Não existe almoço grátis

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Nuno Figueiredo

04 de nov de 2021

· 3 min de leitura

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diversidade
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Imagine se aprovam uma lei que obrigue as transportadoras a operar com um desconto de 50% do frete, aplicável quando o cliente contratante for uma ONG ou instituição beneficente. Se você fosse o dono da transportadora, provavelmente você dobraria o preço para poder praticar um desconto de 50%.

Mais ou menos como era a Black Friday há algum tempo, oferecendo descontos onde você podia comprar tudo pela metade do dobro do preço. E é por aí que opera a leia da meia entrada.

No post a “Diversidade tem que ser para todos”, defendemos que alguns benefícios para a terceira idade mais atrapalham do que ajudam,  incluindo a lei federal da meia entrada.

A Denise me enviou um feedback, que entre outras coisas apontava uma discordância:

“Existem pessoas com mais de 60 anos que não precisam de benefícios como meia entrada em cinema, teatro, mas existem pessoas que trabalharam a vida toda e recebem uma aposentadoria miserável e a meia entrada faz toda a diferença. E vamos combinar é um direito e tanto.

Enfim, não tanto ao céu, nem tanto ao mar.”

 

Eis que a Assembleia Legislativa de São Paulo acaba de aprovar um projeto que estende a meia entrada para todos os cidadãos que tenham entre 0 e  99 anos, ou seja, para todo mundo. O que na prática significa acabar com o benefício. O projeto ainda depende da sanção do governador.

Em tempo: não sou contra dar benefícios a idosos, apenas defendo que esse benefício seja dado a quem precisa. O gatilho não deveria simplesmente ser a idade. O idoso que precisa e o Sílvio Santos tem hoje direito a pagar meia entrada. E vamos combinar que o Sílvio não precisa.

É fácil gostar de algum benefício. O difícil é pagar a conta gerada pelo mesmo.

Existe uma trava no congresso que impede a criação de despesas, sem apontar de onde vem a receita, para pagar a conta. Sem isso, seria a farra do boi. Qualquer político querendo se promover,  sairia criando agrados a torto e a direito, e não haveria orçamento que aguentasse.

Então há uma saída simples: vamos fazer caridade com o bolso alheio. Basta criar leis como a da meia entrada, onde a conta é terceirizada. Alguém passa a ter um direito que é bancado pelo dono do cinema e do teatro.

Tenho um amigo que defende o direito de o idoso pagar metade do preço da cachaça. Se é para liberar geral, a ideia é boa.

Seria mais justo se a empresa cobrasse meia entrada e recebesse esse dinheiro de volta via renúncias fiscais ou dispositivo similar. Se o benefício é justo, ele deveria ser bancado pela sociedade. E limitado a quem precisa. O como fazer pode ser debatido.

Não existe o dinheiro público, o que existe é o dinheiro dos contribuintes (PF e PJ), que no fim pagam toda e qualquer ação dos entes governamentais. É pertinente discutirmos como o nosso dinheiro deveria ou não ser empregado.

Quando se empurra isso para a empresa, ela não sendo uma instituição de caridade, se preserva das mais variadas formas. Quem lembra de quando o governo Sarney congelou os preços, viu os produtos sumirem do mercado.

Não custa lembrar: Não existe almoço grátis. Alguém sempre está pagando a conta.

 

Nuno Figueiredo

Engenheiro Eletrônico formado pela Mauá, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, é um dos fundadores da Signa, onde atua desde 95. Entre outros defeitos, jogou rúgbi na faculdade, pratica boxe e torce pelo Palmeiras.

 

Foto: Freepik

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Ultimos comentários

cidanog

Bom dia , gostei do comentário¨,¨(Não existe almoço grátis) discordo com a frase de que a terceira idade mais atrapalha.Talvez, você esteja falando de pessoas não instruídas, não sou exemplo das mesmas, tenho um trabalho e me considero útil a sociedade.Tenho plena convicção do que faço, portanto não aceito essa forma dirigida aos idosos. O Silvio Santos não precisa de benefícios gratuitos, sabemos disso .Espero que vc consiga chegar saudável a idade que tenho.

Nuno

Cidanog, jamais afirmei que a terceira idade mais atrapalha, me refiro unicamente a alguns benefícios que ela possui. Se você reler o texto com mais calma poderá verificar isso. Abcs

Adalgisa Cecilia Polari

Gostei do artigo e não vi nada que desabonasse os idosos. Sou idosa o bastante para entender que, sim, merecemos certas facilidades, visto que a ciência médica tem feito de tudo e mais um pouco para que idosos tenham uma boa, às vezes, longa sobrevida. Entendo também, que quando o idoso tem poder aquisitivo menor precisa dessa forcinha dos governos para que possa desfrutar de algum entretenimento. Uma seção de cinema, uma peça de teatro, uma exposição, etc... O ideal seria que as pessoas tivessem noção de sua real necessidade no uso dessas facilidades. Quando tudo começou, idosos pagavam meia entrada nos cinemas às quartas-feiras à tarde. Esse horário era menos utilizado pelas salas de espetáculo e era um meio de torná-lo um pouco mais rentável. No entanto não era todos os dias, era só nas quartas-feiras e temos que convir que o valor das entradas era alto para uma pessoa aposentada que muitas vezes ajudava na renda familiar. O problema é que as pessoas conscientes estão acabando e não há reposição. Nesse desventura mundial que nos prendeu dentro de casa e nos tirou até o convívio dos netos e bisnetos, quanta gente empregada e com salário razoável foi receber o Auxílio Emergencial? Se são capazes de cometer o crime de desprover os mais necessitados, se fazendo de tolos para receber um dinheiro que não lhes cabia, como não irão se aproveitar dessa lei safada e eleitoreira? Porque não há limite na inconsciência das pessoas, independente da idade, tem que haver um limite na maneira de usar esses benefícios. Como? Não sei. Há de haver gente com mais sabedoria do que eu para resolver.