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Mais do que perder um gênio, testemunhamos o fim de uma era. Um processo iniciado no final da década de 70, onde alguns nerds quebraram paradigmas e mudaram o mundo da computação, e por tabela o nosso dia a dia.
Steve Jobs tornou-se um dos ícones dessa era, juntamente com o seu sócio Steve Wozniak. E eles vêm bem acompanhados de outra dupla igualmente bem-sucedida, Bill Gates e Paul Allen.
Eles, entre outros , pavimentaram o caminho dos microcomputadores e, de formas diferentes, juntamente com a Intel, “encerraram” o domínio da então onipresente IBM.
Eu sempre fui mais fã do Bill Gates e da Microsoft do que de Jobs e a sua criativa Apple. Preferências à parte, estamos falando de uma turma iluminada, que além de estar no lugar certo, na hora certa, soube agarrar com talento, e muito, mas muito esforço, as oportunidades e o resto é História.
A Internet gerou os novos líderes desse mercado e os gurus da vez estão por trás de soluções como o Napster, Google, Yahoo, Skype e Facebook, entre outros. Acho que hoje ninguém representa melhor os tempos atuais do que o Mark Zuckerberg, que até virou assunto de um blockbuster no cinema recentemente.
Essa turma dos hippies já está nos bastidores, tocando outros projetos, dedicando -se a causas humanitárias, projetos pessoais e curtindo um pouco do sucesso que geraram. Já passaram o bastão e nisto Jobs era uma exceção. Longe de estar passando o bastão, ele virou mais uma vez o leme do barco Apple e transformou a maçã na empresa mais valiosa do mundo, superando numa eterna disputa, a Microsoft. No que deveria ser o seu momento de viver das glórias passadas, Jobs resolveu voltar a revolucionar o mundo com seus iPods, iPhones e iPads, sendo ele, o único desses hippies que ainda não só estava na ativa como também liderava as transformações.
Do que eu já li sobre a sua morte até o momento, muitos consideram esta a sua melhor fase, mas isso seria renegar a história e diminuir o impacto de suas grandes realizações. Penso que isso é igual à comparação, guardadas as devidas proporções, que ocorre hoje com o John Travolta. Muito conhecido pela sua carreira recente em filmes como Pulp Fiction, mas lembrado por quem é da minha geração por ‘Grease – nos tempos da brilhantina’.
Um aspecto interessante é que Jobs e a empresa que tem a sua cara, a Apple, não têm usuários, eles têm seguidores. Pessoas que cultuam a empresa e seus produtos e que são capazes de brigar pela causa, como se fosse uma religião.
Ele não atuou em uma única indústria, como é o caso da Microsoft que sempre focalizou o software, pelo contrário, a Apple sempre foi desde o berço uma indústria de computadores. E sempre foi um mundo fechado e incompatível, o que durante décadas limitou os seus produtos e mercados a um nicho.
O sistema operacional da Apple, o iOS, sempre foi muito mais amigável e prático do que o Windows, mas a sua segmentação o fez sempre andar de lado no mercado, numa posição firme, porém secundária. Aqui no Brasil até há alguns anos os usuários da Apple estavam limitados ao mundo de quem mexe com design, arquitetura e afins, fora um ou outro aficionado que sempre tem interesse por algo que não seja o de uso mais comum ou difundido. Esse é o mesmo sistema operacional que assombrou o mercado no iPod Touch e mais tarde no iPhone, que popularizaram algo que os usuários do Macintosh estão carecas de usar.
Eu tive a oportunidade de ver pessoalmente as enormes filas em Nova York e em São Francisco em volta da loja da Apple e de seus consumidores apaixonados que aguardavam numa fila desde a meia noite até as sete horas da manhã para receberem uma senha que os permitia comprar um iPad cujo estoque não conseguia fazer frente à demanda. Não consigo entender como Jobs conseguiu promover tamanho frenesi. Não que eu não goste dos produtos, mas, não ficaria numa fila dessas por qualquer tipo de produto, fosse ele qual fosse.
A era que se encerra é de nerds que escolheram o caminho errado: o de largar a faculdade para investir em seus sonhos e oportunidades. Algo que arrepiaria os cabelos de qualquer pai. Mas os gurus de hoje não existiriam se eles não tivessem feito essas escolhas. Ainda que estivesse enfrentando uma luta antiga contra o câncer e que tivesse mais dinheiro do que seria possível gastar em uma vida, ele insistia em comandar as ações e inovações da Apple . Jobs tornou-se sinônimo de Apple, tanto que suas ações na bolsa caíram quando ele se afastou . O mundo hoje olha para a empresa com uma interrogação e especula -se ela permanecerá além de seu fundador.
Jobs triunfou sobre essa nova geração, conseguiu ser o maior deles e teve algo incomum: Liderou duas gerações diferentes no mercado extremamente competitivo de tecnologia, onde algo fica obsoleto de forma muito rápida. Eu acho questionável afirmar que Jobs tenha sido o melhor deles no passado. Como já disse acho que esse posto é do Bill Gates. Não tenho nenhuma dúvida que ele estava num degrau acima dos demais atualmente. Estar nos dois rankings é prova que no conjunto da obra se perde alguém único.
Nuno Figueiredo
Diretor Comercial
Signa Consultoria e Sistemas
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