E agora?

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Nuno Figueiredo

14 de abr de 2020

· 6 min de leitura

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A pergunta de um milhão de dólares é: o que fazer agora? Quais passos devem ser tomados, com qual cenário iremos lidar?

Algo já está definido: este é um ano para sobreviver. Com poucas exceções, que foram beneficiadas pela crise, e sempre há alguém neste caso, a grande maioria das corporações se prepara para ser resiliente e chegar ao fim do ano com a menor perda possível, visto que é inevitável não perder.

Previsões do PIB nacional variam de -2,5 a -5 % de queda. É possível ver qualquer número, até fora dessa faixa. Não vi nenhuma projeção que não trabalhe com um PIB negativo.

É difícil enxergar coisas positivas no horizonte. As demissões já começaram. A Rock Content anunciou a demissão de 20% de seu quadro. A startup Max Milhas demitiu numa única canetada 167 colaboradores. Nenhuma crítica aqui. Tive a oportunidade de ler a carta dos respectivos CEOs. Demitir é sempre a última coisa a fazer, mas, esgotados os demais recursos, cortam-se os dedos para salvar o braço, ou corta-se o braço para salvar o resto.

Eu me considero um otimista, e tento sempre exercitar o viés mais agradável de uma situação. Todo mundo que opera no Comercial tem que ser um otimista, a menos que venda terrenos no cemitério.

Para desanuviar, me lembra a piada do presidente que mandou chamar dois consultores, um otimista e um pessimista, para ter duas visões extremas de como resolver a crise. Entra o primeiro consultor. Ele pede a síntese de sua visão:

- Presidente, acredito que até o final desta crise estaremos todos comendo capim.

O presidente se exalta e reclama ao seu assessor: - Eu pedi para começar com o otimista e você me mandou o pessimista!

Ao que o consultor replica:
- Eu sou o otimista Sr. Presidente. O pessimista acha que não vai ter capim para todo mundo.

Não temos todos os dados para saber o tamanho desse problema, mas parece certo que ele irá se acentuar. O que podemos fazer é traçar cenários, do mais otimista ao mais pessimista, e tentar ter um plano plausível de medidas a tomar em cada cenário, onde for possível.

Não há uma receita que sirva para todo mundo. Cada empresa tem a sua realidade para lidar. O desafio é grande para todos, mas é pior para uns do que para outros.

No cenário mais otimista a coisa toda se resolve até fim de maio. Achata-se a curva, vai se retomando as atividades. O vírus não dá um reboot e, algum cientista iluminado descobre um remédio 100% eficaz que torne essa mais uma das mais de 5 mil doenças catalogadas.

Cenários mais conservadores apontam que isso ainda vai durar meses, melhorando entre setembro e dezembro.

Os cenários mais pessimistas lidam com longo prazo e períodos de atividade mais regular com períodos de isolamento, principalmente no inverno, até que uma vacina enfim esteja disponível, e em larga escala.

É fácil perceber que quanto mais longo o período que permanecemos restritos maior o estrago geral. Nenhuma empresa consegue permanecer sem praticar sua atividade por muito tempo. Não importa o porte, toda estrutura econômica precisa operar para se manter.

Há um movimento interessante de grandes empresas se engajando num movimento: “Não demita”. Eu sugiro outro, também fundamental: “Não estrangule o seu fornecedor”.

Há casos de mega estruturas que de cima para baixo interromperam seu fluxo de pagamentos de forma generalizada, em horizontes de 90 a 120 dias para retomar. Grandes empresas têm mais caixa, mais reserva e maior acesso a linhas de crédito para aguentar uma tempestade. As pequenas e microempresas, principalmente, não tem. Jogar para a frente os compromissos pode ser uma sentença de morte aos fornecedores de menor porte.

Não faz sentido se preservar à custa de terceiros. E pior, o mercado é um só, esse efeito volta como um bumerangue, ou seja, piora o cenário como um todo e aumenta o atrito que todos terão para navegar e sair desta crise.

Eu recebi um post interessante, onde o autor questionava a frase de “Estamos todos no mesmo barco”. O argumento é que estamos todos na mesma tempestade, mas não no mesmo barco. O seu barco pode afundar e o meu não. E vice-versa.

A melhor metáfora seria que estamos todos na mesma tempestade, no mesmo transatlântico. Cada um na sua realidade. Uns no porão, outros na cabine super luxo. Uns estão sendo servidos e estão isolados trabalhando em Home Office, outros aproveitam o isolamento para estudar. Alguns são essenciais e tem que continuar trabalhando para que a coisa toda funcione. Os da linha de frente estão arriscando as suas vidas em prol dos isolados.

Em comum, os erros de uns podem afetar os outros. Se você estiver sozinho no seu barco e acha que é uma boa não tomar nenhum cuidado porque essa tempestade é uma marolinha, seria um problema só seu. O triste de estarmos todos no mesmo grande barco é que as ações de uns, ou a falta delas, afetarão a todos. Quando o Titanic foi a pique todas as classes sociais ficaram sem navio.

Conversando com um amigo, ele me deu um cenário que tenta trazer alguma paz. Tudo passa. Não há onda positiva, ou negativa, que permaneça. Ele ensina: se está tudo indo muito bem, isso não vai durar. Logo algo vai começar a dar errado. Se está tudo indo muito mal, isso também vai passar. Tudo passa. Que passe logo!

 

Nuno Figueiredo

Engenheiro Eletrônico formado pela Mauá, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, é um dos fundadores da Signa, onde atua desde 95. Entre outros defeitos, jogou rúgbi na faculdade, pratica boxe e torce pelo Palmeiras.

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