Esse é o futuro, mas de que ano estamos falando?

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Nuno Figueiredo

29 de out de 2018

· 7 min de leitura

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tecnologia
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O Mário Sérgio Cortela costuma comentar que a ovelha Dolly foi clonada em 1996, e lá se foram mais de 20 anos. O primeiro cachorro foi clonado em 2005, e em 2018 a Barbra Streisand clonou seus dois cachorros. Nos EUA há empresas que oferecem o serviço pela bagatela de US$ 50 mil. Este serviço, em breve, estará em algum pet shop perto de você. Sim, mas quando? Isso é agora, no ano que vem ou daqui a dez anos? Este é o ponto. Quando uma tecnologia se torna algo dentro da nossa realidade e, portanto, vem a interferir em nossos negócios, quando temos que fazer algo a respeito?

Toda a tecnologia inicia de forma incipiente e restrita. Ela vai tomando forma e se tornando algo presente no mundo real. Surgem os primeiros casos de sucesso, normalmente em algum lugar longínquo, lá no primeiro mundo. Você ouviu falar que a Amazon está fazendo isso, que o Alibaba tem um projeto piloto rolando na China. Com o tempo isso se transforma em algo local, perto de você, como o uso de drones, por exemplo.

E de repente há um boom, e isso vira algo normal. Em alguns casos, como o drone, além das aplicações comerciais, vira um brinquedo.

Até onde o Supply Chain já se beneficiou destas novidades? Aqui se aplica a metáfora do copo com água até a metade. Você pode olhar para a metade cheia e constatar que houveram avanços significativos ou olhar para a metade vazia e achar que estamos ainda no século passado.

Soluções WEB que podem ser acessadas de qualquer lugar já não é algo novo. Já não se usa mais, ou não deveria usar, impressão matricial. Aliás, deveríamos operar sem papel, mas isso, até por exigência legal, ainda não é possível. Este é um dos entraves para uma melhor automação: a regulação. Temos a nota fiscal eletrônica (NF-e) e o conhecimento eletrônico (CT-e), mas temos que imprimir o documento em um papel (DANF-e ou DACT-e) e o comprovante de entrega ainda requer legalmente um carimbo e uma assinatura do recebedor.

Os veículos rastreados já são commodity, alguns usam dois ou três rastreadores simultaneamente, há uma vasta gama de APPs que permite o tracking e o tracing em tempo real, e é possível prover informação, tirar foto do comprovante de entrega e colher uma assinatura digital.

Na metade vazia já sabemos que o futuro é o Blockchain, o uso de IOT (internet das coisas) e a exploração das informações num grande Big Data. Isso é para quando? Bom, segundo o Nick Vyas, esse futuro já chegou, já é presente e em breve estará aqui perto de você. Você pode ler uma entrevista dele neste link.

E como está o mercado brasileiro em relação a isto? Como bem diz o Nick, ainda há muita fricção. A integração entre os players ainda é complicada; o padrão de troca de informações entre Embarcadores e Transportadores ainda se baseia em arquivos EDI, que são arquivos texto que seguem um layout padrão. O EDI é da década de 1980!

Há um extenso uso de Web Services e APIs, mas cada empresa tem o seu e em cada projeto há tarefas de integração, que normalmente respondem pela maior parte do cronograma de implantação. Soluções que não primam pela capacidade de se comunicar com o mundo externo, seja pela sua arquitetura, seja pela tecnologia usada, não raro não permitem integrações completas e 100% confiáveis.

Hoje há APP para tudo, mas cada um tem o seu. Ao invés de resolver, ele agrega mais uma camada a ser integrada. Você pode usar o APP recomendado pelo Embarcador, mas e se o transportador usa o seu? O motorista vai usar dois? Aqui é um jogo de poder. Dependendo do porte dos envolvidos a decisão será diferente. O recomendado é haver opções: use o APP ou envie as informações em tempo real por uma integração e voltamos na fricção.

Falando do IOT, você certamente já ouviu falar de RFID, assim como é muito provável que você não conheça a fundo esta tecnologia. Você deve ter ouvido falar que é muito interessante e que ainda tem um custo limitante e, muito provavelmente, não tem planos de usar isso num horizonte de dois anos. Se você não se enquadrou nesta descrição, parabéns, você é um early adopter.

E se eu te contasse que isso já está em uso no Brasil? Se você estiver em São Paulo, você pode dar um pulo no Shopping Morumbi e visitar a loja da Hering. Todas as roupas, não só as disponíveis na loja, mas também as do estoque possuem um tag RFID. A loja sabe, em tempo real, o seu estoque. Se você entra no provedor com 3 itens, uma antena no teto do mesmo reconhece que itens você está experimentando.

Uma tela touch screen em LCD sugere que a camisa que você pegou está disponível em outras cores, ou ainda, que há uma calça que combina bem com ela. Se por engano você sair da loja com algum item não comprado, novamente o RFID vai ser lido e vai disparar um alerta. Você pode ler mais a respeito neste link.

E como fica a cadeia de abastecimento? Bom, eu tive a oportunidade de visitar o CD de um dos maiores varejistas do país há alguns dias. Me chamou a atenção que as mercadorias direcionadas para uma determinada doca para a coleta pela transportadora passam por dois processos de conferência. No primeiro, um funcionário do CD confronta os volumes com as notas e confere tudo. Quando ele termina entra o motorista e um conferente da transportadora e estes fazem exatamente o mesmo processo. Isto leva cerca de 4 horas. E a confiabilidade depende do cuidado dos recursos envolvidos. O ônus, é claro, fica do lado mais fraco. Se, ao descarregar o veículo na transportadora, for percebido que algo sumiu, o custo é da transportadora que conferiu e aceitou que estava carregando aqueles volumes. O uso do RFID faria essa conferência ser feita em alguns segundos.

Normalmente o transportador entra com as cargas no seu CD, emite a documentação e etiqueta novamente todos os volumes. A mercadoria vai entrar num segundo veículo e novamente há a conferência de volumes na carga e depois na descarga. Este processo ocorre no mínimo duas vezes, mas pode ocorrer mais vezes, se houver transferência, cross docking, reentrega ou devolução.

Grandes empresas de carga fracionada possuem um departamento que gerencia as perdas e extravios. Este é um ponto crítico. Há tecnologia disponível e acessível para resolver de forma eficiente o problema. É mais uma questão de visão do que de tecnologia. Mais do que agilizar a conferência e garantir a acuracidade, o RFID dá um identificador único a um produto, é o CPF dele, o torna identificável e rastreável ao longo da cadeia. A primeira etiqueta de RFID foi patenteada em 1973, hoje ela custa de R$ 0,20 a R$ 0,30 centavos, o que já permite o seu uso em uma ampla gama de situações.

A boa notícia é que vários Embarcadores estão em projeto piloto no Brasil neste exato momento para uso desta tecnologia. A notícia ruim é que os operadores de transporte não estão dando nenhum passo nesta direção, com rara e honrosa possível exceção, se houver.

Se você precisar de ajuda no uso desta tecnologia, entre em contato, nós podemos ajudar.

Finalmente o Nick Vyas pega num ponto essencial do processo: os humanos também causam fricção. Mais do que tecnologia, é preciso pessoas que a entendam e saibam usar com eficácia. Não raro, as pessoas não foram preparadas, e não estão prontas para conviver com uma nova tecnologia. Falamos a respeito disto no post sobre PeopleWare.

Não sei dizer quando a oferta de clonagem de Pets vai chegar aqui. Sei que o agronegócio tem casos de sucesso no uso de Blockchain para rastrear o gado. Por exemplo a solução da Le Bov. E afirmo que o RFID já é algo que saiu do futuro e já está ao seu redor há algum tempo, por exemplo no Sem Parar. A tecnologia amadureceu e se tornará commodity em breve.

 

Nuno Figueiredo

Engenheiro Eletrônico formado pela Mauá, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, é um dos fundadores da Signa, onde atua desde 95. Entre outros defeitos, jogou rúgbi na faculdade, pratica boxe e torce pelo Palmeiras.

Foto: Freepik

 

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Ultimos comentários

Viviane Rosa

Ótimo texto, e o mais bacana é poder aprender um pouco mais. Parabéns!