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Entre o filé mignon e a carne de pescoço, eu e a torcida do Flamengo preferimos o filé. Encara a carne de pescoço quem não tem opção ou quem teve que ficar com o boi completo, e para levar o filé, tem que ficar também com os itens menos nobres.
Assim, na escolha entre ser o Operador logístico (O.L.) ou ser o Transportador, parece que o primeiro fica com filé. Há exceções, mas esta parece ser a regra. Se é assim, por que os Transportadores não se tornam OLs e porque não competem pelos serviços mais nobres?
Nem sempre isso é uma escolha. Para atuar como Operador Logístico há barreiras de entrada que as vezes parecem intransponíveis para o Transportador. A primeira delas é ser reconhecido pelo contratante como alguém que detém e também pode ofertar essa competência.
As diferenças entre um Transportador e um Operador Logístico são grandes, mas estes conceitos vivem se confundindo no mercado. Para saber mais sobre o que é um Operador Logístico recomendo este excelente artigo do Paulo Fleury.
O Operador Logístico por excelência é quem não possui ativos de transporte. Possuir veículos e ter que contratar motoristas traz para dentro da casa uma série de tarefas que tornam mais complexa a gestão e a obtenção de resultados. Quem sabe (ou deveria saber) gerenciar bem a frota e o motorista é o Transportador. Esta é a sua vocação natural. Quando adquire frota ele se tornou internamente um Operador Logístico e um Transportador e precisará de dois chapéus diferentes para gerenciar essas duas empresas dentro da sua estrutura.
Há Operadores Logísticos que fazem isso com excelência como é o caso de cases mundiais como a FEDEX e a UPS. Temos também casos como a DB Schenker que possui ativos na Europa e é Asset Light aqui no Brasil.
A verdade é que no Brasil o Operador Logístico não gosta de ter frota e quando a tem a encara como um mal necessário, fruto de parcerias mal sucedidas com Transportadores. Ele acaba adquirindo frota própria para garantir um nível de serviço ao cliente. É mais um desarranjo operacional que uma vontade estratégica de ter ativos.
O Transportador já aprendeu que só usar frota própria e motorista da casa aumenta muito os custos. Ele se utiliza sem parcimônia de agregados e terceiros para ser mais competitivo. Não é difícil chegar a conclusão que o uso da frota própria requer mais gestão e torna a apuração do resultado mais complexa.
No mercado há Embarcadores que tem frota própria. Empresas como as Casas Bahia que é uma das maiores frotistas do país. Há ainda Embarcadores que fazem a gestão do transporte dentro de casa. Eles não usam um Operador Logístico porque têm uma estrutura interna que seleciona, contrata e gerencia os Transportadores sub contratados.
E há finalmente os Embarcadores que contratam o Operador Logístico, as vezes até mais de um.
Quanto menos degraus existirem entre o Embarcador da carga e o transportador final, deveria haver um preço mais baixo, por haver menos intermediários. Então por que há Operadores Logísticos?
A resposta é que eles se justificam pela inteligência que agregam ao processo. Operando processos mais enxutos, uso maciço de tecnologia e profissionais bem formados, eles encontram oportunidades de economia que justificam o preço adicional causado por mais um fornecedor na cadeia. Eles agregam acima de tudo gestão e nível de serviço.
A tabela abaixo do Paulo Fleury, no artigo já mencionado, deixa mais claro como há mais oportunidades para um Operador Logístico. E se há Operadores Logísticos que vieram para o lado do transporte adquirindo frota, há também Transportadores que fizeram a lição de casa e oferecem serviços típicos de um Operador Logístico.
O fato é que os Transportadores que vivem comparando o custo de investimentos em tecnologia com o preço do veículo tendem a permanecer na briga por preço. A principal e a primeira barreira que dificulta ao Transportador evoluir para ser um Operador Logístico está na mentalidade, no interesse em investir em ferramentas e pessoas que permitam um uso mais eficiente de seus ativos. Sem isso é difícil o desenvolvimento de novos serviços de valor mais agregado.
Não é só a intenção que vai habilitar alguém a atingir o filé mignon, mas tenho certeza que entender onde é necessário chegar é o primeiro passo para uma série de mudanças que permitam tornar esse caminho possível.
E como já frisamos não é necessário querer ser um Operador Logístico. Ser um Transportador eficiente também trará melhoria no resultado. A mudança de mentalidade ajuda em qualquer caso. Na busca por eficiência, qualquer resultado obtido já será melhor do que não fazer nada a respeito.
Há sempre um DNA e uma estratégia que direciona cada empresa, mas independente de você ser um Transportador ou um Operador Logístico, há a certeza que agregar competências, inteligência e ferramentas aproximam a empresa do filé mignon e a tornam mais eficiente mesmo quando tem que lidar com a carne de pescoço.
Nuno Figueiredo
Engenheiro Eletrônico formado pela Mauá, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, é um dos fundadores da Signa, onde atua desde 95. Entre outros defeitos, jogou rúgbi na faculdade, pratica boxe e torce pelo Palmeiras.
Foto: Freepik
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Ultimos comentários
Nuno, achoe que a definição do Paulo Fleury para Operador Logístico Integrado ainda é ficção no Brasil por dois motivos bem simples: 1. O contratante não confia no Operador a ponto de entregar toda informação, fonte fundamental de geração de redução de custos totais 2. O Operador ainda está muito atrelado a maximização de sua própria margem, principalmente quando o cliente precisa de um serviço especial ou emergencial - momento este onde o cliente se encontra fragilizado... O mundo logístico está em evolução, mas ainda muitos passos atrás da palavra Integrado e do evento Redução do Custo Logístico Total para o cliente. Abs,