Só morre afogado quem sabe nadar

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Nuno Figueiredo

16 de jun de 2021

· 4 min de leitura

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Leio no Uol que um engenheiro desapareceu no mar após mergulhar de uma lancha e sair nadando. Isso ocorreu em Bertioga, litoral de São Paulo.

Uma vizinha comentou que ele é um exímio nadador, acostumado a praticar natação no mar, inclusive à noite. Ele ainda conhece muito bem o comportamento das correntes marítimas na região. Não tive uma atualização se ele foi resgatado com sucesso.

Mas um fato, é que, normalmente, só morre afogado quem sabe nadar.

Alguém que não sabe nadar pode morrer afogado se estiver num barco e este for a pique. Salvo casos raros e extremos, quem não sabe nadar não se aventura, porque tem medo.

Já quem sabe nadar tem uma sensação maior de segurança, se aventura mais,

toma menos cuidado, e vira e mexe dá tudo errado.

Esta matéria me lembrou duma ocorrência similar com o meu pai. Recém chegado ao Brasil, ele resolveu ir nadar no mar de Copacabana. Ele estava acostumado a fazer isso nas praias de Angola. Ia nadar e sumia da vista, meia hora depois voltava.

Mas o mar do Rio é diferente. Ele só não morreu afogado porque foi resgatado por um barco dos bombeiros que estava ‘pescando’ os nadadores que se deram mal.

Naquele dia, soube depois, duas pessoas morreram afogadas no Rio de Janeiro. É um fato comum, infelizmente.

Eu tenho o hábito de frisar esta frase para as pessoas que trabalham comigo: só morre afogado quem sabe nadar. Lidar com um ambiente de produção, numa solução de missão crítica requer procedimentos bem rígidos e um respeito às normas. O perigo está sempre nos recursos mais experientes, que sabem nadar tão bem, que eventualmente relaxam os cuidados em procedimentos que consideram muito simples, e aí a desgraça está feita.

Isso ocorre em maior escala nos ambientes de desenvolvimento. Esqueci de salvar, não fiz backup, não verifiquei tal rotina. É preciso disciplina para a experiência não gerar uma eventual falta de cuidado.

A gente nota isso de forma mais fácil em outras áreas. Certa vez fui fazer rapel em Brotas, descendo de duas cachoeiras. Eu não gosto desse tipo de atividade, mas como pai sofre, fui acompanhar meus filhos adolescentes nessa roubada.

Descemos de uma cachoeira a 40 metros de altura e outra que ficava a 60 metros, se minha memória não me trai nesse detalhe, mas era altura suficiente para matar alguém se algo desse errado.

Os nossos guias explicaram bem todo o procedimento e nos acompanharam nessa aventura. O primeiro guia desce sozinho e fica lá embaixo segurando a corda, enquanto o segundo guia coordena lá de cima. Você fica preso nessa corda e pulando a explicação técnica, você afrouxa a corda com uma mão e prende com a outra de forma que você desce aos poucos, não dá para descer em queda livre. E o guia lá embaixo funciona como um freio, se ele estica a corda você para.

É realmente muito seguro e há pouca notícia de infortúnios nessa atividade,

quando praticada corretamente e com o apoio de gente experiente.

Dito isso, duas semanas depois da nossa aventura li que um guia morreu nesse mesmo local. Ele era o primeiro a descer para ficar lá embaixo freando a turma. Esses caras são tão bons no que fazem que fazem a descida em poucos segundos. É aí que a coisa de vez em quando desanda. Ele caiu em queda livre. Você pode ler esta história neste link neste link

Sempre que você lê sobre acidentes, sem medo de ser feliz, a maior causa é sempre a falha humana. Quase sempre quem estava pilotando o avião, a máquina, o equipamento era alguém com muita experiência. Se errar é humano, o meu ponto é que erra mais quem sabe nadar.

 

Nuno Figueiredo

Engenheiro Eletrônico formado pela Mauá, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, é um dos fundadores da Signa, onde atua desde 95. Entre outros defeitos, jogou rúgbi na faculdade, pratica boxe e torce pelo Palmeiras.

Foto: Freepik

 

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Ultimos comentários

Ronézio Fontes Spinosa

Bela reflexão! Parabéns.