Apenas Números

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Nuno Figueiredo

19 de jun de 2009

· 3 min de leitura

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“Morrem mais pessoas de picada de abelha, do que de acidente aéreo no EUA”. Eu ouvi este dado na Band News FM, quando o assunto estava no auge, devido a tragédia do voo da Air France.

Eu odeio viajar de avião. Não gosto e tenho pânico de voar. Sou bem informado a respeito de tudo o que um cidadão normal deve saber a respeito do quão seguro é voar, e ainda assim, prefiro permanecer em terra firme. Sempre que posso, prefiro ir de carro a ir de avião, mesmo sabendo que o risco envolvido é muito maior.

Interessante a forma como lidamos e analisamos alguns números. Nosso comportamento pode ser extremamente incoerente, face à realidade estatística que, friamente expõe que nem todas as nossas decisões se apoiam na lógica.

Como tomador de decisões, um administrador deve se pautar em números que reforcem as suas medidas e metas. Mas existem sentimentos que atrapalham essa lógica, e nem sempre tomamos as decisões corretas, contrariando o que parece ser a melhor opção.

Por exemplo: Eu não consigo entender porque se fala tanto da gripe suína. O Brasil tem menos de 100 casos diagnosticados dessa gripe. Nenhum caso fatal. É uma doença para a qual existe tratamento e ela é estatisticamente desprezível.

Só em Salvador existem mais de 60 mil casos de Dengue neste exato momento. Tudo se baseia em medo. O medo de uma pandemia, que por si só, não quer dizer nada. A Pandemia nível 6 quer dizer unicamente que o vírus tem a capacidade de se espalhar globalmente. Li e ouvi alguns especialistas que achavam que o assunto estava sendo muito valorizado, desnecessariamente.

Outros dizem que o risco está na possibilidade do vírus mudar e se tornar letal. A possibilidade de um vírus ter uma mutação, e de inofensivo se tornar fatal existe, e vai continuar existindo. A tal da gripe espanhola, sempre lembrada, é um evento que pode ocorrer. É possível, mas pouco provável.

O assunto nem é novo. Há poucos anos, tivemos a SARs, e mais recentemente a gripe aviária. Havia depoimentos falando de milhões de possíveis contaminados e no final das contas, morreu mais gente de gripe comum, do que desses “bugs do milênio”, que tem muita propaganda e pouco efeito.

Qual a lógica disso? Bom, se prevenir é melhor do que remediar, que se gaste alguns milhões para evitar aquilo que dificilmente ocorreria. Tem muita gente ganhando muito dinheiro com isso. Compramos vacinas que não vamos usar. As da gripe aviária já devem ter o prazo de validade caducado sem nem terem saído da caixa.

Na emergência e na urgência, as verbas necessárias aparecem. Gastar com propaganda para alertar a população sobre um assunto que era manchete de todos os jornais, revistas, Internet e TV não tem lógica.

Se não houvesse outros casos de maior gravidade, talvez isso fosse tolerável, mas investir nisso é tão insensato quanto deixar de andar de avião.

Se eu fosse o Ministro da Saúde (e ainda bem que não sou), eu não gastaria 180 milhões para combater um problema que não tem prioridade, simplesmente, porque não existem números que apoiam a lógica dessa decisão.

Independente do medo, temos que nos guiar por fatos concretos. É por isso que eu viajo de avião, mesmo rezando e sofrendo, e sempre me lembro do antigo Papa, que quando saia do mesmo, beijava o solo. Várias vezes, eu já tive vontade de fazer isso. Não para abençoar a terra aonde cheguei, e sim para agradecer por estar em terra firme.

 

Nuno Figueiredo

Diretor Comercial
Signa Consultoria e Sistemas

Foto: Aaron Burden

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