O Princípio X Tiririca

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Nuno Figueiredo

19 de out de 2010

· 4 min de leitura

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tiririca
política
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O Juvenal recebe um aviso de seu amigo: quando você sai de casa a tua mulher se deita no sofá da sala com o teu compadre. Indignado, o Juvenal promete tomar providências imediatas. Quando o amigo o reencontra, ele responde que está tudo certo, já mandou trocar o sofá da sala.

A piada é velha, mas a prática de mexer no lugar errado e combater os efeitos em vez de resolver a causa, continua em uso. O assunto me vem após uma esclarecedora conversa sobre princípios que tive com um amigo a respeito das últimas eleições.

Em teoria, um principio não deveria se pautar pelo momento, caso contrário não é mais um princípio. A atual polêmica a respeito da posse do Tiririca e dos políticos ‘ficha suja’ é um exemplo de como é difícil fazer valer um principio, quando a sua aplicação nos incomoda. Por menos que se goste, o principio diz que ambos devem tomar posse.

A base do sistema democrático é o respeito à decisão das urnas. Simples assim. Este princípio não deveria retirar ninguém que jogou o pleito democrático, seja porque motivo for. E assim deve ser para não haver o juízo de valor. Quem decide é o eleitor.

Ao impormos regras para retirar este ou aquele candidato, ainda que nos embrulhe o estômago, estaremos deixando nas mãos de poucos, aquilo que deveria ser decidido pela população. E é aí que reside o perigo, porque a decisão fica na mão de pessoas que podem ou não agir de boa fé. Se for para ouvir a voz do povo, há que se aceitar a sua decisão, sem vírgulas ou “senões”.

Por que temos tantos candidatos ficha suja? Entre outros, por dois motivos: porque a imunidade parlamentar foi distorcida e porque os partidos não fazem a devida triagem de seus candidatos. Estes são os pontos a serem revistos. Deixar entrar o ‘ficha suja’ no pleito e querer retirá-lo depois que foi votado é mexer no lugar errado, é trocar o sofá de lugar, e pior, abre precedentes para amanhã se alijar outros do cargo. Quem faz isso é a ditadura, não a democracia.

E por que o Tiririca não pode ir para o congresso? Se um analfabeto não pode concorrer temos que submeter todos os candidatos a uma prova de redação e o façam antes e não depois da eleição. Se o fizerem, que o façam para todos e não somente para o palhaço. Não parece fazer sentido permitir o voto de um analfabeto, mas não permitir a eleição do mesmo. Deveríamos sim , erradicar o analfabetismo, mas enquanto ele existir que o analfabeto seja livre para emitir a opinião e ser eleito.

Existem tantas profissões representadas no congresso, por que não o palhaço? Isso não vai abalar as estruturas da casa, talvez até areje alguma coisa por lá. Se ele serve ou não para nos representar, é outra conversa. Gostemos ou não, o congresso representa a sociedade. Se a imagem não é boa é sinal que não gostamos de nos olhar no espelho e que temos que melhorar.

Desde os tempos de Roma, se elegem alguns políticos que não têm preparo para representarem ninguém, assim como se elegem representantes que entram para representar somente a si e a seus interesses. O sistema não é perfeito, mas ainda é o menos ruim que existe. Pode ser aperfeiçoado e ainda assim produzirá resultados lamentáveis de tempos em tempos. O importante é que a maioria sejam pessoas preparadas e de bem, afinal é a maioria deles que aprova as leis.

Na Itália ,já foi eleita uma atriz pornô e nos EUA, eles elegeram um ator como presidente, o Ronald Reagan, e recentemente, colocaram o Schwarzenegger como governador da Califórnia. É assim em todo o mundo e não deve ser diferente por aqui.

A regra tem que valer para todos. O principio tem que ser firme, ainda que nos desagrade algum efeito colateral do mesmo. Ou então, vamos ficar trocando o sofá de lugar, sem resolver de fato, o problema.

 

Nuno Figueiredo
Diretor Comercial
Signa Consultoria e Sistemas

Foto: Política ao Minuto

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