Não é sorte, é trabalho

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Nuno Figueiredo

02 de fev de 2021

· 5 min de leitura

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Abel Ferreira
Luxemburgo
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"O medo de perder tira a vontade de ganhar" - Vanderlei Luxemburgo

O Luxemburgo cunhou essa frase maravilhosa quando estava à frente do Bragantino. Foi ali que ele ganhou visibilidade como técnico, ganhando a série B do Campeonato Brasileiro em 89 e o Campeonato Paulista de 90.

De lá para cá, ele ganhou cinco vezes o Brasileiro e nove vezes o Paulista. Ele chegou a dirigir a seleção Brasileira e o Real Madrid. Ninguém pode lhe tirar os méritos e a carreira vitoriosa, mas ele hoje é a imagem de um profissional que parou de estudar, de se atualizar, e se tornou irrelevante.

E é sobre estratégia, táticas e preparação que vamos falar.

Nos últimos anos Luxa acumula períodos ruins, e pouco, ou nenhum resultado. Ele teve, talvez, a chama da vela, ao dirigir o Palmeiras em 2020. Conseguiu ganhar o Paulista mais uma vez, mas o time jogava mal. Parecia um time mal treinado, apesar de ter um elenco recheado e milionário.

Ele teve o mérito de trazer talentos da milionária base do Palmeiras, mas isso foi quase uma imposição dos tempos de vacas não tão gordas que o time enfrentou. Ainda assim, ninguém lhe tira o mérito de revelar Gabriel Menino e Patrick de Paula, entre outros.

Mas ele caiu. Não só por falta de resultado, mas por falta de mostrar um trabalho de alto nível.

Isso ficou patente depois que o técnico assistente assumiu o time; E ficou escancarado com a chegada do técnico português Abel Ferreira.

Chega a ser ridículo comparar os currículos dos dois. O Abel não tinha nenhum título na carreira, nunca tinha dirigido nenhum time grande. O Luxa é um ícone, pode estar em decadência, mas nada apaga as suas realizações.

A grande diferença é que o Abel estuda, estuda e estuda. Essa é a grande lição que qualquer profissional ou empresa não podem esquecer. Se você não se mantém atualizado, não continua estudando, mesmo com um histórico vencedor, você ficará irrelevante.

E eu tenho para mim que a falta de preparação leva ao medo. O medo como bem ensinou o Luxa tira a vontade de vencer. Essa parece ser a cartilha da maioria dos técnicos Brasileiros atualmente. O time faz um gol e recua para garantir o sofrimento da torcida até o final.

Foi assim que o Luxa virou o rei do empate nos seus últimos dias no Palmeiras, não raro, perdendo nos minutos finais.

Isso não é só com ele. Lembro do Felipão na sua última passagem no Palmeiras. Jogando na Bomboneira, o time estava bem, dominando o jogo. Abriu o placar e aí veio a covardia de recuar um time ainda no primeiro tempo. Eu entendo fazer isso faltando 10 minutos para acabar o jogo. Desgraça anunciada, o Palmeiras perdeu. Foi eliminado pelo Boca.

Alguém já disse que a melhor defesa é o ataque. Funciona bem no xadrez para mim. Voltando ao Abel, a filosofia dele é de jogar para ganhar. Fez o primeiro, vai em busca do segundo. Fez o segundo, vai em busca do terceiro. Não é só teoria.

Foi essa pegada que fez o Palmeiras fazer um placar inédito e histórico de vencer o River na Argentina, numa semifinal por 3 x 0. E ficou barato, o time em nenhum momento tirou o pé.

Outra filosofia oportuna do Abel é as 24 horas após o jogo. Ganhou? Comemora por 24 horas e volta para treinar e focar no próximo jogo. Perdeu? Chora por 24 horas e volta pro batente.

Os torneios assim como a vida, não se resumem a um único jogo.

E o que mais gosto no Abel: Ele é humilde. Assumiu que o Galhardo, técnico do River Plate, é melhor do que ele. Tem ciência do seu estágio atual, e essa é a chave para ele se aprimorar. Quem acha que sabe tudo não estuda mais. Para de evoluir.

O Abel lidera pelo exemplo, pelo trabalho. Algo raro hoje em dia. Tá cheio de gestor cobrando as suas equipes sem dar o exemplo. Por isso ele ganhou a confiança e cumplicidade do elenco que dirige.

Aliás, falando em empresas, não tem como comparar os times do Santos e do Palmeiras em termos de gestão. O Santos é um time em crise, sem dinheiro, metido em escândalos, com impeachment recente de um presidente. O Elenco atuava com salários atrasados. O time, por dívidas não pagas, estava proibido de contratar novos jogadores pela FIFA.

Apesar do mérito do Cuca e do desempenho brilhante dos seus jogadores, liderados pelo Marinho, que ganhou merecidamente o troféu de melhor jogador do torneio, o Santos não merecia ganhar para o bem da gestão bem feita.

Seria um péssimo exemplo que no meio duma crise gerencial, na hora do vamos ver, achar que os talentos resolvem. Não resolvem. Nada substituiu o trabalho zeloso e contínuo. Óbvio que existirão exceções, mas via de regra, os clubes e empresas com a melhor gestão, terão melhores resultados no médio e longo prazo. Taí o Cruzeiro que não nos deixa mentir.

Em seu primeiro trabalho num time grande, com muito pouco tempo, o Abel Ferreira fatura seu primeiro troféu. E que começo, ele ganhou só a Libertadores. Ele repete o sucesso que outro português, o Jorge Jesus, teve no ano passado no Flamengo.

O PVC fez um artigo onde ressalta a excelência que os treinadores portugueses têm alcançado, via muito estudo.

Os portugueses ganharam 72 títulos em 30 países, depois de fazerem a universidade unir o sentido teórico à prática do campo de jogo. Abel Ferreira é um bom exemplo do que Portugal já conseguiu no futebol.

Não é sorte, é trabalho.

 

Nuno Figueiredo

Engenheiro Eletrônico formado pela Mauá, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, é um dos fundadores da Signa, onde atua desde 95. Entre outros defeitos, jogou rúgbi na faculdade, pratica boxe e torce pelo Palmeiras.

 

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Ultimos comentários

Hélio Sá

Belo texto!

REINALDO LIMA BARRETO

Nuno, boa tarde. Belo artigo, concordo com tudo que você escreveu, parado você não evolui. Parabéns