O risco de por todos os ovos na mesma cesta

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Nuno Figueiredo

28 de abr de 2021

· 6 min de leitura

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negócios
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Não coloque todos os ovos numa única cesta. A maioria dos consultores de finanças dá esta dica: diversifique os seus investimentos. Mesmo que você só aplique no mercado de ações, por exemplo, eles ensinam a não colocar todo o dinheiro na ação de uma única companhia.

Imagine o desespero de quem investiu unicamente nas ações da OGX do Eike Batista. Criada em 2007 a empresa foi a queridinha da BOVESPA obtendo a maior captação numa abertura de capital na Bolsa de Valores de São Paulo. Ela era a maior empresa do Grupo X. Em 2010 a empresa era avaliada como tendo reservas de 11 bilhões. Em 2013 entrou em recuperação judicial e o valor das ações virou pó.

O que vale para investimentos, vale para a oferta de produtos e serviços. A concentração é mais suscetível a crises. Alguns eventos externos no seu mercado, no Brasil ou no mundo, podem afetar algumas empresas de forma mais profunda. Se o seu foco de atuação é mais restrito a um produto ou serviço que atua unicamente num mercado em crise, o problema se agrava.

O mercado de transportes sente de forma mais rápida a oscilação da economia; quando a economia melhora, se vende mais, se produz mais, portanto, se transporta mais. O mercado se beneficia nas duas pontas: no transporte de matéria-prima para as indústrias produzirem, também conhecido como INBOUND e o transporte do produto acabado, também conhecido como OUTBOUND. Se desejar se aprofundar nesses conceitos recomendo uma visita ao link. O contrário também é verdadeiro, na crise econômica a queda vem forte também.

Aprendemos isso na Signa. Nosso foco é atuar unicamente com Sistema de Gerenciamento de Transportes – TMS para o mercado de transportes e logística. Estou falando do foco atual, no início atuávamos somente para empresas de transporte rodoviário de cargas. Na crise de 99 sentimos bem esta realidade. Sofremos e quase quebramos, mas aprendemos. Diversificamos e estendemos nossa atuação para fornecer TMS para outros modais. Passamos a trabalhar com Armadores, Companhias Aéreas e Operadores Logísticos. Na crise que culminou com o fim do segundo mandato do FHC, em 2002, passamos ao largo da tempestade. Nossa receita com os transportadores diminuiu, mas o marítimo de cabotagem estava investindo. Ter um TMS multimodal nos ajudou a crescer e a ser mais resistente a crises. Nossos ovos eram para serem consumidos por um único mercado, mas achamos diferentes tipos de consumidores de forma a não concentrarmos mais todos numa única cesta.

Continuando a série de artigos onde exploramos as diferenças entre o Transportador e o Operador Logístico, vimos que entre as seis principais diferenças, a segunda é a diversidade de ofertas: enquanto o Transportador normalmente possui uma oferta única, o Operador Logístico trabalha com múltiplas ofertas. O conteúdo completo dessa tabela está disponível aqui.

Por que a diversidade de ofertas é mais comum num Operador Logístico? Porque ele tem mais ferramentas em sua caixa, logo ele pode ofertar mais serviços. Aqui se brinca um pouco do efeito Tostines: ele vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais?

O Operador Logístico, de forma mais comum, atua também com armazenagem para o Embarcador, seja usando um CD (Centro de Distribuição) próprio ou gerenciando o CD do cliente. Ele é um forte contratante de mão de obra e de tecnologia. Quando não tem alguma expertise, ele a contrata no mercado. Já fizemos projetos com alguns Operadores Logísticos, onde mais do que implantar um sistema, apoiamos na estrutura e procedimentos da operação. É um cliente normalmente ávido por consultoria para chegar mais rapidamente em um patamar de excelência.

Parte disso decorre da mentalidade de fazer uma oferta mais ampla possível. O Operador Logístico vê com bons olhos a necessidade de investimentos em uma operação, principalmente em customizações que tornem mais complexa a troca do prestador.

Uma consequência natural disso é ele estar em uma busca frequente do que mais pode agregar para o Embarcador. Às vezes isso leva a empresa a entrar em novos mercados que não tem a ver com o serviço originalmente prestado. O aluguel de carros para os funcionários do Embarcador e o serviço de ônibus para levar os funcionários que não tem carro para a fábrica são dois exemplos reais de extensões de mercado feitas por empresas que forneciam em sua origem somente o serviço de transporte.

O maior case de sucesso neste caso é a Movida:

“Havia também o histórico da JSL, forjada no setor de transportes, dona de uma poderosa rede de concessionárias (Marca Volkswagen) e de um caixa suficientemente forrado para bancar a expansão da promissora Movida.“
Fonte: Época Negócios

A empresa já atuava na Gestão Terceirizada de Frotas. A compra da Movida levou a empresa de um faturamento de R$ 50 milhões em 2013 para 1,3 bilhão em 2015. E olha que esse artigo foi antes do bem-sucedido IPO da empresa em 2017. Essa diversificação de ir para outros mercados não é a mais comum, e não é a ela que eu me refiro. Dei o exemplo da Movida para mostrar como esta mentalidade pode abrir novas portas.

O mais comum é um mix de ofertas. Poder vender desde a terceirização completa do armazém, até a alocação da mão de obra, locar as empilhadeiras, enfim, o limite do que pode ser ofertado depende unicamente das necessidades do contratante.

E, claro, há o transporte. Desde a gestão completa da cadeia de abastecimento até o transporte específico de uma determinada região. O Operador logístico pode gerenciar o estoque, pode gerenciar os transportadores subcontratados ou cuidar de uma parte específica.

Os serviços a serem ofertados não param por aí. Já vi Operador Logístico ofertando o serviço de SAC para o cliente ou de auditoria e conferência dos fretes subcontratados.

Para ficar num único exemplo: o Transportador normalmente oferta somente um modal, sendo o rodoviário o mais comum, e ainda somente nas praças onde ele possui movimentação. São empresas com cobertura territorial restrita à região onde sua frota própria opera. A priori ele também poderia ofertar para outros destinos, estendendo a sua atuação por meio de parcerias. Isto é fácil de dizer e mais complexo para fazer. Requer know how, controles, gente dedicada a criar e gerenciar a cadeia de prestadores terceirizados. Não se trata de uma engenharia espacial, mas foge normalmente do padrão de trabalho de um transportador que não possui vocação para ser um Operador Logístico.

Aí chegamos no resultado inevitável de termos todos os ovos numa única cesta. Com uma oferta mais restrita, tem que combinar com os Russos, e torcer para a concorrência fazer a mesma coisa, e ainda para que a economia vá bem.

Foto: Freepik

 

Nuno Figueiredo

Engenheiro Eletrônico formado pela Mauá, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, é um dos fundadores da Signa, onde atua desde 95. Entre outros defeitos, jogou rúgbi na faculdade, pratica boxe e torce pelo Palmeiras.

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