Ave Google

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por

Nuno Figueiredo

27 de set de 2010

· 4 min de leitura

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Meu filho de 13 anos nunca teve uma cárie e não sabe o que é ter uma boca anestesiada. Longe de ser uma exceção, este é o padrão atual de todas as crianças que têm acesso a um dentista e a alguns cuidados básicos não seguidos pelas gerações anteriores.

Já dizia o Lulu Santos “tudo muda o tempo todo no mundo”. Vivemos num mundo mais conectado e sem percebermos, mudamos alguns hábitos. Não existe mais aquela longa discussão numa roda de amigos, quando alguém não se lembra do nome de um livro, de um filme, do resultado de uma partida de futebol ou do nome do ator que fez aquele filme. Aquela longa sessão de tentativas e erros que demorava até alguém evocar a resposta certa e obter o consenso do grupo. Isso acabou. Hoje nem se inicia a polêmica, alguém já puxa um celular, faz um acesso e acabou-se a contenda. Ave Google!

A memória não é mais necessária, existe algo de fácil alcance, online e em tempo real que nos elucida qualquer dúvida. O pai dos burros não é mais o dicionário. Este é apenas um pequeníssimo pedaço do conteúdo total disponível na rede.

E como isso nos afeta? Bom, o Nicholas Carr em seu artigo “Is Google Making Us Stupid?” acredita que a troca da leitura em livros e jornais pela leitura na Web prejudica nossa capacidade de concentração e aprofundamento. Segundo ele, existe muita distração no mundo interativo. Você começa a ler algo e logo é seduzido por um link que te remete para outro lugar, ou por uma imagem, ou por uma propaganda, enfim, é um ambiente multimídia, onde tudo conspira para que você não se concentre demais. Informação rápida e superficial.

O medo dele é que nos tornaremos mais superficiais e, portanto, mais estúpidos. A metáfora “você é o que você come” na leitura virou “você é o que você lê”. Agora nesse novo contexto, “você é da forma que você lê”. Um conflito que diz que nunca tivemos tanta informação disponível, mas isto ao invés de nos ajudar, nos torna mais idiotas. Será?

O outro lado dessa história é dado pelo Steven Pinker, que em seu artigo “Mind Over Mass Media”, comenta que a novidade sempre atrai duas extremidades ruins: a primeira só vê maravilhas no que é novo e a segunda acha que aquela novidade é um prenúncio do final dos tempos. A velha falta de dosagem entre o otimista exacerbado e o pessimista convicto. O mais comum é estarem ambos errados.

O Pinker não acredita que estejamos emburrecendo. Segundo ele, nunca antes na história da humanidade se produziu tanto conhecimento (não resisti e tive que usar a metáfora preferida do nosso presidente). Assim como já profetizaram o caos com o aparecimento da escrita, da TV e do vídeo game, é muito barulho a toa. Para Pinker, o conhecimento aumenta exponencialmente, mas a capacidade de nossos cérebros e nosso tempo não, por isso, a net e o Google não são apenas bem vindos. Eles são essenciais.

Atingimos no Brasil o importante marco de 180 milhões de celulares vendidos no País. Se isto é bom ou ruim, cabe a discussão, mas há um fato: estamos mais conectados e a tendência é irreversível. Resta-nos entender melhor como isso nos afeta e que mudança provocará em nosso comportamento e inteligência.

Entre um extremo e outro, tire as suas próprias conclusões. Uma coisa eu posso afirmar: assim como existirão adultos sem cáries, veremos adultos mais estressados. Desde que comprei o meu primeiro Smartphone, não sei o que é um fim de semana ou uma noite sem que ocorra uma rápida olhada no e-mail. Não fico mais quieto em lugar algum durante horas, sem acessar algo.

É certo que tudo mudou e não necessariamente para melhor.

 

Nuno Figueiredo
Diretor Comercial
Signa Consultoria e Sistemas

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