Não confunda a PF com a PJ

Assim que terminou o jogo do Palmeiras contra o Chelsea eu já sabia que ia receber uma enxurrada de mensagens no zap. Resolvi deixar o celular de lado e abri o Kindle. Teria muito tempo para consumir depois tanta gozação. Ela faz parte, e é do jogo.

O que me espanta é quando a gozação vem de uma pessoa jurídica. Tem gente que confunde o que pode ser feito na vida pessoal com a posição de uma empresa.

E não importa aqui se você é o estagiário, o diretor ou o dono da empresa. Quem fala em nome da empresa, principalmente quem publica como sendo ela nas mídias, tem que ter uma postura condizente com o mundo corporativo.

Isso não é novo. Já era assim quando alguma figura proeminente de um clube ou empresa dava uma entrevista ou falava em um fórum público.

Me lembro de um ex-presidente do Palmeiras, o Luiz Gonzaga Beluzzo, que num evento com torcida, se referiu à torcida São Paulina de forma pejorativa, a chamando pelo nome de um cervo de um desenho animado da Disney.

Houve uma grande saia justa entre a direção dos dois clubes e um posterior pedido de desculpas. Você pode ler a respeito deste caso neste link.

A resposta do superintendente de futebol do São Paulo, Marco Aurélio Cunha, foi didática:

“Acho que este foi um caso da confusão da instituição com o torcedor. Um estadista não pode confundir uma coisa com a outra.”

Pior fez um diretor de um dos patrocinadores do mesmo São Paulo. Ele brincou no Twitter com o resultado desfavorável em um jogo do São Paulo contra o Corinthians, usando o mesmo cervo da Disney.

A repercussão foi imediata, e o diretor em comum acordo com a empresa resolveu sair. Uma forma simpática de dizer que ele foi sumariamente demitido.

No comunicado oficial a empresa foi bem clara a respeito:

“A Locaweb mais uma vez lamenta o ocorrido e reforça que a opinião do executivo não condiz com o posicionamento corporativo da companhia.”

Você pode ler a respeito deste caso neste link.

E voltando à final do mundial, algumas empresas resolveram brincar com o vice campeonato do Palmeiras. E isso repercutiu nas torcidas contra e a favor.

Se fosse o perfil oficial de um clube de futebol ainda passava. É meio comum os perfis de clubes ficarem fazendo gozação um com o outro, ainda assim, depende muito dos termos utilizados.

Porém, usar o perfil oficial de uma empresa para zoar com o time alheio não me parece ser uma boa ideia. Não agrega nada à marca. A raiva gerada na torcida atingida não vale as risadas e os likes. Uma empresa não deveria se tornar antipática a uma parcela de seus consumidores.

Claro que alguns posts acabaram sendo apagados. Mas no mundo digital, o print é eterno.

Já falamos a respeito de alguns cuidados básicos que alguém deve ter ao postar nas mídias no artigo “o teu post te condena” . Nesse eu me referi à pessoa física. A coisa fica muito pior quando envolve a pessoa jurídica, como nos casos aqui citados.

Não confundir a pessoa física com a pessoa jurídica é boa prática de gestão. Vale tanto para o uso do dinheiro quanto para qualquer manifestação pública.

E antes que você me pergunte, sim, o Palmeiras tem mundial! ;)

 

Nuno Figueiredo

Engenheiro Eletrônico formado pela Mauá, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, é um dos fundadores da Signa, onde atua desde 95. Entre outros defeitos, jogou rúgbi na faculdade, pratica boxe e torce pelo Palmeiras.

Foto: Freepik

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