Uma questão de Know how ou de escolha?

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Nuno Figueiredo

07 de mai de 2018

· 5 min de leitura

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operador logístico
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07/05/2018

“Você está contribuindo para o que chamamos de educação corporativa de reforço negativo”.

Este foi um feedback que recebi do artigo onde comentei que fui expulso de uma transportadora antes de conseguir iniciar uma apresentação comercial. O e-mail ainda me dizia que o autor faz um esforço enorme para mudar o estereótipo que foi criado do transportador (ignorante, burro, analfabeto e resistente a mudanças) e narrativas como estas só vem a reforçar esta imagem. A narrativa em questão você pode ler aqui.

Eu agradeci o retorno e os comentários e comentei que o meu propósito é justamente ir contra essa imagem. Certamente aquilo é um caso extremo que denota alguém muito resistente a melhorias, a investimentos, alguém que nunca será um Operador Logístico e tende sempre a trabalhar com commodity.

De onde vem essa imagem? Bom, a maioria das empresas de transporte nasceu de ex-caminhoneiros que foram do volante do caminhão para a direção da empresa. Empreenderam, criaram empresas, e fizeram história. A grande maioria não deu certo e nunca ouvimos falar deles, mas as maiores empresas de transporte do país têm em comum este passado.

Um bom exemplo é o fundador da RTE Rodonaves, o Sr. João Braz Naves, que começou fazendo entregas numa bicicleta de carga. Essa história você pode ler em detalhes aqui.

Essas empresas cresceram, se modernizaram, agregaram talentos que permitiram o crescimento e várias estão na segunda geração, que normalmente vêm com mais competências acadêmicas e a capacidade de levar o negócio para outro patamar, quando dá certo. Há muitos casos onde dá muito errado.

O desafio de tornar uma estrutura familiar em uma estrutura profissional não é pequeno. Além disso, temos vários casos de empresas que não sobrevivem sem o fundador. Ele era a empresa. Sobre o desafio de profissionalizar a gestão de uma empresa familiar eu recomendo a leitura deste excelente artigo da Glic-Fas.

Isso não ocorreu somente com transportadores. Há alguns anos atrás a Logística era relegada a segundo plano. Num país que vivia na ciranda financeira, ninguém queria saber de investir em melhores práticas. Nenhum projeto, por melhor que fosse, ganhava dos juros pornográficos da era inflacionária. Isso gerou uma cultura ruim, que demorou para passar e afetou todas as áreas dos Embarcadores, principalmente a Logística.

Os Embarcadores deixavam a expedição cuidar do transporte. Hoje se fala em gestão da cadeia de suprimentos e é fácil achar alguém com MBA comandando essa área.

Esse passado trouxe para as transportadoras uma imagem que é difícil de mudar. Eu concordo com a questão do estereótipo comentado no e-mail que eu recebi. Não estou autorizado a divulgar, mas trata-se de um presidente de entidade patronal e diretor de uma federação, alguém ligado ao meio e sabe do que está falando. Eu ouço isso de alguns Embarcadores. É aquela história de “Transportador é tudo a mesma coisa”.

Isto nos leva à última diferenciação que finaliza esta série: O Know How, que tende a ser limitado e especializado no transportador e mais amplo e complexo no Operador Logístico. Você pode consultar a tabela completa dessas diferenças aqui.

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Acima a foto de um quadro que a Signa ganhou das mãos do fundador da TGABC em 2006 em reconhecimento aos serviços prestados.

Gostaria de dar um exemplo de uma transportadora que cruzou este rio. O primeiro grande projeto que fizemos na Signa, quando decidimos dar o foco no mercado de Transportes e Logística, e ofertar nosso TMS ao mercado, foi com a Transportadora Grande ABC. Já tínhamos a expertise de prover o sistema para uma empresa que atuava no rodo-aéreo. Ali o buraco era mais embaixo. A empresa era muito maior, na época com 14 filiais, e com uma ampla gama de serviços.

A Grande ABC como era conhecida, não era uma Transportadora, se assemelhava mais a um Operador Logístico. Trabalhava com montadoras e sistemistas da cadeia que atendia às montadoras. Uma carteira de clientes recheada de multinacionais.

Fazia operações complexas: provia desde a armazenagem, o transporte, serviços dedicados e operações complexas como Milk Run, Cross Docking, entre outras. A empresa tinha uma área interna de logística e projetos, contava com engenheiros que tinham Know-how para sugerir e elaborar projetos mais complexos.

A Grande ABC foi adquirida pela JSL há alguns anos. Acredito que deve ter ajudado no processo de venda não só a seleta carteira de clientes, mas principalmente a expertise que a empresa detinha e serviços que poderia agregar.

O Know how é uma questão de pessoas e ferramentas. É algo que pode ser adquirido, mas necessita de investimento, tempo, dedicação e foco nessa direção. É antes de tudo uma escolha. A empresa pode ter 60 veículos ou ter 58 e investir o dinheiro dos outros dois em ferramentas e pessoas que permitam abrir o horizonte.

O Jorge Paulo Lemann tem uma frase muito interessante a respeito disso “Sonhar grande e sonhar pequeno dá o mesmo trabalho”. Na minha humilde opinião, o transportador deveria sonhar em ser um Operador Logístico.

 

Nuno Figueiredo

Diretor Comercial
Signa Consultoria e Sistemas

Terminamos aqui a análise das diferenças entre o Transportador e o Operador Logístico. Isto não encerra o tema, futuramente voltaremos a falar disto. Se você perdeu alguma News, abaixo relaciono as anteriores.

 

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