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Na recente fusão entre o Itaú e o Unibanco, me chamou a atenção a declaração do presidente do Unibanco, que cita a preocupação com o Santander, primeiro banco estrangeiro cuja presença, de fato, se tornou uma ameaça aos bancos nacionais, por ser o único que entrou com estrutura e investimentos que poderiam levar o banco espanhol a liderar o mercado brasileiro.
No mesmo dia em que a fusão que criou o maior banco brasileiro foi anunciada, havia reportagens comentando a estratégia do Santander de se tornar líder do mercado.
Esse é o efeito da globalização. Abrem-se novos mercados e surgem novos concorrentes.
No final do século XX, o mercado de transportes estava se preparando para as multinacionais que viriam para o Brasil, tomar conta do mercado. Assisti de perto, o caso de uma pujante empresa de carga aérea, que operava para uma grande montadora. Este cliente representava cerca de 70% do faturamento deste transportador, que já foi um dos líderes deste segmento.
Esta empresa não existe mais. Fechou suas portas cerca de um ano após a entrada do operador logístico Emery, que veio ao Brasil assumir esta operação. A Emery, poucos anos depois, saiu do País.
Em dezembro de 2008, foi a vez da companhia de transportes e logística Ryder, anunciar que está encerrando as suas operações no Brasil, Argentina e Chile.
Não foi a primeira e nem será a última vez que uma mudança de diretriz, na matriz de uma multinacional, revê planos e investimentos em alguns países.
Essa entrada e saída dos grandes players representa risco e oportunidade. Há o risco deles tomarem uma fatia do mercado. São empresas bem estruturadas, com muito dinheiro para investir e normalmente alicerçadas em um planejamento de longo prazo.
Por outro lado, quando elas saem, deixam um vácuo e geram oportunidades para o mercado local, que assume estas operações. Este é o novo jogo. O concorrente não é mais somente o vizinho regional, pode ser alguém que está do outro lado do planeta.
Como enfrentar este tipo de competição e como atuar nesse novo cenário é um dos grandes desafios. É uma questão de porte e de foco, mas isto já é outro assunto.
Chama a atenção os números da Ryder divulgados pela revista Exame, cujo trecho eu reproduzo abaixo:
“O custo do encerramento das operações nesses mercados deve chegar, antes de impostos, de US$ 36 milhões a US$ 45 milhões no quarto trimestre deste ano. Estas operações respondem por receitas brutas de aproximadamente US$ 200 milhões e receitas operacionais de cerca de US$ 120 milhões ou 3% das receitas consolidadas em 2007. Aproximadamente 45% de tais receitas operacionais derivam do setor automotivo.”
É um adeus em grande estilo. Exceto para os 2,4 mil funcionários que ficam sem emprego ou dependentes de serem absorvidos pelos novos entrantes. Muito bom para as empresas que tomarem essas operações, ainda mais nos tempos atuais onde só se fala em crise.
Nuno Figueiredo
Engenheiro Eletrônico formado pela Mauá, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, é um dos fundadores da Signa, onde atua desde 95. Entre outros defeitos, jogou rúgbi na faculdade, pratica boxe e torce pelo Palmeiras.
Foto: Freepik
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