O desafio de Gates

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Nuno Figueiredo

01 de out de 2019

· 7 min de leitura

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Bill
Gates
Foundation
saneamento
mudança
climática
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O que você faria se ganhasse sozinho na Mega Sena?

O que você faria se resolvesse se aposentar com alguns bilhões na sua conta?

A resposta fácil é consumir, viajar o mundo.

E se você for o Bill Gates, que já foi o homem mais rico do mundo?

Ele hoje é o segundo da lista. Não porque empobreceu, e sim porque doou parte de sua bilionária fortuna para a fundação que ele dirige, a Bill e Melinda Gates Foundation.

Ele fez mais do que isso, fez o seu amigo Warren Buffet, outro bilionário conhecido como o Oráculo de Omaha, também doar uma parte significativa da sua fortuna para a mesma fundação.

E com bilhões na conta dá para fazer a diferença, certo? Bom, depende. Se a escolha fosse sair doando dinheiro a causas humanitárias, claro que isso faria a diferença. Dinheiro sempre ajuda, mas a forma como ele é empregado faz toda a diferença.

É aí que ser o Bill Gates torna a coisa mais complexa. Ele não quer minorar o problema, ele quer resolver o mesmo. E isso é uma grande diferença na abordagem.

E dependendo do tamanho do problema, muitos bilhões se tornam pouco dinheiro de forma muita rápida. O foco em otimizar o resultado é, além de surpreendente, necessário.

A fundação estabeleceu alguns objetivos, entre eles: erradicar doenças e resolver o problema da mudança climática. Nada modesto, não é?

Algo óbvio para a fundação, que aqui no Brasil ainda ignoramos, é que não existe saúde sem saneamento básico. Doenças como a diarréia matam somente em lugares onde não há condições mínimas de higiene. Aí o desafio passou a ser como fornecer isso em lugares onde falta tudo, não há água encanada, não há eletricidade.

Os países desenvolvidos já resolveram esse problema no século XIX. Isso é algo custoso de fazer. Resolver isso da forma convencional custaria mais recursos do que os disponíveis pela fundação. O tamanho do desafio requer outra abordagem.

É aí que entra a inovação. Resolver o problema usando tecnologia e buscando soluções criativas. O Bill Gates ofereceu um prêmio de US$ 7 milhões para quem inventasse uma privada que trata os resíduos sem precisar de encanamento e de eletricidade. Simples não?

E eles conseguiram. O desafio agora é tornar isso economicamente viável, ou seja, a um custo que permita implantar isso em larga escala.

E eles fizeram mais, criaram um sistema autossustentável. Uma estação de tratamento de resíduos que permite centralizar em alguns locais o tratamento de resíduos que hoje são jogados ao ar livre ou no córrego mais próximo, poluindo a água.

E como se resolver o problema da mudança climática? A resposta é usar energia limpa. O mundo está trabalhando para reduzir a emissão de CO2 e inciativas como carros elétricos são parte da resposta em curso.

Ainda assim precisamos gerar energia. E há um custo para isso, em qualquer um dos métodos disponíveis, há impacto para o meio ambiente.

E aqui cabe um parêntese. Não importa se você acredita ou não no efeito estufa. Ter menos CO2 significa respirar um ar melhor. Muita gente que tem problemas respiratórios sofre, e tem a sua vida abreviada, simplesmente por viver numa grande cidade que normalmente tem sérios problemas de poluição do ar.

E qual a saída? Segundo o Bill Gates, a resposta está na energia nuclear. O problema é que depois de Chernobyl, o mundo não quer mais investir em energia nuclear. Ela é perigosa e, quando algo dá errado, milhares podem morrer.

Esta percepção não está errada. A sacada genial é olhar para o problema sob outra ótica. A energia nuclear é a forma mais limpa de geração de energia que temos. O impacto dela para o ambiente é zero. A questão é como fazer isso de forma segura, o que implica em aperfeiçoar o processo e os métodos usados.

Os modelos atuais foram projetados de 1950 a 1970, são projetos ultrapassados. Hoje é possível simular novos modelos em um supercomputador e testar hipóteses de forma virtual até que se chegue em uma solução segura. Somente aí se inicia a parte real e física. E é neste estágio que a fundação se encontra, com o modelo teórico pronto para ser testado na prática.

O que estas duas ações tem em comum é olhar os problemas sob novas perspectivas, não pensar em paliativos, e sim em soluções definitivas, usando criatividade e muita tecnologia.

Isso requer uma gestão muito profissional e, claro, muito dinheiro. A fundação tem ambos em dose suficiente para ser bem-sucedida.

Em ações como erradicar a pólio, eles já foram muito efetivos. Não conseguiram a erradicação, mas enfrentam desafios enormes como áreas tomadas por guerrilhas que impedem o trabalho das equipes médicas.

Isto é um resumo do que você pode assistir no novo documentário da Netflix a respeito do Bill Gates: Inside Bill´s Brain: Decoding Bill Gates. Neste link o trailer oficial. 

 

O que eu realmente acho formidável é que um bilionário que se aposentou dedicar o seu tempo e energia a melhorar o mundo. Há muita controvérsia a respeito do Bill Gates empreendedor. Ninguém se torna líder de um mercado tão competitivo como o de software sendo um cara legal. A jornada da Microsoft é marcada por tentativas de monopolizar o mercado e criar barreiras e dificuldades aos concorrentes.

Dependendo de quem conta a história, você pode achar ele um gênio ou alguém do mal. Como se alguém pudesse ser catalogado como nos gibis, onde ou você é o herói ou é um vilão, não há zonas cinzentas.

O Jeffrey Hammerbacher, ex-executivo do Facebook, disse à Bloomberg:

"As melhores mentes da minha geração estão pensando em como fazer as pessoas clicarem em anúncios".

O Gates empresário sempre foi alguém controverso. Seja lá qual for a sua opinião sobre o Bill empresário, o Bill que toca a fundação é um exemplo a ser seguido. Bom ver que alguns cérebros estão a serviço de causas mais importantes. Torço muito para que Gates vença os seus atuais desafios.

                                                                                                               

Saneamento básico no Brasil

A série da Netflix trata a respeito de problemas de países subdesenvolvidos. Sendo um país em desenvolvimento, o Brasil tem uma situação melhor que algumas países africanos retratados na série, mas ainda temos uma lição de casa onerosa pela frente.

Coleta de esgoto

A situação é ruim. Apenas 66% das casas brasileiras tem acesso à rede de esgotos. O pior colocado é o Piauí, com apenas 7% das casas com esse acesso. Na grande São Paulo é fácil achar comunidades sem água encanada, sem acesso a esgoto e onde você vê crianças brincando perto de córregos que possuem dejetos ao ar livre.

Basta dizer que a cidade mais rica do país possui dois rios que cruzam a cidade, o Pinheiros e o Tietê, que já foram um dia navegáveis, com água potável, onde alguns nadavam. Hoje são uma grande privada a céu aberto.

Os rios são considerados mortos. Você sabe que está entrando em SP quando sente o cheiro de podre que emana desses rios.

O impacto direto da falta de saneamento básico são as doenças. Ao não gastar no que é básico, gastamos três vezes mais tentando curar os efeitos colaterais, sem investir na causa origem.

Internações por carência de saneamento básico

É fácil você verificar que onde há menos saneamento básico, o número de internações aumenta de forma inversamente proporcional.

Estes gráficos foram obtidos do site Aosfatos.Org.

Quem fala de melhorar a saúde sem falar de saneamento básico é alguém que não quer resolver o problema. Não sou eu quem diz, é o Bill Gates.

Nuno Figueiredo

Engenheiro Eletrônico formado pela Mauá, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, é um dos fundadores da Signa, onde atua desde 95. Entre outros defeitos, jogou rúgbi na faculdade, pratica boxe e torce pelo Palmeiras.

 

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Ultimos comentários

HELIO SA

Sensacional!! Torça também que dê muito certo!!