Moinhos de vento, eis a questão

Foto do autor do post Everton Zanini

por

Everton Zanini

27 de abr de 2022

· 4 min de leitura

· 4 min de leitura

Foto do post Moinhos de vento, eis a questão

Na faculdade nosso sonho, dos que queriam seguir como acadêmicos, era o tão sonhado Mestrado, Doutorado e segue em frente.

Como não tinha certeza se daria certo, entrei em um programa chamado “Iniciação Científica”, que tinha como objetivo apresentar a metodologia científica aos candidatos à Mestres e Doutores.

Lembro que a primeira iniciação era na matéria de Pesquisa de Mercado. E a especialização era em PDV (Ponto de Venda). Tínhamos que acompanhar de longe um consumidor no mercado, anotar o que ele pegava, como pegava, no final entrevistá-lo e perguntar se podíamos usar seus dados. Adivinha o que acontecia na maioria das vezes? O consumidor não autorizava e perdíamos duas, três horas de pesquisa.

Fui para a segunda iniciação, mas nessa eu me encontrei. Era a matéria de Redação Publicitária e a especialização era em Análise da Escrita com Perfis Psicológicos. O tema é maior, mas na minha opinião, muito mais interessante.

Nós pegávamos textos de dois autores para traçar um perfil psicológico e assim conseguir identificar padrões de escrita. Nosso alvo foram as obras, “Dom Quixote” de Miguel de Cervantes e “Hamlet” de William Shakespeare.

Na primeira obra, “Dom Quixote”, analisamos que o personagem principal estava em constante luta, muitas vezes criava alegoria de gigantes, moinhos de vento e sempre desejava o amor da “doce Dulcineia”. Dom quixote estava buscando ser um herói, almejava glórias e ser vitorioso em uma guerra que não existia. Se pegarmos a história de vida de Cervantes, verificaremos que ele era de família pobre, lutou em guerras. Em uma batalha naval, perdeu a mão em um combate e em outra situação foi tomado como escravo. Ou seja, ele começa a refletir sua experiência de vida no texto.

Em contra partida temos “Hamlet”, onde o personagem luta, não pela sua sobrevivência ou por precisas provar algo. Pelo contrário. Sua luta é interna, com seus medos e provações pessoais. Hamlet não queria ser um herói, buscando por glórias e vitórias, mas desmascarar o tio usurpador - Vale a deixa para colocar que o Rei Leão foi inspirado nessa obra - em que o sobrinho que vê o trono de seu pai usurpado pelo tio, contrata uma trupe para apresentar uma peça e colocar juízo em seu tio.

Em um dos mais famosos discursos... “Ser ou não ser, eis a questão...”, analisando a vida de Shakespeare, descobrimos que ele era de família abastada, escrevia por prazer, não precisava trabalhar para garantir seu sustento, refletindo assim, essas características em Hamlet.

A partir dos estudos do psicólogo humanista Maslow, conseguimos ver graficamente a classificação de cada autor com base na Pirâmide de Necessidades de Maslow. Essa pirâmide classifica as necessidades por grupos e sua leitura deve ser realizada de baixo para cima, onde um nível só é alcançável depois que se completa o anterior.

Com isso concluímos que Cervantes estava no nível da Segurança, sempre lutando, buscando recursos e tentando sobreviver no mundo. Refletindo isso em suas obras. Por outro lado, Shakespeare encontrava-se no nível da Realização Pessoal, tentando se realizar e buscando seu espaço.

Pegamos outros textos também para fazer essa comparação e classificação e eles seguiam o mesmo estilo de escrita e reflexão dos autores. Entretanto eu parei quando um de meus colegas tentou utilizar textos de Kant e Locke para fazer a comparação. Eu estava a ponto de seguir a carreira acadêmica (um dos meus professores, ia me ajudar, com um Mestrado de Psicologia na USP), mas agora vejo que estava caminhando de uma forma muito arrogante na época e por fim, os moinhos de vento me levaram para outro caminho!

E cá estou eu, feliz pelo caminho ao qual fui conduzido. Ou será que me conduzi? Eis a questão.

 

Everton Zanini

Formado em Análise de Sistemas pela IFSP, graduado como publicitário pela Uninove, jogador assíduo da série Souls e blogueirinho no devzanini.ml. Saudosista de carteirinha de C e IBM Cobol 95.

Foto: Freepik

Conheça nossos eBooks

4