O super-humano vem aí

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Nuno Figueiredo

05 de jan de 2021

· 5 min de leitura

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Em vinte mil léguas submarinas Júlio Verne não só imagina o submarino Náutilus, como concebe, em 1869, uma máquina movida totalmente a eletricidade.

Impressiona como alguns escritores e roteiristas conseguem ser precisos em suas previsões.

O comunicador de Star Trek é muito parecido com o Star Tac, o celular da Motorola que marcou época, lançado em 1996. Alguns dizem que ele serviu de inspiração para o modelo. Ainda não temos as viagens espaciais na velocidade da luz, mas já foi provado que é cientificamente possível o teletransporte. Por enquanto foi feito com uma partícula, mas é viável.

Na esquerda o comunicador de Star Trek, na direita o Star Tac da Motorola.
Na esquerda o comunicador de Star Trek, na direita o Star Tac da Motorola.

Numa palestra da Abes em 14/10/19, Paul D. Roberts, da Singularity Unviersity, provocava o público com uma pergunta

Você mudaria geneticamente o seu filho? E se for para evitar uma doença fatal? E se for para que ele tenha chances de competir com outras crianças que passaram pelo mesmo processo?

Já dominamos técnicas de manipulação de DNA para tornar isso possível. Por exemplo, o CRISPR-Cas9 é o nome dado para uma técnica de edição genética utilizado para modificar sequências de DNA precisamente. Técnica que vem revolucionando a biotecnologia nos últimos anos.

Em Gattaca – Experiência Genética, o Ethan Hawke vive o personagem Vincent Freeman, chamado de filho de Deus porque nasceu de forma natural, sem passar por uma programação genética. Num futuro no qual os humanos são criados geneticamente em laboratórios, ou seja, onde os pais editam os seus filhos, para que eles não tenham doenças, não sejam fumantes, sejam mais altos, mais fortes e mais inteligentes. Ele é considerado um “inválido”, um ser de segunda categoria.

Gattaca – Experiência Genética. Direção: Andrew Niccol, 1997.
Gattaca – Experiência Genética. Direção: Andrew Niccol, 1997.

E agora me aparece alguém dizendo que isso já pode ser feito. Talvez já tenha nascido alguém programado geneticamente e a gente não sabe.

E qual o limite para uma sociedade que produza super seres geneticamente melhorados? Bom, vamos perguntar aos roteiristas novamente. No episódio de Stark Trek, Space Seed, somos apresentados a Khan, um vilão interpretado por Ricardo Montalbán.

Khan é um super-humano melhorado geneticamente. Ele reuniu outros similares e, como eram melhores, resolveram dominar os demais. O episódio conta que Khan chegou a controlar mais de um quarto da Terra durante as Guerras Eugênicas, que no seriado ocorreram na década de 90.

Khan - Star Trek

Esse episódio é de 1967. Eles imaginaram um cenário que ocorreria dali a uns trinta anos. Já temos a tecnologia para gerar os cenários acima. Em Gattaca, todos os seres são classificados e empregados a partir de um teste de DNA que te dá uma nota, ou um ranking, que diz quem você é, e que ocupação você pode ter. Uma completa segregação pelos genes. Daí até a Guerra Eugênica imaginada por Star Trek é um pulo.

A propósito, o Khan voltaria em um filme: Jornada nas Estrelas II, A Ira de Khan, em 82.

Outra ficção científica que já está entre nós é o robô que clona um humano. Você não está a fim de ir num determinado compromisso, ok, você pode mandar seu alter-ego robô, que é fisicamente idêntico e tão perfeito que ninguém percebe. Os Shynts.

Suzanne Gildert

“Suzanne Gildert é co-fundadora da Sanctuary AI, uma empresa com a missão de criar robôs ultra-humanos - sintetizadores - que são indistinguíveis de nós fisicamente, cognitivamente e emocionalmente.

O Santuário está estruturado para explorar a tecnologia de ponta e os problemas éticos que surgem da criação de máquinas semelhantes às humanas.

A empresa se esforça para criar uma micro sociedade na qual os sintetizadores podem se desenvolver e obter um refúgio seguro, à medida que se transformam em plena aceitação por nossa sociedade em geral.

Antes do Santuário, Suzanne fundou a Kindred Inc., uma empresa de inteligência artificial e robótica. Ela construiu mais de 30 robôs para demonstrar o conceito de tecnologia central da Kindred de teleoperação de robôs humanos para aprendizado por reforço.

Ela expandiu a empresa para mais de 50 funcionários e abriu escritórios em Vancouver, Toronto e San Mateo. Ela ajudou a levantar mais de U$ 50 milhões em financiamento de risco para Kindred de investidores de primeira linha, incluindo Eclipse, Google Ventures, First Round Capital e Data Collective.”.

Fonte: suzannegildert.com

Dra. Gildert com o sintetizador alfa2 'Nadine' (Crédito da imagem: Holly Peck no Sanctuary AI)
Dra. Gildert com o sintetizador alfa2 'Nadine' (Crédito da imagem: Holly Peck no Sanctuary AI)

E para demonstrar que a ficção neste caso também já antecipou esta realidade, veja o filme do Bruce Willis, Os Substitutos, de 2009. Este filme retrata o ano de 2054.

Nele a maior parte da população usa substitutos virtuais, androides, que vão para a rua fazer o trabalho e o lazer no lugar dos humanos que ficam em casa, controlando sua versão robô, ou seja, o seu Shynt.

Os Substitutos. Direção: Jonathan Mostow, 2009.
Os Substitutos. Direção: Jonathan Mostow, 2009.

Como o corpo humano é frágil, você não corre nenhum risco ficando em casa. E ainda pode ter uma versão rejuvenescida de si mesmo.

O que é melhor, gerar uma versão mais forte e mais inteligente ou viver em isolamento e interagir apenas de forma indireta com robôs semelhantes ao ser humano? Os dois já estão disponíveis.

Para não tentar adivinhar, fico com o conselho do Paul Roberts:

“a principal coisa que você pode fazer é não planejar o futuro com a visão do presente”.

 

Nuno Figueiredo

Engenheiro Eletrônico formado pela Mauá, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, é um dos fundadores da Signa, onde atua desde 95. Entre outros defeitos, jogou rúgbi na faculdade, pratica boxe e torce pelo Palmeiras.

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