Dane-se a motivação

“Construí um império de fast food, com 1600 restaurantes em 52 estados e 5 países, com uma renda anual de cerca de 700 milhões de dólares. Com uma palavra: Persistência.

Nada neste mundo supera a boa e velha persistência.

O talento não supera, não há nada mais comum que talentosos fracassados.

A genialidade não supera, um gênio desconhecido é praticamente um clichê.

A educação não supera, o mundo está cheio de tolos educados.

A persistência e a superação são muito poderosas.” – Ray Kroc – fundador do Mc Donalds.

E a motivação onde fica? Você não precisa de motivação, você precisa é de disciplina.

Está na moda dizer para irmos atrás dos nossos sonhos. Faça aquilo que você gosta! Tenha um propósito, e então você terá a motivação necessária para o sucesso. Ou como diz o Jorge Paulo Leman “Sonhar grande dá o mesmo trabalho de sonhar pequeno”.

Não discordo de nada disso. É importante um sonho, ter objetivos a alcançar e estipular metas. Saber onde se quer chegar é uma parte imprescindível da jornada. O problema nisso tudo é que cria a sensação de que o que conta é a motivação. Isso é um caminho sem volta para a frustração.

Um fato é que ninguém consegue estar motivado o tempo todo. Se você não se sente motivado já começa a achar que a sua vida, o seu emprego e o seu casamento estão errados.

Os primeiros anos de nossa vida certamente não funcionam baseados em motivação. Espere uma criança ou um adolescente irem para a escola somente nos dias em que se sentirem motivados e depois me conta o resultado. Não funciona.

Eles vão para a escola porque isso lhes é imposto como um dever, uma obrigação. Claro que a gente conta para eles que isso é para o bem deles, que estudar é necessário para ser alguém na vida, que sem estudo não se vai a lugar nenhum, etc. e tal. E no final das contas o que faz a roda girar é que não há outra escolha. Uma família não é, nem nunca foi, uma democracia. Quando nenhum outro argumento funciona, a coisa fica mais ou menos assim: “você vai porque eu estou mandando, e pronto!”.

São necessários muitos anos para que um indivíduo opte por estudar por conta própria. Normalmente quando estamos prontos para valorizar e pagar pela educação, já somos adultos, com mais maturidade.

Ainda assim, quantos já não se inscreverem várias vezes em algum curso de inglês e largaram pelo caminho? O motivo é que desanimaram. Não se sentiam mais motivados a continuar. Aprender uma língua estrangeira é um investimento para alguns anos, não meses ou semanas. Não acredite naquela propaganda que promete fluência em 10 semanas, você vai gastar 70 dias e continuar sem ter fluência. Na verdade, o mais provável é que você gaste uma grana comprando um material didático que ficará largado em menos de dois meses.

A não ser que você tenha disciplina.

E que tal você oferecer para a sua equipe que a emenda de feriado será ponto facultativo, só deve vir quem estiver motivado? Depois me conta quantos apareceram para a labuta. As pessoas não trabalham por motivação, trabalham porque precisam e porque têm contas para pagar. A motivação é um impulsionador, nunca algo essencial, sem o qual na próxima segunda não iremos ao trabalho.

A persistência que o Ray Kroc comenta é simplesmente você ficar firme no seu objetivo, e não desistir. Você vai precisar investir muito tempo antes de perceber algum retorno e a sua motivação irá crescer conforme o seu desempenho melhora. Isso requer esforço, requer paciência, requer disciplina.

A motivação vem do resultado que aparece após muito esforço e não ao contrário. Se você esperar para ter a motivação suficiente, você vai procrastinar. Assim vamos adiando aquele projeto, aquela dieta, um novo hobby, fazer dança de salão, etc. A lista é interminável.

Outro engano comum é achar que só quem faz o que gosta é feliz, e que vai sorrindo para o trabalho. Não conheço nenhuma atividade onde só existam coisas legais e prazerosas para fazer. Em qualquer atividade há a necessidade de controle de atividades, custos, gestão de pessoas, reuniões com fornecedores, entre outros afazeres, além do trabalho em si. É muito bom trabalhar com algo que a gente gosta, mas não se iluda achando que isso significa que não há dias chatos e tarefas chatas, porém necessárias.

Na maioria das vezes simplesmente há um trabalho a ser feito e pronto.

Você chega em casa depois de um dia difícil e tudo o que você quer é deitar no sofá na frente da TV e relaxar. E quem faz a janta das crianças? Quem lava a louça? Quem cuida das roupas? A sua esposa também trabalhou o dia todo, e aí? Ah, não tá motivado? Ok, faz do mesmo jeito.

Em determinada época da minha vida, eu nunca achava tempo para fazer exercícios. E fui ficando sedentário, aumentei o tamanho do “panceps”, meu músculo mais proeminente, e comecei a ganhar peso.

Ir para a academia à noite simplesmente não funcionava. Sempre acontecia algo durante o dia que tirava o meu pique. Mesmo quando o dia foi ótimo, qualquer desculpa servia. Está muito trânsito, está muito quente, está muito frio, enfim, quando dava muito certo, eu ia uma vez por semana, duas contando com o sábado, quando muito.

Até que eu resolvi ir as 6 da manhã. Isso significa levantar muito cedo. Para estar na academia as 6 da manhã, pronto para malhar, tinha que levantar as 5. E por incrível que pareça isso funcionou para mim. Pratico boxe há 6 anos, duas vezes por semana. Nos outros dias faço corrida e quando dá, academia. Eu sou daqueles que odeia puxar ferro. Eu sei que é necessário e importante, mas não consigo gostar disso. Passei a encarar isso como se fosse um remédio. É para tomar e pronto.

Não acho que isso é a solução para qualquer um. Isso funciona para mim. A única certeza é que seja qual for a tua estratégia, a coisa não flui sempre no mesmo ritmo. Tem semanas que consigo ir todos os dias, tem semana que o máximo que dá é ir 3 vezes. O importante é ter a disciplina e persistir.

É importante não confundir as coisas. Quando comecei a treinar boxe foi complicado, o exercício é muito intenso e eu não conseguia acompanhar. Saia me arrastando no fim do treino e ficava o dia todo sentindo dores do esforço feito. O meu ponto é que não se entra em forma para poder treinar boxe, e sim se treina boxe para poder entrar em forma. Se você coloca como fundamental para a sua motivação estar apto, você vai desistir muito cedo ou talvez você nem comece.

Apenas uma ressalva, não estou dizendo que a motivação não é importante. Fica muito mais fácil encarar qualquer desafio quando estamos bem motivados. O meu ponto aqui é não se agarrar à necessidade da motivação, porque ela é crônica, e quando ela dá uma volta, temos que continuar remando, até que ela retorne.

Se você nunca consegue estar motivado para fazer algo, aí é outro assunto. Há coisas que simplesmente temos ojeriza. Por exemplo, eu não gosto de ver sangue, logo nunca seria médico. Se você está na profissão errada, o teu problema é vocacional, não de motivação.

Um outro exemplo. Em 2006 resolvi fazer um MBA, e resolvi fazer aos sábados. Durante dois anos ficava um sábado inteiro, a cada 15 dias, tendo aulas das 08:00 até as 18:30. Foi a forma que achei para viabilizar a agenda e impedir que algum compromisso ou reunião me fizesse perder aulas.

E eu tinha uma excelente motivação para me empurrar: a mensalidade era salgada. Não se pode jogar tanto dinheiro fora, logo o jeito foi explorar ao máximo e fazer valer a pena. E eu estaria mentindo se dissesse que todo sábado eu ia empolgado para adquirir novos conhecimentos.

Ninguém disse que seria fácil. Nunca é. Qualquer coisa que vale a pena requer esforço. Alguém já disse que o único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário. Como ensina o Ray Kroc, a persistência e a superação são muito poderosas.

 

Nuno Figueiredo

Engenheiro Eletrônico formado pela Mauá, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, é um dos fundadores da Signa, onde atua desde 95. Entre outros defeitos, jogou rúgbi na faculdade, pratica boxe e torce pelo Palmeiras.

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