Tempos Velozes II

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Nuno Figueiredo

03 de jul de 2009

· 5 min de leitura

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Tempos velozes 2
velocidade
agilidade
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"Estamos passando de um mundo em que o grande come o pequeno para outro em que o rápido come o lento". Com esta frase Klaus Shwab descreve a sua visão deste mundo mais acelerado. Parece que o ditado "tempo é dinheiro" nunca esteve mais apropriado.

Em logística, quanto mais rápido for o tempo total de um processo, menor os custos envolvidos. Isto lhe parece estranho? Vamos analisar mais de perto como o mercado de transportes e logística é afetado neste cenário da era da velocidade.

Nos modais marítimo e ferroviário encontramos os fretes mais econômicos e com um tempo maior de entrega. Normalmente envolve lotes maiores, seja para transporte a granel, seja para a movimentação de containeres. No modal rodoviário o preço mais comum é pagar por tonelada. No modal aéreo, que é o mais caro deles, o preço é por quilo.

Resumindo: quanto mais rápido o transporte, mais caro o preço do frete. Mesmo no rodoviário, quando falamos de cargas de pequeno porte, se a entrega é expressa, ela é mais cara.

Mas o preço do frete não é a única variável que deveria ser analisada. Infelizmente, em muitos casos, é desta forma que o mercado atua. Numa organização, a melhor opção sistêmica não é formada pela melhor situação individual de cada departamento. Quer um exemplo? Se o prazo de entrega não for negociado, levando em conta a logística, a área comercial poderá concordar com um prazo extremamente curto, devido a uma exigência do cliente, poderá gerar um frete maior, por não permitir a consolidação de carga ou o melhor aproveitamento dos veículos.

As diversas áreas de uma empresa tem que jogar como um time. Existe aquele jogador que passa o jogo todo marcando o craque adversário. Vira uma sombra em campo e não aparece, mas se ele conseguir anular a maior arma do outro time, seu valor para o grupo será enorme e ainda assim, difícil de quantificar.

Como muitas empresas estruturam as suas áreas por centro de custo e unidades de negócio, às vezes a área de transportes tem metas de redução de custo que a forçam a brigar por fretes mais econômicos, mesmo que isso resulte em um panorama global de custos maiores para a empresa, porque o sacrifício de uma área em favor de outra, às vezes não consegue ser identificado e devidamente valorizado.

A logística se baseia em um tripé: preço, prazo e segurança. Não dá para maximizar todas as variáveis ao mesmo tempo. No prazo está a velocidade. Quanto menor o lead time total de um produto, menor o custo. Se a entrega pode ser feita com rapidez, o estoque em processo e o de produto acabados diminui e pode vir a compensar um custo maior de frete.

Quanto menor a distância entre o pedido e a entrega, mais rápido ocorre o faturamento. A maior velocidade gera um impacto positivo para o contas a receber e alivia o fluxo de caixa.

E como a velocidade gera diferenciais? Quando uma empresa coloca um novo produto no mercado em um tempo menor, torna a vida mais difícil para a concorrência. Não basta inovar, mas apresentar a sua inovação de forma rápida. Quando o concorrente estiver terminando de fazer um clone do seu produto, um novo em folha estará sendo lançado. É mais difícil alcançar quem está correndo. Um exemplo disto é a Apple. O iPod ainda estava entusiasmando o mercado, quando Steve Jobs anunciou o iPhone.

A regra não é mais somente buscar a inovação, mas também acelerar o tempo entre o inicio do projeto e chegada do produto ou serviço ao mercado.

Uma das prerrogativas da era da velocidade, que eu comentei na News anterior, é que os clientes valorizam e tendem a pagar mais por produtos e serviços mais rápidos. Logo é possível, no cenário acima, sensibilizar que um custo maior pode ser palatável face a benefícios percebíveis, tangíveis ou não. Se a velocidade maior de transporte permite ao cliente trabalhar com menos estoque, o preço do frete poderá não ser tão significativo, se comparado à redução do custo do estoque.

O processo, para ser mais eficiente, deve ser o mais rápido possível, limitado pela análise de custo. O custo do estoque é inversamente proporcional ao custo do transporte e existe um ponto de equilíbrio que deve ser atingido. Isto varia para o tipo de produto envolvido. O objetivo deve ser o de equilibrar a relação custo / serviço, ou seja, atender o nível de serviço estabelecido com o menor custo possível.

Nesta equação existe um trade off: velocidade e custo. A velocidade está ficando maior e mais crítica na busca pela máxima disponibilidade do produto, com o menor estoque possível: O preço do produto determina se pode haver mais estoque. Com um preço baixo é mais fácil estocar e com um preço alto, deve-ser tentar ao máximo a redução do estoque.

Concluindo, temos uma tendência de pequenos lotes para um menor custo de estoque, na maior velocidade possível.

Aquela fábula do grego Esopo, em que a tartaruga vence a lebre, está cada vez mais no reino da fantasia. Nos dias de hoje, a Lebre acabaria comendo a tartaruga, porque hoje, como disse o klaus, o mais rápido está comendo o mais lento.

Nuno Figueiredo

Engenheiro Eletrônico formado pela Mauá, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, é um dos fundadores da Signa, onde atua desde 95. Entre outros defeitos, jogou rúgbi na faculdade, pratica boxe e torce pelo Palmeiras.

Foto: Freepik

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