Precisamos de mais empatia

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Henri Coelho

19 de mai de 2020

· 6 min de leitura

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empatia
união
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No livro Inteligência Emocional, que li há mais de 20 anos, Daniel Goleman fala sobre a importância da habilidade de ouvir e da empatia. Diz que esse é um fator de importância fundamental, tanto para a vida pessoal quanto para a vida profissional.

Estamos perdendo, cada vez mais, esta capacidade, como sociedade em geral. Cada vez mais temos pessoas entrincheiradas, com suas posições imutáveis, sem sequer ouvir o que outras pessoas estão falando por contrariarem as ideias que acreditam. Com isto vamos ficando isolados, apenas em grupos que tenham a mesma afinidade, com a nova onda que é fazer o cancelamento de quem ouse contrariar a opinião vigente.

Ainda ontem ouvi uma frase do Sandro Magaldi que corrobora isto, dita no curso de Governança e Nova Economia que estou fazendo. A frase não é literalmente esta - ás vezes a velocidade de anotação não é tão grande - mas o sentido é este:

Precisa ter diálogo, sair da cultura maniqueísta. Se não tiver humildade para entender o contraditório não se consegue construir o conhecimento.

E ainda no mesmo tema, em outra visão, pela mesma fonte:

Como nós somos adversos à diversidade em todos os níveis. Todas as diversidades são importantes e precisam ser respeitadas, mas precisamos muito aceitar a diversidade de pensamentos.

E em outro contexto, mas também com uma linha em comum, segue a frase dita ao Estadão pela Luiza Helena Trajano:

Uma das coisas que mais me deixaram triste nos últimos dias foi a sensação de ver que (o País) está pegando fogo, mas, em vez de jogar água, estão jogando gasolina com essas discussões todas. Tem de unir todo mundo, independentemente de partido. Não sinto que há uma grande união.

Por mais que cada um tenha sua posição política, acredite ou não no seu ídolo, o momento é de buscarmos um entendimento que ajude a todos.

A situação da saúde no país é crítica em vários locais, e tende, infelizmente, a piorar em vários pontos antes de começar a melhorar. O mesmo vale para a economia. No ritmo atual, talvez valha para a política também, se é que esta pode melhorar.

O momento é de esquecermos isto tudo. Pararmos de sermos cegos ao xingar ou elogiar os governantes das três esferas, dos três poderes, por mais difícil que isto seja. E por mais que não concordemos com eles.

Precisamos muito de um entendimento entre todas as partes. Não é o momento de pensar no que vai acontecer nas próximas sucessões políticas. Isto precisa ficar pra depois, uma emergência maior está na nossa porta e, para ser combatida, precisa do esforço de todos.

Precisamos de um plano de ação para este momento, e projeções sobre como podemos sair do quadro atual. Precisamos parar de jogar pra torcida. Se os representantes puderem se entender, a mensagem pode ser única para a população neste momento, e precisamos disso com urgência.

Tão importante quanto a mensagem única, é o alinhamento da expectativa para o que vem adiante. Como podemos sair desta situação? Qual o plano de saída, qual o plano A, o plano B, o plano C?

É necessário que exista alguém que possa promover este entendimento entre os diferentes partidos e correntes políticas. Uma trégua, por alguns meses, enquanto esta crise de saúde durar. Um descanso para os robôs de parte a parte.

É muito difícil enxergar alguém que possa ser respeitado por todos os envolvidos. Alguém sem pretensões políticas, que não esteja interessado nos louros que pode ganhar com este sucesso, mas apenas que possa promover este entendimento e se retirar de cena. Que aja como um facilitador.

Em um debate na Globo News, Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da saúde do atual governo, soltou uma frase em linha com o que está escrito acima:

Se o povo está com doença, ele não vai para a produção. Aqueles países que conseguiram administrar essa questão da intensidade da doença. Aqueles que tiveram pessoas que se não puder curar, controle, se não puder controlar, seja solidário, esteja do lado do doente. Aqueles países que conseguiram fazer isto saem para a economia de uma maneira melhor.

É uma questão de se sentar e construir este pacto. Agora não adianta ter diferença política, não adianta pensar nas próximas eleições, agora (tem que se pensar) é nas próximas gerações. E é assim que vai ter que ser feito, é assim que vai ter que ser discutido, quer a gente queira ou quer não queira. E depois que passar vai ter muito tempo pra se xingar A, B ou C, mas agora é juntar e unir para ver se acha um ponto de convergência contra esta doença.

Depois que esta crise passar, com as menores perdas possíveis em todos os campos, o pessoal pode acabar a trégua, religar os robôs, voltar a se xingar nas redes sociais, nas ruas ou onde for, brigar por fora isso, fora aquilo, chamar de comunista ou de capitalista, do jeito que quiser.

E quem sabe nesta história todos podemos ligar novamente nossa capacidade de escutar o outro, de conseguir chegar a um consenso sobre coisas tão importantes para o nosso país, e de fazer a empatia poder ser algo predominante? E, se gostarmos disso, por que não podemos posteriormente continuar assim?

 

Henri Coelho

Sou fundador da Signa, casado e pai de um casal de filhos que saíram melhor que a encomenda. Já nasci corinthiano, gosto muito de futebol, vôlei e xadrez, também de matemática. Podem torcer o nariz.

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Ultimos comentários

Helena Dias

Parabéns pelo artigo, Henri! Oportuno, pena que utópico sob o ponto de vista atual de nosso país. Mas, confio nas gerações futuras que até agora pelo menos, parecem valorizar mais a diversidade. Abraços

Kazu Morita

Henri, muito boa sua colocação. Há muito tempo que as pessoas só buscam o eu sem se importar com os outros. Nesses últimos anos vi pessoas que eram amigas de uma vida inteira, acabarem a amizade por causa de ideologia (muitas vezes até hipócrita, rs), ou por simplesmente se sentirem contrariadas. E conforme disse a Helena em seu comentário, espero que as próximas gerações sejam mais compreensivas e conciliadoras. Abraços