A ciência por trás de como os pais afetam o desenvolvimento infantil

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Nuno Figueiredo

24 de nov de 2021

· 5 min de leitura

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Todo pai/mãe gosta de pensar que faz toda a diferença na criação e educação de seus filhos. Eu incluso. A ciência pensa de uma forma bem diferente. E como ficam aquelas preocupações que temos em dar uma boa escola, aulas de inglês, natação, formação religiosa e tantos outros temas que nos são tão caros?

A nossa interferência no adulto a ser formado é menor que o que pensamos ou gostaríamos. É isso que diz um estudo a respeito: os pais não têm o controle.

Temos uma tendência em achar que se um filho não for bem sucedido é porque fizemos algo errado.

A ciência ensina que tentar prever como o seu filho será baseado nas escolhas que fazemos para eles, é como tentar prever um furacão a partir da batida das asas de uma borboleta.

Nós mudamos quem serão os nossos filhos de uma forma complexa e aparentemente imprevisível.

Na prática isso significa que se o seu bebê saísse da sua casa e fosse morar na casa do seu vizinho não mudaria essencialmente o adulto que ele pode vir a ser. Esta conclusão é devastadora e libertadora ao mesmo tempo. Se não fazemos a diferença para o bem, também não o fazemos para mal.

O problema é que isso bate de frente com o bom senso e com qualquer análise razoável que a gente faça a respeito de como nós criamos os nossos filhos. Como assim, estão dizendo que eu sou basicamente inútil no processo?

Em 2015 uma meta-análise trabalhou com mais de 14 milhões de gêmeos em mais de 39 países, estudando mais de 17 mil resultados. Eles acharam que o ponto comum é a hereditariedade. Os genes são a grande influência em quem o seu filho se tornará. Ou seja, escolha bem a esposa ou o marido e voilà.

Para te poupar de ir ao dicionário uma meta-análise é basicamente um estudo a respeito de vários estudos de um determinado tema, para integrar os resultados e prover uma conclusão geral

Eles determinam que o ambiente é importante, mas não é possível mensurar como. Isso é devastador, porque diz na prática que os pais não importam. Uma vez feita a criança não faz diferença quem irá criar a dita cuja.

Quem traz essa notícia é Yuko Munakata, ela é professora do Departamento de Psicologia e do Centro para Mente e Cérebro da Universidade de Davis na Califórnia (UC Davis).

Ela comenta que esse resultado não deveria ser tão chocante. Você deve conhecer vários casos onde dois irmãos que vieram da mesma casa, com a mesma educação e as mesmíssimas oportunidades geraram um que foi bem sucedido e outro que se perdeu na vida.

Não há nada mais diferente que dois irmãos, por mais coisas que eles tenham em comum.

Uma família super protetora pode ser algo muito positivo para um filho e algo insuportável para outro. A Yuko diz basicamente que o mesmo evento tem consequências bem distintas. Um divórcio para um filho pode ser uma tragédia, enquanto para o outro isso seria um alívio.

Ela conta uma experiência pessoal que teve com o marido. Num voo o avião resolveu do nada despencar em queda livre. Isso ocorreu três vezes, gerando um pânico geral. O resultado disso para o marido dela foi confiar mais ainda na segurança dos aviões, visto que podem suportar bem esse tipo de problema. Já ela, pegou um trauma muito severo com voos.

A mesma experiência, no mesmo local, com resultados bem distintos.

Isso não ocorre somente na família. A mesma empresa pode ser ótima para um funcionário e péssima para outro, pelo mesmo motivo. Isso foi reforçado na pandemia, o mesmo evento, o Home Office, para uns é tudo de bom e para outros é horrível.

Isso deveria ser um alívio para o RH também. A cultura de uma empresa não possui e nunca terá, aceitação universal. Por exemplo, quem surfa bem no mercado financeiro lida com um nível de stress que não agrada a todos. Um exemplo mais extremo é a brava gente que fica na linha de frente de uma UTI, no enfretamento com bandidos, no combate a um incêndio ou lidando com uma classe.

O que dizer então daqueles lunáticos que gostam de trabalhar com TI?

Eu estava conversando a respeito disso e recebi um insight interessante. Não é razoável dizer que a criação não afeta quando estamos falando de ambientes violentos ou de extrema pobreza.

Penso que isso é igual aos fatores higiênicos numa empresa. Os fatores higiênicos são aqueles cuja presença não faz nenhuma diferença na retenção de talentos. Coisas como ter um banheiro disponível, uma cadeira confortável, uma mesa para trabalhar, um ambiente limpo e seguro, e etc.

Ninguém vai gostar mais da empresa porque ela tem esses fatores, porém a falta deles é um causador de desmotivação e pode gerar a perda de recursos.

E antes que você me diga que não concorda com essa conclusão da ciência, eu mesmo não tenho uma posição final a respeito. Tenho orgulho dos filhos que criei e gosto de pensar que o meu esforço fez alguma diferença, mesmo que isso não consiga ser medido ou quantificado.

 

Nuno Figueiredo

Engenheiro Eletrônico formado pela Mauá, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, é um dos fundadores da Signa, onde atua desde 95. Entre outros defeitos, jogou rúgbi na faculdade, pratica boxe e torce pelo Palmeiras.

 

Foto: Freepik

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Ultimos comentários

Adalgisa Polari

Pai e mãe são uma instituição falida! Parece incrível que eu já fazia esse comentário há mais de vinte anos! Já passei dos 80 anos e vivi o suficiente para entender que a destruição da família é um terror que nos vem sendo imposto há muito tempo. Fui educada por uma mulher que jamais admitiu bater nos filhos, porque "já apanhei de meu pai até a minha sétima geração", eram suas palavras. Fui educada por exemplos e bons conselhos e tentei fazer o mesmo com meus filhos. Tenho quatro e são tão diferentes como os dedos da minha mão. Tenho gêmeos também, não sei se fraternos ou univitelinos, pois quando comentaram que para classificar se fraternos ou univitelinos era necessária uma bateria de cerca de 50 testes, não fiz questão nenhuma de testá-los. Para mim seria o mesmo. Os mesmos conceitos de honestidade, caráter e retidão que me foram passados por minha mãe tentei passar a meus filhos e não me sinto frustrada. Cresceram bons cidadãos cumpridores de seus deveres, com bom senso de humanidade e caráter, bem colocados na sociedade. Nunca levantei a voz nem empinei o nariz para responder a minha mãe, nem meus filhos o fizeram comigo. Creio que isso prova que a educação que se dava aos filhos e que eles passavam para os netos era boa. Entretanto as mudanças sociais ao redor do mundo fizeram-nos crer que a família era um erro. Descasar dava tanto trabalho que melhor seria não casar. Depois surgiram os governantes que concluíram que os filhos são uma "responsabilidade" do governo e que pais não sabem como educar. É o caos!