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Lembro da história de um professor que havia prometido que seu ensino, naquele dia, seria pornográfico. Claro que um grupo de adolescentes começa a prestar mais atenção no assunto simplesmente por conta desta chamada. Até que descobrem que, na verdade, o professor ensinaria a olhar para alguns dados e fazer gráficos com eles. Pôr no gráfico.
Isto me veio à memória quando comecei a me interessar pelo caso do vírus Corona, nesta variação surgida há poucas semanas na China, e que está se espalhando rapidamente, forçando alguns países a tomar atitudes de grande impacto. Imagine um país bloquear completamente todas as saídas e chegadas a uma cidade que tem um tamanho próximo da cidade de São Paulo.
E quando buscamos dados sobre esta epidemia, sempre temos apenas dados pontuais: no dia 31 de janeiro não tínhamos, oficialmente, passado de 10 mil casos confirmados e haviam pouco mais de 200 mortos. Quando, 10 dias depois, em 10 de fevereiro, você vê nos jornais que o número de casos passou dos 40 mil, e que o número de mortos se aproxima de mil, é difícil se lembrar de quantos eram no dia anterior, na semana anterior, ou 10 dias atrás.
Fica muito difícil, com dados pontuais apenas, entender a evolução do quadro. Por isto os dados históricos são importantes, e principalmente, seu comportamento dia a dia. Daí a aula do professor pornográfico ganha muita importância.
No caso desta epidemia, a Organização Mundial da Saúde, ou World Health Organization, em inglês, tem uma página onde, diariamente, os dados são consolidados e divulgados. Normalmente esta consolidação sai mais no final da tarde, e mostra o número de casos de cada dia, na China e em outros países, e o número total de mortos.
Com os dois dados acima, número de casos confirmados e número de mortes, resolvi montar uma tabela, no Excel, para tentar enxergar o que estava ocorrendo e qual a evolução do quadro. Aproveitei para tentar enxergar qual o percentual de mortes sobre os casos confirmados, mesmo sabendo que este percentual, enquanto a epidemia está em curso, não significa a letalidade da doença, mas sim sua capacidade de matar em pouco tempo. E também para tentar enxergar a evolução dos casos e das mortes, dia a dia, gerando algo assim:
Com os números em tabelas fica mais fácil enxergar a evolução, mas nada melhor do que olhar isto nos gráficos, pois enxergar se a situação está piorando ou não fica mais fácil neles.
Quando se compara o gráfico de casos confirmados com o gráfico de mortes, dia a dia, a impressão é que o número de casos oficiais está crescendo em uma velocidade menor, o que parece ser um sinal, bom, de que as estratégias usadas de isolamento estão sendo efetivas, e que o número de mortes ainda apresenta um crescimento grande, dia a dia, o que mostra que a letalidade da doença ainda é desconhecida.
Claro que há um risco grande de que vários casos, em especial em pequenas cidades, tanto na China quanto em outras partes do mundo, não estejam sendo reportados, e de que o número correto seja superior ao número oficial, mas vamos nos contentar com este último, por enquanto.
No gráfico abaixo o eixo, à direita, mostra o número de mortes e o outro eixo, a esquerda, o total de casos confirmados.
Pra reforçar isto, se olharmos a quantidade de novos casos e novas mortes, dia a dia, em um gráfico, também fica claro o comportamento acima, de perda de ritmo de novos casos, mas de aumento, dia a dia, no número de mortes. Neste caso também o incremento diário de novos casos segue o eixo da esquerda, e o número de mortes, dia a dia, o eixo da direita.
Outro dado interessante é o percentual de mortes em função dos casos confirmados. No início, com um número menor de casos, o percentual sofre uma variação diária mais intensa, mas parecia, há alguns dias, estar se estabilizando em torno de 2%. Nos últimos dias o número começa a aumentar, dia a dia, o que também fica mais fácil de ser visto em gráficos:
Muito ainda está por vir nesta novela. Só acho que, se fosse possível ver as notícias sobre o vírus da forma gráfica mostrada acima, ficaria mais fácil pra todos entender um pouco mais sobre a gravidade da doença. E talvez seria mais tranquilo para os alunos odiarem um pouco menos os professores quando o pornográfico não é exatamente o esperado.
OBS: Os dados estão atualizados com as informações da OMS até 17/02, as 12h. Como os dados mostrados acima vêm unicamente da fonte oficial citada (OMS), esta não contabilizou os novos casos indicados na China na última semana, por não ter informações suficientes sobre a forma de detecção destes casos. A explicação oficial da OMS, em tradução livre, está mostrada abaixo:
Foram relatados 13.332 casos diagnosticados clinicamente em Hubei. É a primeira vez que a China informa clinicamente casos diagnosticados, além de casos confirmados por laboratório. Para consistência, relatamos aqui apenas o número de casos confirmados em laboratório. A OMS solicitou formalmente informações adicionais sobre os casos diagnosticados clinicamente, em particular quando estes ocorreram no decurso do surto e se os casos suspeitos foram reclassificados como casos diagnosticados clinicamente.
Foto: Paul Yeung/Bloomberg
Henri Coelho
Sou fundador da Signa, casado e pai de um casal de filhos que saíram melhor que a encomenda. Já nasci corinthiano, gosto muito de futebol, vôlei e xadrez, também de matemática. Podem torcer o nariz.
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Ultimos comentários
Ótima informação. Você tem blog, Facebook, Twitter. Sabe onde achar uma tabela para os casos brasileiros, como está da China que você postou. Obrigado
Já vi aqui embaixo.obrigado
Já vi aqui embaixo.obrigado