Tratamento Precoce

Você é a favor do tratamento precoce?

Esta é uma pergunta errada. Quando se começa torto, daí para a frente não tem muito o que fazer.

Temos algumas manias nacionais, além do futebol, a automedicação é uma delas. Comente com alguém que você tem uma dor ou algum problema médico e é grande a chance de você receber conselhos a respeito de algum remédio.

Esse é um dos benefícios que eu vejo na telemedicina. É muito melhor conversar com um médico, ainda que por conferência, do que sair tomando algo por sua conta.

Estamos muito mal acostumados a nos medicar com o atendente da farmácia.

E eis que chegamos no debate se é bom ou não fazer tratamento precoce, se este ou aquele remédio deve ou não ser usado. Além de escalarmos o time melhor que o técnico, agora somos todos especialistas em medicina. E tem até torcida contra e a favor!

E aqui temos uma divisão clara. Tem aqueles como eu que podem escolher que médico ou hospital vão procurar. E tem os que vão ao SUS, serem atendidos pelo médico que lhes foi designado. São duas realidades muito diferentes, e aqui falo somente dos privilegiados que estão no primeiro caso.

Em qualquer caso, acho mais prudente seguir o que diz o médico.

Se, e somente se, você pode escolher o médico, aí é o caso de pedir indicação, fazer uma consulta, e achar um médico em quem você confia. Confiar no profissional é parte importante de qualquer tratamento.

Diz um ditado: Quem tem um médico, tem um, quem tem dois, tem meio,

e quem têm três médicos, não tem nenhum. Você tem que escolher e seguir.

É simples assim, mesmo confiando no médico, você tem o direito de recusar um remédio ou tratamento. No final, a decisão é sua e somente sua.

Não dá para julgar quem não quer fazer um tratamento se as chances dele são modestas e os efeitos colaterais devastadores. Muitos que lutam contra o câncer, em determinado momento, simplesmente não querem mais sofrer, e eles têm esse direito.

Agora se algo funciona ou não, é para especialistas. Existem universidades, entidades científicas, estudos que podem ou não comprovar se algo funciona ou não.

Este tema me veio por duas notícias. A primeira no jornal Valor, que a universidade de Oxford vai fazer um estudo para investigar a eficácia da Invermectina contra Covid-19. Conheço pessoas que tomaram esse remédio por indicação médica, quando estavam com suspeita ou confirmação de Covid. Nesse caso, se o médico que eu confio prescrever, eu tomo.

Conheço amigos que tomaram esse remédio por conta própria, como forma preventiva para evitar pegar COVID. Eu jamais faria isso.

No primeiro caso, tem um especialista indicando. No segundo é uma atitude temerária.

Eu não iria ou confiaria em um médico que indique um tratamento à base de sanguessugas. Hoje nós temos o Dr. Google que nos ajuda a ser menos ignorantes. Isso faz parte do processo de escolha do profissional.

Acho ótimo estudos como esse. Com mais pesquisa, os médicos tomarão melhores decisões. Sem respaldo de estudos comprobatórios, eu prefiro ficar longe dos achismos.

O fato é que não existe ainda nenhum tratamento confiável que responda contra Covid. Se existisse não teríamos tantas mortes. O melhor ainda é a vacina.

E aí chegamos na segunda notícia de ontem, repercutida pela jornalista Vera Magalhães: consumidores paulistas chegam no Drive-Thru da vacina e vão embora quando descobrem que só tem Coronavac. Parece que virou McDonald’s e você pode escolher a vacina.

“Vê aí uma Pfizer para mim, a minha esposa vai querer AstraZeneca e vê uma Jansen para o meu filho.”

Só falta a enfermeira perguntar se fritas acompanha o seu pedido.

Nuno Figueiredo

Engenheiro Eletrônico formado pela Mauá, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, é um dos fundadores da Signa, onde atua desde 95. Entre outros defeitos, jogou rúgbi na faculdade, pratica boxe e torce pelo Palmeiras.

Foto: Freepik

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