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Há um mito que basta colocar uma gestão profissional e tudo vai andar as mil maravilhas. Isso vale para empresas familiares e vale para clubes. O conceito aparentemente está correto, mas existem gestões profissionais boas e ruins.
Vários impérios foram erguidos através de várias gerações familiares. O ponto que importa é o tipo de gestão, não se trata de tirar a família, mas de ter uma boa governança.
Temos a nova onda do clube empresa, ou o clube de futebol que tem dono. Começou com o Red Bull Bragantino, seguido do Cruzeiro e do Botafogo.
A lógica por trás disso é que o antigo dirigente era mais susceptível aos humores da torcida e dos seus eleitores no clube. Não raro, mesmo em situação financeira temerária, recorria a contratações milionárias para melhorar a sua popularidade. E o futuro que se exploda.
Não faltam exemplos. O mais recente é o do Corinthians, que reforçou o elenco com jogadores de alto nível mesmo devendo mais de um bilhão, sem contar a dívida com a sua arena. Como vão pagar isso? Não importa, desde que saia gol.
Não é à toa que alguns comentaristas alertam para o risco do time “cruzeirar”, porque uma hora chega o momento em que não dá mais para rolar dívidas.
Isso não ocorre numa gestão profissional. Será?
Um diretor ou presidente as vezes pode tomar decisões boas para o curto prazo e péssimas para o longo prazo para evitar a pressão por resultados ou até uma demissão. E o futuro? Bom, não adianta pensar no futuro se eu não estiver mais por aqui, é um pensamento que viceja em alguns casos.
Outra coisa que leio muito quando se fala da SAF(Sociedade Anônima do Futebol) é que não importa o que pensa a torcida, o que importa é ter decisões pautadas em bons princípios de gestão, gostem ou não os fans. Ora bolas, o maior patrimônio de um clube de futebol é justamente a torcida. Que raios de gestão profissional é essa que vai ignorar justamente o seu maior ativo?
Essa realidade não é ainda bem percebida pelos clubes, que acham que o maior valor ainda está no elenco que vai a campo. Este na verdade deveria ser um meio para atingir o fim. Não consigo imaginar algo melhor para atrair público no Brasil do que a maior paixão nacional.
E eu concordo com a nova presidente do Palmeiras: clube empresa não, gestão profissional sim. Olhando para a Europa, no entanto, esta é uma causa perdida. A grande maioria dos clubes lá fora tem dono.
E para os que sonham que o Ronaldo Fenômeno vai resolver todos os problemas do Cruzeiro, é bom olhar para o time que ele comprou na Espanha. O Valladolid foi rebaixado na última temporada.
Nuno Figueiredo
Engenheiro Eletrônico formado pela Mauá, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, é um dos fundadores da Signa, onde atua desde 95. Entre outros defeitos, jogou rúgbi na faculdade, pratica boxe e torce pelo Palmeiras.
Foto: Freepik
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