Uma questão de QI

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Nuno Figueiredo

15 de abr de 2019

· 5 min de leitura

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QI
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Ciência
genética
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Uma famosa atriz, muito conhecida por sua incrível beleza, e ausência de inteligência, se encontra com o famoso físico Albert Einstein e comenta:

- Nós deveríamos nos casar. Nossa filha seria incrível unindo a minha beleza e a sua inteligência.

Mas o Einstein retruca:

- Melhor não, já pensou se ocorre o contrário, e ela herda a minha beleza e a sua inteligência.

A piada é velha, mas o pior é que esse cenário pode ser real. O QI é transmitido pela mãe para os seus descendentes. Essa é a conclusão de uma pesquisa recente publicada pelo “The independent”. Os genes do homem são irrelevantes para determinar a inteligência de seus descendentes. Isso significa que o melhor que podemos fazer pelos nossos filhos é escolher uma mulher inteligente.

Segundo o estudo os homens contribuem em categorias como sexo, alimentação e agressividade, entre outras. Eu sempre achei que rolava uma meia calabresa, meia muzzarela, pegando coisas boas e ruins dos dois genitores. Ledo engano.

Segundo o que aprendi da teoria de Mendel, o gene recessivo ia para o descendente e havia alguma chance de em próximas gerações ele se encontrar com outro recessivo e voilá! Parece que não, o processo é mais complexo, para algumas características, a genética é herdada de um ou de outro.

Aqui você tem o link do artigo do “The Independent” e se não estiver convicto tente este outro do “Wall Street Journal” que tem o sugestivo título: “A Teoria da Hereditariedade diz em homens, a inteligência vem da mãe”.

O tema ainda é controverso. Essa pesquisa é a mais recente a respeito, mas eu localizei outros artigos que questionam essa afirmação, apesar de eu não ter achado nenhum que negue baseado em um estudo científico, mas deve haver. A boa notícia, e o que considero mais importante, é que somente de 40 a 60% do QI é dado pela genética. O resto depende do ambiente onde você é criado, ou seja, dá para intervir na formação do QI e não contar apenas com a genética.

Distribuição QI normalizada com média de 100 e desvio padrão 15.

Fonte: Wikipedia

Acho meio paralisante a concepção que nosso QI está determinado e nada pode ser feito para melhorar isso. Acredito até que exista uma supervalorização do QI, ele é mais uma energia potencial, que nem todos sabem transformar em cinética. Prefiro a tal da inteligência aplicada, ou seja, vale mais um QI normal que põe o mesmo para funcionar que um gênio que não produz nada de prático.

Em seu livro “Outliers – Fora de Série”, Malcom Gladwell analisa o que está por trás de pessoas que atingem resultados extraordinários. Ele analisa porque algumas pessoas têm sucesso e outras não. A conclusão é que além da inteligência, outros fatores como oportunidades, contexto histórico e esforço determinam o sucesso.

“Uma ideia pode existir durante anos e ‘de repente’ estourar e virar uma epidemia. Quando isto ocorre, esta ideia encontrou o seu ‘timing’, uma série de outros fatores desencadeou um ambiente que proporcionou a disseminação desta ideia. É a ideia certa, no momento certo, no lugar certo e com as pessoas corretas. Muitas boas ideias morreram cedo ou nem sequer vingaram, pois não conseguiram se enquadrar num contexto.”

O Darwin já ensinava na teoria da evolução: Não é o mais inteligente que sobrevive e sim o que mais se adapta ao ambiente. Como o ambiente muda constantemente, a capacidade de se adaptar é uma virtude preponderante, muito mais importante do que a inteligência.

O quanto estamos atrelados ao nosso código genético? Por exemplo, a evolução nos fez ser uma espécie especialista em reter gorduras e armazenar um estoque para sobreviver mais tempo sem comida. Por isso é um inferno querer perder peso. Não dá para contar para o corpo: Hey, tá tudo bem com a dispensa, temos fartura de alimentos, desliga aí por enquanto o mecanismo de retenção de gorduras, ok?

Parece que hoje em dia tudo se resume a uma herança genética. O que dizer da Inteligência emocional? Ela não é tão ou mais importante que o QI?

Há mais de 15 anos atrás, o Steven Pinker lançou em seu livro “A tábula rasa” uma discussão se procede ou não a teoria da tábula rasa, segundo a qual a mente não tem característica inatas. Fazendo um spoiler, o Pinker é muito convincente ao provar que não. Não há como negar o efeito dos genes no comportamento humano.

O Pinker não afirma que tudo se resume a genética, mas ele alerta para não ignorarmos milhões de anos de evolução. Neste assunto, às vezes, algumas verdades são inconvenientes. Quem tem dois filhos que não sejam gêmeos idênticos sabe bem a respeito. Mesmo dando a mesma educação, provendo os mesmos cuidados, e o mesmo ambiente, nada é mais diferente entre si do que dois irmãos. A frase que me ocorre é que nem parecem que são irmãos de tão diferentes que são.

Interessante que o conceito de hereditariedade não se resume a espécies, ele pode ser aplicado a ideias. Como o Gladwell cita, uma ideia pode demorar muito até finalmente estar no timing certo para vingar. Criando o conceito de meme, o Richard Dawkins propôs que a evolução da cultura seria análoga à evolução biológica. O meme seria a unidade que faz o papel de replicador.

Assim como ocorre com os genes, nas ideias também ocorrem mutações nas cópias. O processo se repete até que um descendente pode ser mais forte e sobreviver como ideia final.

Se a pesquisa comentada no “The independent” estiver certa, não interferi no QI dos meus descendentes, resta deixar algumas ideias. Isso é o que chamamos de educar, e isso certamente sobrevive a nós e passa de pai para filho.

 

Nuno Figueiredo

Engenheiro Eletrônico formado pela Mauá, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, é um dos fundadores da Signa, onde atua desde 95. Entre outros defeitos, jogou rúgbi na faculdade, pratica boxe e torce pelo Palmeiras.

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