O Risco Eletrônico

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Nuno Figueiredo

06 de out de 2009

· 5 min de leitura

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eleições
urna eletrônica
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"Apesar de tudo, o Brasil está correndo um grande risco de dar certo". Ouvi esta frase numa palestra de Lúcia Hipólito há algumas semanas atrás. Eu concordo. Às vezes, alguns assuntos adquirem tamanha notoriedade, que nos afastam do contexto certo, como é o caso da política, onde temos uma má noticia atrás da outra.

Somos um país com grau de investimento, inflação estável, em crescimento e um dos primeiros a sair oficialmente da crise. Sem falar das olimpíadas no Rio em 2016.

A Lúcia Hipólito insiste na importância do voto e da nossa consciência a respeito do mesmo. Refletindo a respeito da importância do voto, a preocupação deve começar no sistema eleitoral e na confiabilidade do processo, o chamado Voto Eletrônico, que é um dos ícones da inovação do Brasil.

O Brasil é referência no bom uso da tecnologia em setores importantes como o bancário e o fiscal. Possuímos um sistema de pagamentos excelente, um dos melhores do mundo. Numa palestra sobre a dificuldade de empreender nos EUA, fiquei surpreso em saber que a maior economia do mundo possui um sistema bancário Bizantino. Uma simples transferência de valor, da costa oeste para a costa leste chega a demorar uma semana.

É muito fácil falar do governo, mas é necessário registrar que algumas coisas funcionam e muito bem. Além de um sistema bancário eficiente, temos uma receita federal inovadora. O contribuinte pode baixar o programa, fazer a sua declaração de uma forma simples, rápida e entregar a mesma eletronicamente em qualquer lugar, pela Internet. Tá certo que o termo contribuinte é inapropriado. Dá a noção de ser algo voluntário, feito de bom grado. Certamente não somos contribuintes, somos pagadores de impostos. Pelo menos isso está mais fácil de fazer.

O projeto SPED é outro exemplo de eficiência. É um excelente projeto, feito para arrecadar, mas isso não tira o mérito de levar o mercado a um novo patamar tecnológico. O conhecimento eletrônico é parte do SPED e vai ser um novo paradigma para o mercado de transportes.

A urna eletrônica deveria ser outro exemplo, mas não da forma como está. Comparado com o uso do papel, que ainda é usado em vários lugares, parece que estamos na ponta, neste processo. Em poucas horas sai o resultado, sem gente virando a noite e conferindo e re-conferindo urnas. Mas neste caso, acho que fomos para o lugar errado.

Intrigante o fato da empresa que está por trás dessa tecnologia não conseguir vender isso nos EUA, que notoriamente, desde o fiasco da primeira eleição do Bush, demonstraram para o mundo que precisam evoluir nesse ponto. Não foi por falta de interesse da empresa, mas os EUA consideraram a nossa urna insegura.

Em 2010, novamente teremos eleições e por isto, insisto no assunto do voto eletrônico. Infelizmente, este não é um bom exemplo da inovação nacional, porque o sistema não é seguro. E a segurança neste caso é imprescindível, e sem a garantia desta, é preferível ficar no papel. Em casos críticos como este, é melhor um processo lento e confiável a um rápido e sem segurança.

Onde está o gap? O processo não pode ser auditado. Você vota, confere, a máquina registra o voto e armazena. No final, esses dados vão para um disquete e de lá para um computador, que envia os dados para o computador central do TSE, que faz a somatória geral. Por mais tecnologia que exista por trás disso, o processo pode ser adulterado, como já vimos acontecer com certo painel do senado, cujo sigilo foi quebrado. Não afirmo que isto esteja ocorrendo, apenas alerto que há esta possibilidade.

O conceito de voto eletrônico é ótimo, mas a forma como foi executada nem tanto. Deveria haver o voto seguido da impressão não identificada do seu voto. Você vota, você confere se o que está impresso está correto e deposita o papel numa urna tradicional. Vale o voto eletrônico, mas em caso de dúvida é imperativo termos a possibilidade de uma auditoria, ainda que por amostragem. Tem que haver a possibilidade de se abrir uma determinada urna e conferir se ela é um retrato fiel da vontade manifestada pelos eleitores. Se um pequeno percentual for auditado, todo o processo está seguro e confiável.

Na verdade eu não sei por que fizeram uma urna eletrônica. Uma máquina que só serve para votar e que armazena o voto em um disquete. Em pleno século XXI? Por que não chamaram a equipe que fez o programa da receita federal para a declaração de imposto? Tá certo que votar num papel não é o mais adequado, mas eu usaria um computador. O mesmo que você tem na sua casa e no seu escritório. O velho e bom PC. O Voto Eletrônico usaria um programa on line, na WEB, ligado no computador central do TSE. Investimento baixo, porque existem computadores disponíveis em todo o Brasil. Impressoras idem. Se não querem fazer on line, em tempo real, tudo bem, pode ser um programa que armazena localmente e depois transmite, como o programa que usamos para fazer o Imposto de Renda.

Só não se deve fazer isto sem imprimir. Um pequeno ajuste necessário para podermos continuar tendo orgulho do Voto Eletrônico. Da forma como está, aplica-se uma frase do meu amigo Carlos Macedo: "Quase ótimo, porém péssimo!".

 

Nuno Figueiredo

Diretor Comercial
Signa Consultoria e Sistemas

Foto: A Coluna

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