O momento Tabaco

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Nuno Figueiredo

11 de ago de 2020

· 5 min de leitura

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Em 94 os CEOs das sete maiores empresas de cigarros dos EUA se sentaram lado a lado, encarando um subcomitê do congresso americano. Eles responderam a uma pergunta bem simples: Você acredita que a nicotina pode viciar?

Em 2020 os CEOS das principais companhias de tecnologia foram convidados a testemunhar perante um comitê do mesmo congresso. A história vai se repetir?

Os depoimentos dos CEOs do Tabaco podem ser vistos neste vídeo. Estes depoimentos foram um ponto de virada na história da indústria de tabaco. Substanciais evidências provarem que eles sabiam e negavam os malefícios. Os resultados foram perdas financeiras sucessivas e relevantes em vários processos judiciais. Depois disto os fabricantes passam a declarar de forma explícita que seus produtos são prejudiciais à saúde.

A indústria do Tabaco era tão poderosa que parecia invulnerável e intocável. A cena se repete agora com outra indústria mais poderosa e mais pujante: as Big Techs.

Agora são chamados Jeff Bezos da Amazon, Tim Cook da Apple, Mark Zuckerberg do Facebook e Sundar Pichai do Google. Simplesmente os CEOS dessas empresas. Estes depoimentos começaram agora, em junho de 2020.

É o início de um longo caso antitruste. O New York Times fez um link deste evento com os depoimentos dos CEOs da indústria de tabaco. Veja a manchete:

“Amazon, Apple, Facebook and Google Prepare for Their ‘Big Tobacco Moment’”

“Amazon, Apple, Facebook e Google se preparam para o seu ‘grande momento do Tabaco’ “

Google, Amazon, Facebook e Apple

Duas tragédias sucessivas no Brasil mostraram como uma grande empresa pode ser negligente e sair quase incólume das consequências de seus atos. O caso da Vale é exemplar, ninguém foi preso. O presidente foi afastado com uma gorda indenização e assim a valsa toca por aqui.

É inimaginável para nós que uma mega corporação seja colocada contra a parede. A relevância econômica se traduz em fortes contatos políticos em todas as esferas dos três poderes. Já tivemos n CPIs, nenhuma com resultado digno de louvor.

A exceção talvez fique por conta da CPI do mensalão. Ela derrubou o então poderoso ministro da casa civil, José Dirceu. Esta CPI também deu repercussão nacional ao tema e mobilizou a opinião pública e gerou o processo no supremo. Pela primeira vez vimos políticos sendo condenados em lote.

Ressalvada esta exceção, não temos no Brasil um órgão antitruste que funcione, que evite a concentração excessiva do mercado. A BRF que o diga.

Também dificilmente veremos uma comissão mista do parlamento chamando executivos para que eles se expliquem e prestem contas de seus atos.

Isso nos EUA é comum. Eles têm um longo histórico de ações antitruste. Gigantes como IBM e Microsoft já passaram por isso.

Até o momento já foram coletados, segundo o NYT, mais de 1.3 milhões de documentos a respeito dessas grandes cias de tecnologia. As acusações são sérias. Abusando de seu poder, essas empresas estariam sufocando a concorrência e prejudicando os consumidores.

E qualquer um tem acesso a estes documentos, você pode ler os mesmos neste link.

As acusações de dominação de mercado e práticas anticompetitivas podem gerar severas punições, que no limite podem fracionar os negócios obrigando, por exemplo, a venda de divisões da empresa, ou restrições de atuação, além de multas formidáveis.

No material reunido há e-mails que exemplificam supostas práticas anticomerciais. Abaixo um exemplo retirado de lá no caso da Amazon, chamado de “Plano para enfraquecer a Diapers.com”, tido como maior competidor e que tem o crescimento mais rápido nesse mercado específico.

Esses caras são o nosso principal concorrente de curto prazo...Precisamos igualar os preços desses caras, independentemente do custo.
Tradução literal: “Esses caras são o nosso principal concorrente de curto prazo...Precisamos igualar os preços desses caras, independentemente do custo.”

E o e-mail segue com o plano proposto e a conclusão. Este caso específico pode ser acessado aqui.

E que tal este e-mail do Mark Zuckerberg, do Face?

Ele é avisado que “Instagram is eating our lunch” (Instagram está comendo nosso almoço).

A resposta é bem objetiva.

“Yeah, I remember your internal post about how Instagram was our threat and not Google+. You were basically right. One thing about startups though is you can often acquire them.”
“Sim, eu lembro de sua postagem interna sobre como o Instagram era nossa ameaça e não o Google+. Você estava basicamente certo. Uma coisa sobre as startups é que você pode adquiri-las com frequência.”

O e-mail é de janeiro de 2012. A conclusão desse caso é pública. Em abril de 2012, o Facebook adquiriu o Instagram pela bagatela de US$ 1 bilhão.

E a coisa vai sempre nessa toada. Ou a gente derruba ou a gente compra. Nada novo no mercado, mas considerando o porte e o poder, a briga não é justa. Estamos falando de empresas que juntas somam um valor de 4.85 trilhões de dólares.

É para isso também que o governo deveria servir, para permitir a livre concorrência. Já falamos a respeito no post “Grandes demais para competir?”.

Se o governo americano não tivesse ido para cima da Microsoft anos atrás, empresas como o Google não existiriam. É cedo para dizer, mas lá as coisas não costumam terminar em pizza.

 

Nuno Figueiredo

Engenheiro Eletrônico formado pela Mauá, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, é um dos fundadores da Signa, onde atua desde 95. Entre outros defeitos, jogou rúgbi na faculdade, pratica boxe e torce pelo Palmeiras.

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Ultimos comentários

Reinaldo Rodorei

Nuno, bom dia. Bela publicação, enquanto a grande empresa puder fazer o que quer com a pequena empresa não teremos um mercado justo. Abraços Reinaldo Rodorei