0
“Nenhuma tecnologia é boa ou ruim em si, ela depende do uso que faremos dela” - Ricardo Amorim
A brasileira iFood anunciou que está testando a entrega de comida usando drones. Alguns testes já foram efetuados neste último carnaval.
Sem contar o setor de alimentação, a entrega de itens de até 2 kg corresponde a um percentual muito significativo do total de entregas do e-commerce, e cerca da metade das entregas se encaixa nesse perfil. O uso de drones parece ser uma solução interessante, mas vamos analisar com mais profundidade até onde isso é viável.
Você pode ler a respeito dos investimentos da iFood neste link.
O melhor case de sucesso no uso de drones que eu já vi ocorre no continente Africano, mais precisamente em Ruanda, na África Oriental. Lá a Startup Zipline criou o primeiro sistema de entregas em escala nacional 100% automatizado com o uso de drones.
O CEO da Zipline, Keller Rinaudo, não só conta como mostra a entrega ocorrendo com drones que são lançados a uma velocidade de 100 km/hora.
O problema da logística de assistência médica é a gestão entre o desperdício e a falta, algo comum a outros setores. Centralizando estoques se minora o desperdício, mas aí pode haver a falta do produto, o que em caso de saúde pode significar perda de vidas.
Este case é muito legal porque mistura tecnologia de ponta com coisas muito simples. A mercadoria cai num paraquedas de papel. A comunicação com os hospitais e centros de saúde que solicitam o material é pelo WhatsApp. O destinatário recebe um SMS avisando que em um minuto a mercadoria vai aterrissar. Genial.
Como o Rinaudo sintetiza:
“Portanto, a inovação leva a mais inovação, que leva a mais inovação.”
Você pode assistir este incrível TED neste Link. As legendas estão em português.
Não é porque isso está num TED que é verdadeiro. Infelizmente existem algumas fraudes conhecidas que geraram TEDs famosos como o da Elizabeth Holmes que promoveu uma das maiores fraudes do vale do silício, a Theranos, como você pode ler neste link.
Bom, a BBC também fez um vídeo muito interessante com o sugestivo título “Can Drones Deliver?” (Os Drones conseguem entregar?) e sim, o case da Zipline é citado.
Os drones já são extensamente usados para ajudar a localizar e resgatar pessoas em áreas de difícil acesso. No agronegócio há soluções que mapeiam a área a ser cultivada e ainda permitem o monitoramento em tempo real.
O que essas situações têm em comum é um espaço geográfico que permite o uso de drones sem muita restrição. No Brasil a ANAC não permite o voo de aviões não tripulados em áreas populadas, logo, a não ser que a legislação evolua, não veremos tão cedo um drone chegando com a sua entrega e depositando a mesma no hall do seu prédio.
Além disso há muitas restrições da própria tecnologia, como a autonomia de voo, questões de clima, como chuvas ou ventos muito fortes. E, claro, a questão do controle do espaço aéreo.
No Japão, por exemplo, o uso de drones só pode ocorrer em trechos pré-determinados e com um funcionário que precisa visualizar o percurso do drone o tempo todo a olho nu. Para saber mais a respeito de como a Rakuten está usando drones para fazer entregas no Japão, acesse esta matéria “Drones revolucionam a logística. Claro, se a burocracia não atrapalhar”.
O problema quando se fala em usar drones em logística é que os cases são sempre de países desenvolvidos e ficamos com aquela impressão que isso ainda demora muito a aparecer por aqui. De fato, não localizei nenhum caso real em uso no Brasil. Existem muitas empresas investindo em testes e experiências. Além do caso da iFood, já citado, você pode ler nesta matéria “Grupo Elfa e Sanofi iniciam testes para transportar cargas com drones”.
O exemplo da Zipline nos mostra que nem sempre nos locais mais evoluídos é que ocorre a inovação. As vezes é justamente o contrário, por não terem acesso a coisas que em outros lugares são básicas, como uma boa infraestrutura de estradas, portos, aeroportos, rede ferroviária, entre outros, as soluções inovadoras se viabilizam. E o Brasil tem muitas regiões onde esse tipo de projeto pode ser muito útil.
Os obstáculos a serem superados para permitir a entrega por drones em grandes cidades ainda tornam esta realidade algo distante, ou com uso muito restrito. Os drones, pela pouca autonomia de voo, restrições do peso que podem carregar, questões de segurança e legais, ainda tem um bom caminho a percorrer. Isso até que alguém invente um sistema tão interessante como esse de Ruanda e o resto será história.
Nuno Figueiredo
Engenheiro Eletrônico formado pela Mauá, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, é um dos fundadores da Signa, onde atua desde 95. Entre outros defeitos, jogou rúgbi na faculdade, pratica boxe e torce pelo Palmeiras.
Foto: Pxhere
0