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Existem coisas que se tornam verdades absolutas, e, portanto, não podem ser questionadas. Ai de quem ousar ir contra o senso comum, corre o risco de levar pedradas.
Correndo o risco de receber algumas pedras, vamos falar do papel da diversidade em relação aos idosos.
Sem mais delongas, sou contra uma série de benefícios dados automaticamente para quem tem mais de 60 anos. Não concordo com a régua que indique ser este o inicio da melhor idade, mas isso não é o ponto mais importante.
Começo citando o Romeo Busarello, que numa entrevista ao Draft cunhou a frase abaixo.
Recomendo que você leia a entrevista completa no Draft neste link Projeto Draft - Romeo Busarello
E este é o ponto. Com o aumento da expectativa de vida as pessoas terão uma carreira mais longa. Uns por opção, a grande maioria porque não tem uma reserva que aguente 25, 30 anos de aposentadoria.
E tem uma parcela significativa que vai ter que trabalhar enquanto a saúde assim o permitir, porque não tem outra opção.
Por opção ou por falta dela, o fato é que o mercado de trabalho não pode, e não deve, tratar quem tem mais de 60 anos como sendo alguém inútil para continuar contribuindo, salvo se for um executivo ou consultor muito especializado.
E eu acredito que uma grande parte disso vem de como a sociedade enxerga alguém com mais de 60 anos. Se tratamos esse povo como alguém que precisa de ajuda, estamos automaticamente excluindo eles como seres ainda produtivos, que podem ser auto suficientes, e ainda poder contribuir para qualquer organização.
Qual o sentido de alguém com 60 anos ter direito a uma vaga especial para estacionar? Tenho um amigo com 62 anos que corre mais de 30 Km por semana. Vários amigos que praticam esportes, dança de salão acima desta régua que param nas vagas para ‘idosos’. Não há nenhum motivo bom para isso.
O efeito colateral disso aparece logo. É como testemunha o Busarello na mesma entrevista:
E há outros benefícios inclusos como a meia entrada e a fila preferencial. Isso tudo parece ótimo e muito justo com quem já trabalhou a vida toda, mas temo que isso colabora para tratar esse cada vez mais vasto contingente de pessoas como aposentados. Alguém de quem temos que cuidar, é também alguém que não será considerado para uma vaga em uma empresa.
Isso cria uma cultura ruim, passa uma mensagem errada, e mais atrapalha do que ajuda.
Para mim o certo seria dar esse tipo de benefício para quem precisa, independente da idade, como já fazemos com as vagas para deficientes.
A pessoa tem dificuldade de locomoção? Nada mais justo e certo do que ter direito a essa vaga e que isso seja amplamente respeitado.
Agora ver um cara sair de uma vaga para idoso para ele ir jogar 3 horas de Tennis com os amigos?
Acho que qualquer assistencialismo, qualquer benefício tem que servir a quem de fato dele necessita. No mínimo a idade de entrada para isso teria que subir, e muito, com a ressalva de proteger aqueles que possam precisar disso antes.
E assino embaixo a tese do Busarello, a diversidade nas empresas tem que incluir a idade. E acho que um bom começo, seria rever como pensamos a respeito disso.
Nuno Figueiredo
Engenheiro Eletrônico formado pela Mauá, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, é um dos fundadores da Signa, onde atua desde 95. Entre outros defeitos, jogou rúgbi na faculdade, pratica boxe e torce pelo Palmeiras.
Foto: Freepik
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Ultimos comentários
Parabens, vale a pena parar um instante e ler.
Verdade.