Matando o Mensageiro

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Nuno Figueiredo

13 de fev de 2009

· 4 min de leitura

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mensageiro
crise
Foto do post Matando o Mensageiro

13/02/2009

A história narra que em 333 a.C., Dario III, rei da Pérsia, cometeu erros estratégicos que contribuíram para sua derrota perante Alexandre, o Grande, na Batalha de Issus. Ao receber a notícia, Dario III teria mandado matar Charidemos, que o advertira sobre as consequências das suas decisões.

O episódio deu origem a uma expressão popular, usada sempre que alguém reage contra quem, honestamente, emite uma opinião verdadeira mas que lhe é incomoda: matar o mensageiro.

No começo do ano, no post Torcendo para o Jacaré, comentei que alguns jornalistas normalmente são portadores de más notícias. Num cenário de crise, as vezes dá vontade de ficar um pouco isolado das manchetes para não receber uma carga tão negativa de informações.

Um jornalista me enviou o seguinte comentário: "Nuno, já que você falou em bichos, jornalista não pode é ser avestruz - enfiar a cabeça no buraco e esperar as coisas melhorarem. Ser realista é a função número 1 do jornalista."

- Estaria eu matando o mensageiro? Talvez não seja mais o mais correto culpar o mensageiro pela enxurradas de más notícias, mas não seria esta nem a primeira, nem a última vez, que esse equívoco terá sido cometido.

Será que proliferam as más notícias porque não existem leitores para as boas novas? Ou é da indole do ser humano um estado de espírito masoquista de preferir ler sobre tragédias e crises?

Um dos pilares de um bom jornalismo é ouvir os dois lados. O jornalista Heródoto Barbeiro, na rádio CBN, já cunhou um chavão para isso quando ele anuncia: "e agora, o outro lado...". Na verdade, eu estou sentindo falta de ouvir o outro lado. Quem está fazendo diferença, mesmo em tempos de crise.

Um jornal que está fazendo um excelente trabalho neste sentido é a Gazeta Mercantil, que tem inserido em sua primeira página vários casos de empresas que estão crescendo e lidando bem com a crise. Eles não deixam de noticiar o aumento do desemprego e a queda do PIB, mas me parece ser um bom exemplo de alguém que não está torcendo para a crise ou para o Jacaré.

Na coluna do Nelson Rocco, publicada em 05/02/09, ele concorda com a opinião que emitimos. Veja o trecho abaixo: "Dá um certo desânimo a leitura diária dos jornais. Estão sendo publicados os dados de todo o desempenho da economia do último trimestre do ano passado. Uma informação mais desalentadora que a outra. O desemprego cresce sistematicamente. Há cada vez mais indústrias concedendo férias coletivas. Acordos para redução de jornada de trabalho se espalham. As notícias parecem avisar que o fim do mundo está próximo."

É isso. Ele descreveu bem, e com muito mais competência, o sentimento que eu tentei passar. O Nelson Rocco é o editor-executivo da Gazeta Mercantil. Ele brada "Xô pessimismo". Nada mais útil em tempos díficeis do que a confiança em dias melhores. Por isso, faço minhas as palavras do Nelson, no encerramento de sua coluna: "Que venha o otimismo."

 

Foto: Freepik

 

Nuno Figueiredo

Engenheiro Eletrônico formado pela Mauá, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, é um dos fundadores da Signa, onde atua desde 95. Entre outros defeitos, jogou rúgbi na faculdade, pratica boxe e torce pelo Palmeiras.

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