Não torne o horrível suportável

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Nuno Figueiredo

01 de dez de 2021

· 3 min de leitura

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sociedade
financeiro
responsabilidade
saude
estabilidade
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Um amigo resumiu bem como deve terminar uma questão insuportável: é melhor um fim horrível do que um horror sem fim.

Ele se referia a desavenças numa sociedade da qual ele se retirou por diferenças irreconciliáveis entre os sócios. Aliás, esta é uma das maiores causas de quebra de empresas.

Mas o conceito é mais geral, é a nossa persistência ou teimosia, como preferir, em continuar convivendo com situações, pessoas ou projetos cujos problemas procrastinamos em resolver de forma definitiva, na causa raiz.

Inclusive, esta á uma das maiores fontes de dor de cabeça e de manutenção em sistemas: não resolver a causa origem e ficar aplicando paliativos aos efeitos colaterais.

Eu lembrei de um episódio bem legal de Star Trek: "A Taste of Armageddon"

Abaixo um breve resumo do episódio:

“Em Eminiar VII, a Enterprise encontra uma civilização em guerra com seu vizinho planetário. Incapazes de identificar quaisquer sinais de batalha a partir do espaço, o Capitão Kirk lidera um grupo de desembarque para a superfície onde eles descobrem que toda a guerra é lutada por computadores. Apesar da guerra ser simulada, cidadãos que são listados como vítimas virtuais, ainda devem se reportar para cabines de execução para serem mortos. Depois da Enterprise ter sido "destruída" em um ataque, Kirk deve lutar para manter sua tripulação viva”

Isso resume bem a questão. Duas civilizações tornaram a guerra “limpa”. Não havia mais bombas, destruição de prédios, sangue, pedaços de corpos e mortos para todo lado. O cidadão morto virtualmente caminhava para uma cabine onde seria pulverizado.

Eles tornaram a guerra suportável ao eliminar seus efeitos mais concretos, por isso mantinham a guerra de forma interminável.

O que nos leva a uma conclusão bem simples: Para não resolver um problema em definitivo, basta torná-lo suportável.

Isso ocorre inclusive com a gestão do dinheiro. “O homem mais rico da Babilônia” é um excelente livro sobre gestão financeira. Uma das lições que ele ensina é o “pague-se primeiro”.

Basicamente este conceito ensina que em cima dos seus ganhos, você deve se pagar primeiro, antes de pagar outros compromissos, notadamente dívidas; serve muito para quem tem um negócio próprio, mas é também adequado para qualquer um que contraia mais dívidas que os seus vencimentos possam suportar.

Uma atitude normal nestes casos, é você cortar na carne em prol de pagar os outros. Você estica a corda e dá mais fôlego para a situação não se tornar insustentável. Até que você chegará no seu limite, e aí sem ter outra opção, você vai acabar fazendo o que deveria ter feito no início.

Neste caso a solução pode ser desde fechar o negócio, renegociar as dívidas, reestruturar os gastos, enfim, tem vários caminhos possíveis.

O pague-se primeiro ensina a não tornar algo suportável e, portanto, infindável.

É importante distinguir a necessidade de terminar logo uma causa perdida com a resiliência que temos que ter para seguir adiante, e atingirmos nossos objetivos.

Uma coisa é desistir sem lutar, sem correr atrás do que você acredita. A resiliência é uma das virtudes mais necessárias, porque as coisas que valem a pena normalmente requerem muito esforço e persistência. Outra coisa é ficar insistindo em causas perdidas, que não valem a pena.

Ou como bem disse o meu amigo, é melhor um fim horrível do que um horror sem fim.

 

Nuno Figueiredo

Engenheiro Eletrônico formado pela Mauá, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, é um dos fundadores da Signa, onde atua desde 95. Entre outros defeitos, jogou rúgbi na faculdade, pratica boxe e torce pelo Palmeiras.

 

Foto: Freepik

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Ultimos comentários

Hélio

Parabéns!

Reinaldo Rodorei

👏👏👏

Adalgisa Polari

Estou me tornando sua assídua litora e sinto-me bastante satisfeita com isso. Muito interessante esse texto. Ainda estou dando corda aos meus neurônios (os dois, Tico e Teco)para que me tragam à memória o episódio de Star Treck a que se referiu pois sou fã incondicional da primeira fase da serie. O que veio depois não gosto, mas os filmes da velha trupe sempre me cativaram. E lendo , pra começar, a definição de seu amigo, como não pensar também nos relacionamentos pessoais que não engrenam nem desenvolvem por tantas razões que, afinal, nem vem ao caso porque o fato é que aquelas duas pessoas não vão "dar certo" nunca mas insistem em se massacrar emocionalmente na tentativa vã de acertar os ponteiros.Ah, quantas histórias me vem à mente...