A manada e os 300 de Esparta

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Nuno Figueiredo

11 de fev de 2020

· 5 min de leitura

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Os predadores são bons para uma manada. Eles atacam os mais lentos, os doentes que não conseguem acompanhar o bando. Com isso o rebanho aumenta sua velocidade de deslocamento, se torna mais rápido.

Isso era uma piada antiga que dizia que o álcool faz bem para o cérebro porque mata os neurônios mais fracos e preguiçosos, assim como ocorre na manada. Com isso você ficaria mais inteligente, com o raciocínio mais rápido. Acredite nisso por sua conta e risco.

A propósito, na imagem acima vemos uma manada de búfalos, que se uniu para expulsar um Leão. Acho que eles não curtiram muito o conceito acima.

Em equipes ocorre o mesmo que em qualquer manada. A equipe terá uma velocidade que será uma mediana de seus membros. Uma variação da teoria acima.

O Jack Welch, legendário líder da GE, conta que a empresa promovia avaliações anuais e promovia os 20% melhores e demitia os 20% piores. A lógica era de forma cíclica e consistente, ter uma equipe focada em resultados, e em performance. Ao eliminar os piores, teoricamente, estaria contribuindo para o efeito de melhorar a manada.

O efeito manada que você deve estar mais acostumado a ouvir é aquele onde uma multidão toma a mesma direção, sem questionar o motivo. Uma manada em disparada segue os seus líderes, mesmo que seja em direção ao precipício.

O efeito manada é muito usado para explicar porque a bolsa caiu ou subiu. Houve algum movimento que ganhou aderência, e foi sentido pelos demais como uma tendência. Aí quando atinge todo o rebanho, o impacto é forte.

Mais recentemente o efeito manada começou a ser usado nas redes sociais para categorizar, normalmente de forma pejorativa, as pessoas que seguem alguém ou alguma teoria, sem muita reflexão, simplesmente seguindo a manada. Isto ocorre principalmente na política, mas não está restrito a ela.

Mais recentemente, alguém resolveu simplificar a teoria e chama o movimento simplesmente de gado. Resumindo o comportamento das pessoas, não muito inteligentes, de seguirem a manada.

O efeito que menciono aqui é a teoria de melhorar o todo, garantindo a qualidade de cada integrante, eliminando do processo quem destoe negativamente, para se obter um conjunto mais forte. A força da corrente é dada pelo seu elo mais fraco, trocando em miúdos.

Esta situação é retratada no filme 300, lançado em 2006.

300 de Esparta - Ephialtes

No filme um deficiente, Ephialtes, pede ao rei Leônidas para se unir aos 300 na luta contra os Persas. Leônidas pede a Ephialtes que levante o seu escudo o mais alto que puder e em seguida projete a sua lança. O rei comenta que não pode aceitar a ajuda dele como soldado porque ele se tornaria um elo fraco, que faria o paredão espartano desmoronar, devido a sua incapacidade de colocar o escudo na mesma altura dos demais espartanos.

A teoria do Jack que os medíocres (em resultado) deveriam ser eliminados, caso não melhorassem rapidamente o seu desempenho, tem muitos seguidores.

Você já deve ter ouvido a respeito da gestão pelos 3Ts: Treine, Treine e Troque. Um mantra a respeito do que se deve fazer com um colaborador que não apresenta bons resultados.

Recomendações mais oportunas indicam a necessidade de colocar uma barreira mais forte na entrada. Ao elevar o sarrafo você não precisa eliminar membros, garantindo a saúde da manada ao não permitir a entrada de elos fracos. Porém, por mais cuidadoso que seja o processo seletivo, nem sempre é possível obter algo 100% confiável.

Mesmo os que seguem esta linha, são categóricos em resumir: contrate devagar e demita rápido, aconselha o bilionário Jorge Paulo Lemann, para citar um dos ícones que defende esta versão.

Seja lá qual for a linha que você ou a sua empresa acreditam, demitir não é, nem nunca foi, um esporte. O meu incômodo é a banalização de algo que precisa existir, mas tem que ter um uso moderado. Uma demissão é sempre a última forma de consertar algo errado. O erro nunca é somente de um lado.

O meu ponto é que o fato gerador de alguma ineficiência não é necessariamente algum recurso. Pode ser o ambiente, pode ser o processo, pode ser uma série de fatores limitantes ou excludentes, que não permitiram que alguém tivesse um desempenho razoável.

Finalmente, como se espera criar engajamento e espírito de pertencimento, se a gestão é um moedor de carne, pronto para eliminar recursos como se eles fossem peças de simples reposição, portanto, descartáveis?

Eu sou mais propenso a acreditar que existem requisitos de qualificação que determinam quem serve (ou não) para um determinado cargo, em uma determinada empresa. Além disso, existe a cultura da empresa, que vai impulsionar, ser neutra ou atrapalhar uma determinada pessoa a entregar bem o resultado.

Resumindo, cada um tem a sua turma, com a qual cria sinergia e se sente bem. Se você entrou na manada errada, vai ficar para trás. Voltando no filme 300, Leônidas não recusa a ajuda de Ephialtes. Ele indica que ele não serve na linha de frente, onde vai destoar e atrapalhar. Mais do que atrapalhar, ele vai comprometer o resultado como um todo. Basta uma única brecha para que todo o conjunto desmorone, dada a enorme inferioridade numérica dos espartanos.

Porém, Leônidas diz que Ephialtes é bem-vindo como um apoio na retaguarda. Talvez esta seja a melhor dica: usar a pessoa certa no lugar certo. É um bom passo para evitar um desgaste futuro.

 

Foto: 300. Dir Zack Snyder, 2007

 

Nuno Figueiredo

Engenheiro Eletrônico formado pela Mauá, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, é um dos fundadores da Signa, onde atua desde 95. Entre outros defeitos, jogou rúgbi na faculdade, pratica boxe e torce pelo Palmeiras.

 

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