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Recentemente fizemos uma pesquisa junto a diversas empresas de transporte para sabermos se estas usavam um TMS (Sistema de Gerenciamento de Transportes) feito em casa ou um produto de mercado. O número total de 33% de empresas que utilizam um sistema interno não nos surpreendeu, mas pelo menos nos faz refletir sobre os motivos desta opção.
Entendo que em algumas atividades existe mesmo a opção de se fazer em casa ou delegar a terceiros, e que não são somente os custos que devem ser levados em conta nesta escolha, mas também outros aspectos, como segurança, qualidade, contingência, etc. Em outras atividades, o nível de especialização e a necessidade de pesquisa e desenvolvimento, são tão grandes que terceirizar parece ser o melhor caminho.
A decisão sobre o modelo passa também por experiências anteriores; as vezes a escolha de um fornecedor, mesmo que de outro segmento, não resultou em uma parceria feliz, e este aprendizado faz com que a empresa tenha muito receio de investir neste modelo novamente.
Os especialistas no assunto defendem a tese de que não devemos terceirizar o que faz parte do core business da empresa; e, quanto ao restante, deveríamos verificar se vale ou não a pena. Ensinam ainda que o principal motivo para terceirizar é o de deixar de fazer alguma coisa, não se ocupar com aquilo, deixar a cargo de quem entende e consegue te ajudar melhor com este assunto, e usar seu tempo no que realmente importa para sua empresa.
Alguns exemplos nos chamam muito a atenção, como o caso da Nike. Esta fabricante de produtos esportivos não tem fábrica em nenhum lugar do mundo, terceirizando toda a sua produção, mas não terceiriza o que é mais importante para eles: a pesquisa e o desenvolvimento dos produtos, o que faz um atleta, eventualmente, ganhar milésimos de segundo numa competição, ou ter uma melhor condição para o desenvolvimento da sua atividade.
Outro exemplo interessante eu verifiquei num dos transportadores que visitamos há alguns meses. Por haver muita afinidade do responsável pela área de informática da empresa com equipamentos eletrônicos, a empresa desenvolveu, em casa, um rastreador, que se comunicava através do celular, para instalar em seus caminhões. Com todos os testes feitos em bancada, e alguns testes com veículos rodando pequenas distâncias, a empresa comprou todos os componentes para construir um equipamento por caminhão (em torno de uma centena), e produziu os rastreadores. Com o tempo, descobriu que tinha feito a opção errada, pelos problemas encontrados, pela necessidade de melhoria na tecnologia, e comprou um equipamento de mercado. Esta empresa ainda tem uma sala com todos os equipamentos desenvolvidos e encostados.
Várias empresas, que nos abrem espaço para a apresentação de nossos sistemas, nos contam várias histórias sobre o porquê da troca do modelo, deixando de desenvolver em casa para buscar algo no mercado.Normalmente, estes relatos passam por alguma exigência de troca de informações com o cliente, que exige tecnologia mais nova e cuja evolução levaria muito tempo ou pela perda de um colaborador que desenvolvia os sistemas. Porém, na maioria das vezes, é motivada pelas contas corretas de custos de desenvolvimento próprio, com a necessária e constante evolução do produto versus uma solução de mercado, onde outras empresas também demandam e, de alguma maneira, há um aproveitamento de esforço comum em prol de todos os clientes.
Existem prós e contras em qualquer escolha. Normalmente os prós de desenvolver em casa é fazer uma solução 100% aderente às necessidades da empresa. Outros prós são armadilhas ou bombas relógio programadas para estourar lá na frente.
Vejamos algumas:
O importante é conseguirmos nos planejar, termos os nossos objetivos e verificarmos se é mais interessante, para nossa realidade e nossa empresa, ousarmos tanto na terceirização quanto a Nike ou buscarmos fazer o máximo possível através de nossos colaboradores. Se soubermos onde queremos chegar, acharemos o melhor modelo. Ou, usando uma frase de Sêneca, “quem não sabe onde quer chegar, sempre reclama que os ventos sopram na direção errada”.
Nuno Figueiredo
Engenheiro Eletrônico formado pela Mauá, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, é um dos fundadores da Signa, onde atua desde 95. Entre outros defeitos, jogou rúgbi na faculdade, pratica boxe e torce pelo Palmeiras.
Foto: Freepik
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