão transportar se não encontrarem restaurantes abertos ao longo da estrada para se alimentarem. Eles precisam de mecânicos, borracheiros e postos de gasolina.

A cadeia de abastecimento é complexa e tem muitos elos. Alguns são óbvios e visíveis para serem dados como essenciais, mas isso é a ponta do iceberg.

Independente de qualquer estratégia, é certo que se a Logística parar, nada mais funcionará, logo, isto não é uma opção.

Há muitas outras profissões e ocupações que igualmente não podem se dar ao luxo de parar: policiais, bombeiros, profissionais de saúde, todos os que trabalham em supermercados, padarias, etc.

Se é verdadeiro que HO não é possível para todos, seria mais inteligente e oportuno discutirmos como fazer para que esse mundo de gente possa continuar trabalhando com o menor risco possível. Isso inclui manter a economia minimamente viável.

E do outro lado, dos que ficam em casa: oxalá todos pudessem assim permanecer, pelo tempo que for necessário para que menos vidas sejam entregues à estatística do vírus maldito. Porém, muito destes estão dentro do seu castelo, pelo tempo que houver comida.

E enquanto a crise não passa, o mínimo que os confinados como eu podem fazer é agradecer ao esforço daqueles que estão nas ruas para que milhares possam continuar se resguardando em casa. Muitos lembram dos profissionais de saúde, que são certamente a pior linha de frente contra o vírus. Vamos lembrar também daqueles que mantém a roda girando, os profissionais de Transportes e Logística.

 

Nuno Figueiredo

Engenheiro Eletrônico formado pela Mauá, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, é um dos fundadores da Signa, onde atua desde 95. Entre outros defeitos, jogou rúgbi na faculdade, pratica boxe e torce pelo Palmeiras.

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HELIO SA

Excelente!!!

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Kelly Rosa

Excelente texto!

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