A falta de criatividade chegou em Star Wars

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Nuno Figueiredo

21 de jan de 2020

· 5 min de leitura

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falta de criatividade
Star Wars
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O Daniel Pink ensina que usar o lado direito do cérebro será um diferencial competitivo predominante em um futuro cada vez mais próximo. Com os robôs dominando cada vez mais as competências do lado esquerdo do cérebro, o que irá nos distinguir e diferenciar, será trabalhar mais no campo onde os robôs, por enquanto, não conseguem atuar.

Um ponto fundamental é a criatividade. Ele exemplifica com o aparelho de TV. Criaram a tela plana. Depois veio tela o aumento do tamanho, 32, 40, 50, 60, e 70 polegadas. Até onde vai? Sem inovação, a tentação é lançar como novidade outro tamanho.

O mesmo ocorre com as lâminas de barbear. No começo era uma lâmina, viramos para duas, três, quatro, cinco, e agora já existem aparelhos com 6 lâminas. Quem precisa de tanto?

Gillette 6 lâminas

Ou no desodorante. Já tem no mercado itens que prometem proteção contra mau cheiro por até 48 horas. Ficar 48 horas sem tomar banho, não é algo desejável, pelo menos não por aqui.

Aí chegamos no maravilhoso universo de Star Wars. Me parece que eles esgotaram a fórmula de sucesso, e estão sofrendo da falta de criatividade. Quando não dá para fazer algo novo, lá vem o velho de sempre, reembalado para parecer diferente.

Salvo se você for de outro planeta ou totalmente avesso a ficção científica, certamente você viu pelo menos os três filmes da saga original. Se não viu, sem problemas, eu conto o suficiente para você entender a metáfora.

Na luta do bem contra o mal, um aprendiz de Jedi, Luke Skywalker, enfrenta o vilão Darth Vader, um lord Sith que usa o lado negro da força. Você descobre no primeiro filme que Luke é filho de Anakin, um poderoso Jedi que foi assassinado por Darth Vader.

Darth Vader vs Luke Skywalker

No melhor filme da saga, “O império contra ataca”, a grande revelação: Darth Vader é o próprio Anakin Skywalker, pai de Luke. Ele era o Jedi mais promissor e foi convertido para o lado negro.

O império desenvolveu uma nova arma, a estrela da morte, que tem como diferencial a capacidade de destruir um planeta inteiro com um único tiro. No episódio final, “o retorno de Jedi”, Luke converte o Darth Vader de volta ao lado bom da força. O imperador morre, a estrela da morte é destruída, e parece que irão reinar anos de prosperidade.

São filmes excelentes, que marcaram época e mudaram a indústria. Star Wars foi o pioneiro em fabricar e vender produtos com os ícones do filme, criando uma prática que hoje é seguida por vários blockbusters.

Vieram novas continuações. Fizeram uma sequência de três filmes que contam, em resumo, como Anakin Skywalker se tornou um Jedi e mais tarde Darth Vader.

Você aprende que ainda menino, Anakin já era considerado velho pelo mestre Yoda para aprender a ser um Jedi. O treinamento normalmente começa com 4 anos. O Luke Skywalker começou o seu aprendizado no final da adolescência, ainda assim passou por um período de treinamento.

Nos filmes mais recentes os produtores do filme resolveram adotar os métodos ágeis, e voilà, temos uma mulher Jedi, a Rey, que não precisou de nenhum treinamento para enfrentar o Kylo Ren, sobrinho de Luke, que foi treinado desde a tenra infância.

Um paralelo que me ocorre é a tendência atual de dar menos importância ao diploma e focar nas habilidades e competências. Um maior respeito ao autodidata. O ponto é que isso não significa que os anos de estudo deixaram de ser relevantes, apenas a forma como se mede é que progrediu, e parou de se apoiar em cima de diplomas. Não basta ser formado, tem que ter o conhecimento e saber aplicá-lo.

Aí vem a falta de imaginação. O Kylo Ren era um promissor aprendiz Jedi que foi convertido para o lado negro da força. Original não?

O império tem um novo Imperador. Há uma nova grande arma de destruição, que ao invés de ter a capacidade de destruir um planeta com um tiro, copiando o efeito das múltiplas lâminas da Gillette, esta consegue destruir vários planetas, disparando 5 ou mais tiros de uma única vez. Não dá para inventar algo novo, vamos vitaminar o velho.

O esforço da nova Jedi, Rey, é tentar converter o novo Lord Sith para o lado bom. E você fica com uma sensação de Déjá vu. Já vi isso antes. O Luke também tentou resgatar seu pai.

O Kylo Ren não hesita em matar seu pai, Hans Solo. O Darth Vader também matou seu mestre, Obi Wan Kenobi, a figura mais próxima que ele tinha de um pai.

Fui ver o último filme da saga, “A ascensão Skywalker”, com aquela esperança de quem sabe eles engatam algo de novo. Eles só aumentaram o tamanho da tela e o número de lâminas, além de continuar nos métodos ágeis, para gerar Jedis, dada a falta de estoque.

Além do imperador de plantão, neste último filme ressuscitam o imperador original. Não precisam mais da estrela da morte, agora qualquer nave tem o tiro que destrói um planeta (mais lâminas, lembra?).

Um amigo meu disse com alguma razão, que um filme de Star Wars é sempre bom, ele associa isso ao sexo, mesmo quando é ruim, ainda é melhor que ficar sem. Talvez ele esteja certo.

O fato é que Star Wars criou um universo tão rico a ser explorado que me parece que a franquia não consegue deixar de viver da vaca leiteira, ou seja, o seu produto consagrado e a mesma fórmula que dá certo há tantos anos.

Nada mais garantido para minar o futuro que se apegar ao que deu certo no passado e continuar fazendo sempre a mesma coisa.

 

Nuno Figueiredo

Engenheiro Eletrônico formado pela Mauá, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, é um dos fundadores da Signa, onde atua desde 95. Entre outros defeitos, jogou rúgbi na faculdade, pratica boxe e torce pelo Palmeiras.

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