Depois dos 50 mil

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por

Henri Coelho

23 de jun de 2020

· 5 min de leitura

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Na última semana o Brasil atingiu, infelizmente, duas marcas muito tristes: 50 mil mortes confirmadas pela Covid-19, e 1 milhão de pessoas oficialmente infectadas. O número que mais impressiona é o primeiro, embora de magnitude menor, pois significa que milhares de famílias sequer tiveram a oportunidade de se despedir de seus mortos de forma digna.

Os dois números certamente estão errados, e lamentavelmente, estão subdimensionados. Ainda neste domingo o jornal Folha de São Paulo trazia uma informação sobre a quantidade de mortes que foram catalogadas como SRAG – síndrome aguda respiratória grave – em 2020, que é de mais de 23 mil mortes, contra 1.800 no ano passado. Certamente vários destes foram mortos por Covid-19 sem que os testes pudessem ser feitos.

O número de infectados é subdimensionado pois faltam testes para serem aplicados em todas as pessoas que procuram atendimento. São inúmeros os exemplos que nos mostram isto.

Um de nossos colaboradores teve a Covid-19, se recuperou bem após internação por mais de 1 semana, com suporte de oxigênio, mas sua esposa, que também tinha sintomas, mas que não precisou de internação, sequer foi testada no hospital.

Ainda hoje ouvi outro caso, de uma funcionária terceirizada na limpeza do prédio, que apresentou sintomas, procurou o hospital e foi preventivamente afastada do trabalho por 14 dias, mas como não precisou de internação não foi feito nenhum teste e fica apenas como caso suspeito, e não confirmado, da doença.

Iguais a estes devem ter milhares, ou alguns milhões, pelo Brasil todo. Há estimativas que apontam o número correto de contaminados em 7 ou 8 milhões, a esta altura.

Mais triste ainda do que ver estes números, é imaginar que esta onda da doença ainda está longe do fim. E alguns dados, infelizmente, reforçam isto.

Abaixo a curva de mortes no Brasil, semana a semana, com o dia mostrado sendo o dia que fecha a semana. Ao contrário de muitos países que iniciaram a reabertura da economia após a queda do número de casos, o Brasil iniciou antes em vários locais, e os casos voltaram a subir.

Mortes semanais - Brasil

Observe que os casos tinham subido de forma mais lenta no início, depois de forma mais rápida e, agora, apresentam uma leve subida, quase uma estabilidade ou um platô.

A página OurWorldInData.org mostra o comportamento da curva diária de mortes por país, neste caso considerando sempre a média dos últimos 7 dias para facilitar a visualização da tendência, e observem que, ao contrário do que ocorre nos EUA, por exemplo, nossa curva ainda não é descendente:

Daily new confirmed Covid-19 - Brazil and USA

Retirando os EUA do mapa, para que os dados possam ser melhor exibidos, pela adequação do gráfico, e mostrando comparativo com outros países muito afetados pela Covid-19, como a França, Itália e Reino Unido, observem que o comportamento da curva de mortes é mais semelhante entre estes países e os EUA, de rápido crescimento de mortes no início e de uma queda mais lenta do número de mortes ao longo do tempo:

Daily new confirmed Covid-19

No caso do Brasil a curva tem um comportamento distinto, numa subida mais lenta dos casos, o que torna difícil prever o comportamento da curva de descida do número de mortes no tempo. E ainda não sabemos quando chegaremos ao pico de mortes, pois ainda há aceleração nos casos.

No caso do Estado de SP a curva atual, de óbitos, é esta:

média de mortes dos últimos 7 dias - SP

Novamente uma curva em subida, que mostra ainda não ser o momento de fazer a reabertura da economia, como foi comentado no último post.

Falando ainda de São Paulo, mas agora da região metropolitana, veja este gráfico que agrupa as mortes por faixa etária, e por renda domiciliar – neste caso pegaram a renda média domiciliar pelo CEP de residência do falecido:

Mortes confirmadas por Covid-19 por idade e renda. Mapa de calor

A interpretação mais simples é: o maior risco está na camada mais velha e pobre da população, que é quem está sofrendo mais com a pandemia, e é quem menos tem recursos e condições de ficar em casa, de trabalhar em home-office, e que fica completamente desamparada, muito mais exposta ao vírus. Mais um dado horrível deste momento que vivemos.

O último dado triste deste post fala um pouco de como se comportou a curva na Itália. Antes da semana de pico haviam morrido pouco mais de 9 mil pessoas. Nas semanas que se seguiram à semana de pico morreram quase 20 mil pessoas, ou seja, durante a descida da curva morreram duas vezes mais pessoas que a subida da curva.

No caso dos EUA até o início da semana de pico morreram mais de 37 mil pessoas. Depois da semana de pico já morreram mais de 66 mil pessoas, quase o dobro. E eles não estão ainda perto do final da curva, pois pela média ainda morrem mais de 600 pessoas por dia lá.

Espero que no nosso caso a curva seja invertida, e que diminua rapidamente o que foi crescendo lentamente, para que não cheguemos, até o final de agosto, atingindo o terrível número de 100 mil mortos previstos pelo ex-Ministro da Saúde, Mandetta.

Que Deus nos ajude.

 

Henri Coelho

Sou fundador da Signa, casado e pai de um casal de filhos que saíram melhor que a encomenda. Já nasci corinthiano, gosto muito de futebol, vôlei e xadrez, também de matemática. Podem torcer o nariz.

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