Grandes demais para competir?

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Nuno Figueiredo

27 de out de 2021

· 7 min de leitura

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Além de Pink e o cérebro, grandes nomes da história sonharam em conquistar o mundo. Alexandre, o grande, Gengis Khan, Júlio César, Hitler, a lista é grande. Nenhum deles conseguiu, mas o Google está quase lá. Quando o assunto é buscar informações na rede, eles respondem por formidáveis 87% das pesquisas.

O efeito disto não é banal. Quer aparecer para o mundo? Você precisa deles.

Quando uma empresa domina de tal forma o seu mercado, as ações de órgãos reguladores são necessárias para garantir a competição, o livre mercado.

Nos EUA o assunto cartel é levado mais a sério. Já incomodou desde os magnatas das ferrovias, do petróleo, até a Bell Labs, que foi obrigada pelo governo a se fracionar em várias empresas, conhecidas como Baby Bells.

Não faltam exemplos de ações enérgicas do governo americano para impedir que uma única empresa tenha tamanho poder que possa direcionar o seu mercado, coibir a livre competição e atuar com a força de um monopólio, que basicamente é a condição de estabelecer o preço e a quantidade a ser ofertada de um produto ou serviço devido à falta de competição.

Isso ocorreu também com os gigantes de TI: IBM e Microsoft. Nas memórias do filho do fundador e CEO da IBM, ele conta como foi impedido de comprar a Kodak, entre outras restrições que lhe foram impostas. A Microsoft foi impedida de tornar o seu navegador padrão do Windows há alguns anos. Estas empresas sofreram frequentes demandas antitruste para conterem seus tentáculos.

Pois é, parece que isso não é mais tão efetivo. Novos gigantes surgiram e dominaram o mundo debaixo das barbas dos órgãos reguladores. Tem orçamentos maiores que o PIB de vários países.

Eles se tornaram corporações grandes demais para competir. Se surge algo novo, que começa a incomodar, eles simplesmente abrem sua polpuda carteira e compram a empresa.

Foi assim com o Instagram, o Waze, o WhatsApp, para citar os casos mais famosos. Quando não compram, clonam rapidamente o diferencial da concorrência e inviabilizam o concorrente. Foi que o Facebook fez recentemente criando as stories, que era a grande sacada do SnapChat.

A nova economia trouxe uma mensagem diferente. Não é mais necessário cuidar das grandes corporações. Alguma Startup, mais inteligente, vai fazer algo disruptivo e deixará a grande corporação de joelhos. Exemplos como o da Netflix, que quebrou a outrora gigante Blockbuster, e se tornou líder de mercado, estão aí para dizer que os tempos são outros e o mercado vai encontrar os seus caminhos.

Como disse o cofundador do Google, Larry Page:

“O governo deveria parar de se preocupar, porque no mundo on line,

um gigante jamais sobreviverá por mais tempo do que merece”.

Uma extensa reportagem do New York Time listou uma grande lista de empresas que em suas inovações representavam uma ameaça ao Google e seu onipresente mecanismo de busca. A maioria entrou com processo antitruste na comissão Europeia. Se você deseja beber da fonte de onde eu extraí grande parte do conteúdo deste post, acesse este link.

Um executivo da Getty Images chegou a reclamar das práticas desleais. A resposta do Google foi “Bem, se você não concorda com estes termos, nós iremos apenas te excluir”, e segundo o executivo da Getty Images, Yoko Miyashita:

“Isso não é realmente uma escolha, porque se você não está no Google,

basicamente você não existe”.

O ponto aqui é que a livre concorrência poderia ocupar espaços e diminuir o mercado dos gigantes. O problema é que eles não vão assistir isso sem retaliar e eles têm o poder de fazê-lo, portanto é uma briga injusta.

A Amy Webb é uma especialista em estudar as tendências que nos impactarão num futuro próximo em diversas áreas, como tecnologia, inovação, mídia e jornalismo. No seu livro The Big Nine, ela fala a respeito do poder e do controle que as 9 maiores empresas de tecnologia podem exercer no Mundo.

Ela dá um nome interessante aos grupos: a G MAFIA seriam os titãs americanos (Google, Microsoft, Amazon, Facebook, IBM e Apple). Outro grupo é a CHINA BAT, que tem as inicias dos titãs chineses: Baidu, Alibaba e a Tencent.

O subtítulo do livro da Amy já dá uma boa pista da visão dela “Nove empresas podem controlar o nosso futuro. Será que podemos esperar o caos ou um mundo melhor?”. Ela fala mais a respeito do uso da inteligência artificial e os impactos positivos e negativos que podem ser gerados.

Achei interessante como ela dividiu os atuais titãs em 9 empresas, divididas em duas nações. Ela demonstra uma preocupação sobre a China engolir a América, o que é outro assunto, mas o termo The Big Nine, e o nome dos grupos é uma sacada interessante e torna bem fácil de memorizar. Em comum com o tema que trato aqui, é o receio do alcance que o poder ilimitado dessas corporações e suas possíveis consequências.

São famosas as histórias de ações antitruste feitas contra grandes companhias de software no passado. O artigo do New York Times relembra que foi pela via judicial que a IBM deixou de fechar, em venda casada, o hardware junto com o software, e além disso a IBM parou de querer verticalizar toda a produção. A consequência direta foi o nascimento da Microsoft e da Intel, que lideraram o fenômeno do computador pessoal.

Também é creditada à ação antitruste o fato da Microsoft diminuir a agressividade contra Startups, e isto permitiu o aparecimento do Google, mais precisamente isso impediu que a Microsoft sufocasse o Google em seus primeiros anos.

Mais recentemente, é famoso o escândalo da Cambridge Analytcs e suas implicações na eleição americana, que levaram o CEO Mark Zuckerberg a ter que prestar vários depoimentos ao senado americano.

O próprio Google já foi condenado em ações antitruste pela comissão europeia. O NYT comenta que a multa de 2.7 bilhões foi a maior penalidade já aplicada na história da comunidade europeia.

Isso acendeu uma luz amarela no vale do silício. O exemplo pode ser seguido na américa e a G MAFIA começa a se mexer para evitar maiores danos.

Há sinais claros que o tema ainda vai fornecer os próximos capítulo. O Primeiro foi o anúncio da senadora Elizabeth Warden, pré candidatada pelo partido democrata à presidência. Ela escolheu como tema de campanha uma cruzada antitruste para quebrar em múltiplas empresas a Amazon, o Facebook e o Google. Não sei se ela tem chances na corrida presidencial, mas o fato dela ter essa bandeira nos dá uma pista que os ventos estão mudando.

Outro sinal claro é a nova lei de direitos autorais aprovada pela comissão europeia. Você pode ler essa notícia neste link. O Google será afetado por isso e já acusou o golpe. O trecho abaixo desse artigo é bem esclarecedor.

“A Alemanha e a Espanha fizeram experiências em relação aos direitos das editoras.

O Google foi forçado a fechar seu serviço noticioso na Espanha

quando o direito autoral foi introduzido em 2014 e foi alertado de que

seu modelo de negócios estará ameaçado sob as regras da União Europeia”.

O Google removeu em maio de 2018 o seu lema não oficial “Don’t Be Evil” (não seja malvado) de seu código de conduta. Parece que essa revisão de valores não veio numa hora apropriada.

Nuno Figueiredo

Engenheiro Eletrônico formado pela Mauá, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, é um dos fundadores da Signa, onde atua desde 95. Entre outros defeitos, jogou rúgbi na faculdade, pratica boxe e torce pelo Palmeiras.

Foto: Freepik

 

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Ultimos comentários

Reinaldo Lima Barreto

Bela dissertação sobre o assunto tecnologia, realmente não sabemos onde vamos para, uma coisa é certa, se isso não tiver um freio as pequenas e médias empresa vão virar escravas desses grandes conglomerados. Reinaldo