Por que as pesquisas falham?

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Nuno Figueiredo

05 de out de 2022

· 3 min de leitura

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Um amigo meu resolveu fazer uma enquete eleitoral. Ligou as 3 da manha para 100 números aleatórios, e quando alguém com sono atendia, ele perguntava em quem a pessoa iria votar para presidente.

Ele viu que 100% dos votos iria para mãe dele, sendo a resposta mais comum:

- Vou votar na tua mãe, seu $#@$#242###!

Essa piada ilustra bem porque as pesquisas falham. Não é que a estatística não funcione, as vezes a metodologia é mal empregada.

Um dos maiores problemas está na amostragem, ou seja, é muito complexo escolher um universo de pessoas que represente de forma mais próxima toda a população.

No sábado, eu estava num jantar. Éramos dois casais. Eu não voto e os outros três na mesa votariam na Simone Tebet. Pensei comigo que se aparecesse alguém fazendo uma pesquisa naquele local, a gente iria distorcer bem o resultado final.

Uma amostra ideal deveria respeitar a proporcionalidade de sexo, idade, poder aquisitivo, local onde a pessoa mora e por aí vai. A escolha da amostra é fundamental.

E aí temos um segundo problema crítico. A pesquisa tem que ser bem feita, com pessoas treinadas e capacitadas para tal.

Na Copa do Mundo de 2014, eu estava em Recife, me dirigindo para a entrada do estádio, quando fui abordado por uma menina que fazia uma pesquisa.

E lá fui eu responder as perguntas. Ela estava indo bem até que me perguntou o que eu achava da higiene dos banheiros no estádio. Como é que podia responder isso se ainda estava do lado de fora?

Esse tipo de pergunta certamente indica que essa pesquisa teria que ser feita após o jogo, quando provavelmente eu já teria ido ao banheiro. Ainda mais considerando que na Copa estava liberado o consumo de cerveja no estádio.

Existem outras hipóteses a serem consideradas para as falhas nas pesquisas. E todas são menos prováveis, apesar de serem possíveis: incompetência ou má fé.

A incompetência é pouco provável, pelos anos de estrada que os institutos mais renomados possuem.  A má fé é possível, mas eu prefiro acreditar que eles, como qualquer outra empresa de mercado, vivem da sua reputação e tem que zelar por ela.

Se todos os institutos erraram, é ainda menos provável que sejam todos incompetentes ou tenham sido pagos para errarem.

O mais provável, pelos motivos expostos, é que o processo é complexo e sujeito a problemas que não estão previstos na margem de erro.

E finalmente, uma pesquisa serve como uma fotografia de um momento. Ela registra o humor e a vontade dos entrevistados no dia da pesquisa. Ela não permite, ainda, capturar em tempo real a vontade de uma população.

E se a pesquisa fosse on line, pela Internet ou via algum aplicativo?

Bom, a tecnologia resolve alguns problemas, mas também põe outros no lugar. A pesquisa online seria uma solução para trazer a foto mais próxima da realidade, porém é difícil garantir uma boa amostragem.

Primeiro, tem o problema de ser mais aderente a quem tem mais condições de ter um bom acesso, num computador ou celular. E têm os malditos robôs e os perfis fakes, que facilmente alteram qualquer resultado.

O problema no final das contas é acharmos que as pesquisas são infalíveis. Acho que elas têm que ser vistas como a meteorologia. Nem sempre funciona, mas ajuda mais do que atrapalha.

 

Nuno Figueiredo

Engenheiro Eletrônico formado pela Mauá, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, é um dos fundadores da Signa, onde atua desde 95. Entre outros defeitos, jogou rúgbi na faculdade, pratica boxe e torce pelo Palmeiras.

Foto: Freepik

 

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Ultimos comentários

Carlos Roberto Martins

Prezado Nuno, realmente é um ótimo tema a ser discutido. Dentre as alternativas citadas, fico com a má fé. Estamos imersos num mundo repleto de tecnologias que podem auxiliar um bom trabalho de pesquisa. Mas, como vemos o Ministério Público acaba de anunciar investigações sobre esses resultados tendenciosos. Parabéns pelo texto.