O Sistema do Sobrinho II

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Nuno Figueiredo

09 de dez de 2019

· 3 min de leitura

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Recebi algumas mensagens calorosas a respeito da News “O sistema do sobrinho”. Algo comum entre as críticas: “Uma solução caseira não é sinônimo de solução ruim”.

Certamente que não. Não quis menosprezar ou diminuir as soluções internas. Já tive a oportunidade de ver soluções internas bem elaboradas, consistentes, que atendem muito bem aos requisitos do negócio.

Poderia citar facilmente alguns exemplos, mas não quero correr o risco de esquecer alguém que mereceria ser mencionado.

O ponto fundamental é que uma solução adequada tem foco no negócio. Do bom entendimento das necessidades da empresa e de seus clientes, nasce um bom aplicativo. Alguns técnicos, muito versados em tecnologia, às vezes desenham sistemas bons tecnicamente, que pecam por um entendimento pobre e restrito do negócio. Esse é um dos males que ronda a solução interna. Todas as soluções internas boas que eu conheci tem à frente um gestor que possui uma sintonia fina com o negócio e/ou anda junto com a chamada área usuária.

Outras vezes, o aplicativo atende ao negócio da empresa, mas não teve um design adequado para outras operações e atividades que não são executadas pela empresa no momento da sua concepção. Com o crescimento e a entrada de novas operações fica difícil adequar o sistema para realidades para as quais ele não foi projetado. Quando isso ocorre, normalmente o resultado é um sistema cheio de emendas e remendos, que os usuários chamam de “colcha de retalhos”. A solução, neste caso, é cara e dolorosa e necessita de uma reconstrução da solução sob novos conceitos.

Finalmente, temos o problema da inovação. Nem todas as empresas tem a mentalidade e o orçamento para cuidar do dia a dia e ainda de inovações. A rotina diária tem a maldição de consumir todos os recursos disponíveis, não importa quantos existam, e nunca sobra tempo para se pensar em coisas novas.

Neste aspecto, uma solução de mercado roda em mais clientes, está sujeita a uma gama mais abrangente de atividades e de necessidades, e tende a atender mais facilmente um número mais diversificado de operações. O contrário também é verdadeiro: dificilmente uma solução de mercado terá tanta aderência às particularidades de uma empresa quanto a solução que foi feita “sob medida”.

Existem exceções, mas costuma ser mais fácil e barato adequar a solução de mercado a algumas exceções de uma determinada operação ou cliente.

O problema é que não se trata somente de fazer, mas principalmente de manter uma solução viva e em constante evolução. Tanto na época de vacas gordas como na das magras tem que se manter a equipe e os investimentos necessários.

É uma tendência de mercado a migração de soluções internas para soluções de mercado, pelos custos envolvidos e principalmente pela necessidade das empresas de focarem seu tempo e seu orçamento na sua atividade fim. Isto não significa que não teremos mais soluções internas, nem modelos híbridos, muito menos que uma seja necessariamente melhor do que a outra.

Cada empresa tem que avaliar o que é mais adequado ao seu momento e à sua realidade. A única conclusão é que se a solução atende bem à empresa e foi bem desenhada, não pode ser enquadrada como um "sistema do sobrinho".

 

Nuno Figueiredo

Engenheiro Eletrônico formado pela Mauá, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, é um dos fundadores da Signa, onde atua desde 95. Entre outros defeitos, jogou rúgbi na faculdade, pratica boxe e torce pelo Palmeiras.

Foto: Freepik

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