Desvio de Rota

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Nuno Figueiredo

25 de ago de 2021

· 4 min de leitura

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Por que os casamentos acabam? Existem várias respostas, mas a priori, quando isto ocorre temos um desvio de rota. Um casamento é constituído (ou pelo menos assim deveria ser) para que duas pessoas formem uma família e para que fiquem juntas, até que a morte os separe. Pelo menos é isso que juramos no altar. Um projeto de longo prazo, que dura até a velhice. Quando isso acaba, seja lá porque motivo for, salvo o originalmente previsto, temos um desvio de rota.

Por que a segunda grande guerra começou? O fato marcante foi a invasão da Polônia: assim que os alemães invadiram a Polônia, a França e a Inglaterra declararam guerra em defesa da soberania e liberdade polonesa. No final do conflito a Alemanha foi derrotada e a Polônia foi anexada ao império soviético. Independente dos vários fatores que devam ser considerados, novamente temos um desvio de rota. O objetivo inicial foi esquecido e 70 milhões de mortos depois, talvez caiba questionar: por que mesmo entraram em guerra?

Por que uma grande multinacional encolhe de tamanho? As empresas também perdem o rumo. Por exemplo, a AMD, multinacional fabricante de semicondutores e forte concorrente da Intel, vive uma fase de reformulação após 13 trimestres consecutivos de prejuízos. O vice-presidente corporativo e gerente geral para as Américas, Chris Cowger, em entrevista ao Valor, concordou que a companhia perdeu algo no caminho. A empresa hoje é bem menor do que já foi no passado. Notadamente houve um desvio de rota.

A verdade é que o dia a dia nos consome. São problemas para resolver, contas para pagar e existem muitas distrações que nos absorvem de uma maneira tal que saímos da direção do nosso carro e tomamos o assento do carona. Já não direcionamos, mas ainda vemos para onde estamos indo. Num segundo momento parece que vamos para o banco de trás e simplesmente nos desligamos do rumo, vamos tocando a vida, até que num belo dia notamos que não estamos no lugar onde deveríamos ou pretendíamos estar. A gente perde o rumo porque simplesmente não nota onde se iniciou esse desvio de rota, parece que nos teletransportamos para o lugar errado.

Em projetos então, nem se fala. Como um projeto atrasa um ano? Na verdade, ele chega a um ano de atraso um dia de cada vez. São decisões tomadas no calor dos acontecimentos, ao sabor das novidades. Sem os objetivos que o conceberam claramente conhecidos e oportunamente lembrados, quanto maior o tempo e a complexidade, maior a chance de haver um desvio de rota.

Temos somente que ter uma importante ressalva em mente. O mundo muda e as vezes, a necessidade de se adaptar a novas condições e restrições gera mudanças importantes que requerem uma reavaliação de objetivos. Nada impede que se mude um objetivo, desde que exista uma decisão consciente a respeito.

Há uma grande diferença entre uma mudança planejada e pretendida e um desvio de rota. Tudo é eterno enquanto dura e se após alguma reflexão se chega a conclusão de que é necessário mudar, ok, apenas isto deveria ser um ato consciente. Nada contra a mudança, apenas contra o desvio não intencional.

Pessoas, empresas e nações podem perder o rumo e desviar de rota. Nem sempre isto é notado. Quando se percebe, os objetivos originais foram perdidos, e vamos ao sabor do vento ou como diz o Zeca Pagodinho, "Deixa a vida me levar". Infelizmente nem sempre somos levados para o lugar certo.

 

Nuno Figueiredo

Engenheiro Eletrônico formado pela Mauá, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, é um dos fundadores da Signa, onde atua desde 95. Entre outros defeitos, jogou rúgbi na faculdade, pratica boxe e torce pelo Palmeiras.

Foto: Freepik

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Ultimos comentários

Hélio

Verdade.

eduardo.marinho@orthometric.com.br

Muito boa reflexão!!

Daniel de Mello Oliveira

Nuno, Suas palavras me levam a uma definição que carrego comigo: entregue seu projeto como foi concebido, coloque em "operação" e depois começe a falar de melhorias/ mudanças. Sem um referência clara do novo cenário, tudo caminha sobre a palavra "potencial". O ciclo PDCA normalmente não completa uma volta completa nos casos onde a condução não é efetiva.

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