Torne-se Inútil

Foto do autor do post Nuno Figueiredo

por

Nuno Figueiredo

07 de jan de 2019

· 4 min de leitura

· 4 min de leitura

inútil
Foto do post Torne-se Inútil

Que tal um novo objetivo na sua carreira? A minha dica é: torne-se inútil! Simples e eficaz, e como sempre, fácil de falar e difícil de executar. Calma, eu não estou dizendo para você se tornar imprestável, somente inútil. Pelo Michaelis, inútil é aquele que não tem utilidade, desnecessário, sem préstimo. Parece ser um péssimo negócio fazer isso, porque tornar-se desnecessário é um convite para perder o emprego, certo?

Tudo depende de como você encarar a tarefa e, principalmente, de como você a vai executar. Vamos de cima para baixo. Se você é o dono da empresa, esta deveria ser uma das suas metas. Eu ouvi de um experiente avaliador de empresas e divido com você: se a sua empresa depende de você (o dono) para operar, ela não vale nada. A lógica por trás disto é que se você não conseguiu organizar a forma de trabalho, os processos e as pessoas que colaboram na sua organização para que toquem o barco sem você, logo, se você enfarta ou resolve ir pescar, a sua empresa para de funcionar; logo, ela não é algo de valor.

Para um diretor ou um gerente, tornar-se inútil é montar equipes que funcionem. Novamente significa organizar uma forma de trabalho onde tudo possa fluir independente da pessoa que executa. Não se trata de anular talentos, é justamente o contrário. É delegar, ensinar as pessoas a correrem riscos controlados, a serem proativas, a pensarem no cliente, nos custos, na receita, no acionista. A seguirem metas, a terem a coragem de errar e aprender com os seus erros e evoluírem. Uma orquestra ensaiada tantas vezes, que funciona perfeitamente e de tal forma, que não se nota a ausência do maestro.

Claro que você não vai sumir, apenas vai se afastar um pouco do dia a dia e vai atuar de forma mais tática e estratégica. E você vai se envolver mais com o mercado, com os clientes, fornecedores, parceiros, enfim, ao tornar-se inútil, aparecem tempo e oportunidade de inovar, de fazer novos negócios. E de diminuir a carga de quem está acima de você, puxando para si mais tarefas e responsabilidades, ajudando o seu superior a tornar-se inútil.

Descendo um pouco mais, fica mais difícil tornar-se completamente inútil, mas é a melhor forma de subir nos degraus corporativos. Significa dominar a sua função de uma forma que você esteja "sobrando na caixa", ou seja, desenvolveu um potencial e uma capacidade de agregar mais do que a sua função atual permite, e conseguiu fazer isto ser percebido. Para se tornar inútil, no entanto, é necessário que alguém assuma a sua função atual.

Algumas tarefas podem ser melhoradas, podem ficar mais enxutas. Alguns processos que não agregam valor podem ser eliminados, mas sempre haverá a necessidade de executar tarefas. A melhor forma de se tornar inútil é ensinar os outros. Disseminar o conhecimento. Se você é a única alma na empresa que sabe executar uma determinada tarefa, você será submetido a uma tortura chamada de "competência punis", ou seja, só você sabe fazer isso, logo você vai morrer fazendo isso.

Até onde você pode chegar? Não tenho essa resposta. Alguém já disse que o limite do nosso crescimento é o limite da nossa competência. E a competência vem de estudar e praticar muitas e repetidas vezes, até que se domine algo de uma forma tal que seja possível passar para o próximo estágio ou para o próximo passo.

O mais normal, no entanto, é pensar que quanto mais necessário eu sou, maior o meu valor. Existem pessoas que escondem o jogo, que não passam conhecimento ou passam o mínimo necessário. Acham que isso é garantia de emprego ou de reconhecimento. Às vezes dá certo, mas não é o melhor para o departamento, nem para a empresa.

Quem você manda fazer um novo curso: o João que aprende e senta em cima de seus novos conhecimentos ou o José, que terá prazer em dividir com os demais e, ao fazer isso, também aprender? O José tem o perfil de quem se tornará inútil. O João é aquele que parece ser muito útil, só não se sabe para que ou para quem.

 

Nuno Figueiredo

Diretor Comercial
Signa Consultoria e Sistemas

Foto: rawpixel

 

3

Ultimos comentários

Alexander Marra Moncks

Interessante ponto de vista, parece-me muito com o ócio criativo utilizado pelos Headofficers de marketing, o ponto mais crítico neste quesito é realmente deixar a direção nas mãos de outras pessoas, a tentação de retomar as rédeas é grande, neste ponto, ir para outro desafio que ocupe o tempo faz-se muito necessário.

Viviane Rosa

Esse texto vai além so meio corporativo, é possível levar para a vida pessoal. Ótimo texto!

Denilson Ramos

Gostei muito do texto, mas no final dizer que é defeito torcer para o Palmeiras, rsrsrs

Exibir mais comentários